20 de out. de 2007
A partida dos Pássaros
A Poesia do Canto
Cascais – FNAC, dia 17, uma sessão de canto numa (mais uma ) apresentação do Canto de Intervenção 1960-1974, terminando com “Ronda Campaniça”, uma canção de amor ao som da viola daquela (minha) região do Alentejo onde a planície se encontra com a serra, tema do novo disco de amigo, irmão mais velho, Francisco Naia , de Sol a Sul, a sair em breve…
A Poesia da Palavra
Almada, dia seguinte, depois de um breve jantar mas caloroso com Hugo Santos, o mestre da poesia às vezes em prosa mas sempre poesia das secretas vivências da vida nos campos do Sul, tantas vezes na raia, o mestre e amigo Hugo Santos recebia 15 anos depois, de novo o Prémio Literário Cidade de Almada e… de súbito irrompe a voz e o gesto do seu amigo diseur Jorge Lino, fazendo a síntese da palavra, porque a poesia deve ser dita (e cantada) assim para se cumprir plenamente…
E depois será o encontro com o mestre da síntese da civilização da nossa memória, identidade de gentes do Sul, Cláudio Torres, o sábio amigo. Será no próximo mês em Badajoz, no “II Encontro Transfronteiriço de Revistas de Cultura”, onde Portugal se faz representar por Cláudio Torres, Joaquim Saial, o amigo director da Calliopole e este vosso escrita, escravo, “senhor”…. onde também se realiza um recital evocativo de “José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e outros cantores de intervenção”, com base no livro referido, que apresento e, na voz plena de Francisco Naia e nas guitarras clássicas de José Carita e também campaniça de Ricardo Fonseca.
E será a redacção da tese… e
…e tempo para intervalo, aqui neste espaço de partilha de paixão pela vida e pela poesia… curto?… longo?… sem regresso?… quem sabe?...
é tempo…
da partida dos pássaros
são tão alegres os pássaros, rodopiam numa dança infinita, extasiados, tão cheios de vida, de contentamento.
felizes e libertos bebem sôfregos abençoados os momentos únicos, plenos, inimagináveis, efémeros, eternos! sublimes!... a felicidade!!!…
os pássaros não se deixam agrilhoar, engaiolar, prender, dominar, domar, pactuar!...
são tão felizes os pássaros!
tão parcos de haveres… tal ânsia de liberdade desmedida, infinita mesmo… liberdade perfumada, apaixonada!...
…e partem!
partem agora que se avizinha o fim das noites amenas
os pássaros partem!
os pássaros partem cheios de paz e harmonia…
o céu é o seu tecto…
o Sol e a luz seus irmãos … de viagem… de chegada…
talvez voltem
com a luminosidade dos campos de papoilas para nelas se banharem, lânguidos, sensuais, se amarem…
Talvez quando as laranjeiras florirem de novo… voluptuosos… apaixonados…no seu perfume…
…ou talvez não… não voltem mais… nunca mais!...
… a sua liberdade não é mensurável… não tem preço!…
São tão felizes
Os pássaros
São livres!
São os pássaros do Sul!...
17 de out. de 2007
Não matem os Poetas!
Entro no carro, ligo o rádio e... oiço falar de Adriano. De como supostamente agora chegará aos mais jovens com as edições, tão tardias, da sua obra e de um projecto com jovens músicos e intérpretes, denominado Tributo. E fala da modernidade da sua obra, de como a sua voz limpida e bela levou a poesia de Manuel Alegre ao grande público e passam um tema belo, muito belo, da autoria de um poeta medieval, João Roiz de Castelo Branco, trovador como o Adriano foi, no dizer de Alegre, "Trovador dum tempo novo". Um tema que justamente dão como exemplo da modernidade em Adriano
Senhora, Partem Tão Tristes
Senhora partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem
Senhora partem tão tristes
Meus olhos por vós, meu bem
Que nunca tão tristes vistes
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém
Outros nenhuns por ninguém
Partem tão tristes, os tristes
Tão doentes da partida
Partem tão tristes, os tristes
Tão doentes da partida
Da morte mais desejosos
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida
Cem mil vezes que da vida
E recordo, faz em Novembro 25 anos, numa sessão política, perante a estranheza da assistência, evoquei Adriano e li algo intitulado "Adriano, o Poeta", que terminava "Morreu de Amor, o Adriano". De Amor pela verdade, de Amor pela Vida, regressou à sua quinta de Avintes, a bordejar o Douro, partiu cansado... talvez de viver no meio da hipocrisia, da mentira, da ignomínia, da baixeza, da mediocridade, do espírito miudinho e tacanho que do Estado Novo perdurou e... hoje está de novo vivo empunhado pelos "Pequenos deuses caseiros", os pequenos títeres, que tentam sublimar as suas frustrações, as suas vivas pardas, desinteressantes e infelizes agrilhoando, pressionando, amordaçando quem almeja ser livre, tentando assim amedrontar, subjugar, fazer desistir... como se isso fosse possível!
Acordai! É tempo de acordar almas livres e puras. É tempo de passar do pensamento aos actos. É tempo de enfrentar a mediocridade. É tempo de dizer, de falar, de fazer bem alto! aos velhos do restelo, aos que nos querem chupar o sangue apenas porque não abdicamos do absoluto: Não permitiremos mais que matem os Poetas!
9 de out. de 2007
O Festival do Amor... a beleza da Amizade... a Sabedoria de saber subir a montanha!
No mesmo dia em que assinalava mais uma passagem do 5 de Outubro de 1910 fomos encontrar o nosso amigo Alex Pirata em mais uma sessão de divulgação do suave mel e das suas abelhinhas; deste vez foi na ARPI de Fazendas do Cortiço – o local certo – muito perto de Montemor, junto à estrada para Brotas, entre música, um aconchegante chá – das cinco – dança, convívio… este que se prolongou na sua casa, pela noite dentro, saboreando o divino licor de poejo com que a senhora sua mãe nos presenteia, a nós simples mortais, e sempre com a alegria contagiante desta amigo puro e ainda na companhia de outro grande amigo, o Manel Casa Branca - onde somos habituées no seu atelier/galeria 9ocre e… na sua casa.










Aprendi que todo o mundo quer viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a escarpa
Não serás recordado pelos teus pensamentos secretos. Pede ao Senhor a força e a sabedoria para os expressar
25 de set. de 2007
o desafio primordial... ou o feitiço da lua...





... e num dia solar ensolarado telefonou-me o amigo poeta de Campo Maior, Hugo Santos, e convidando-me para a entrega do Prémio Cidade de Almada a ... si próprio, 15 anos depois de ter sido já vencedor, o poeta amigo, avô do António Urbano, o bébe lindo que ilumina, com sua mãe, os dias do Mestre amigo Urbano...

... foi nesse dia, domingo solar em que, peito aberto aceitei o desafio do mar, quando me senti de repente arrastado dentro de uma corrente, sem nada perceberem os surfistas próximos, afinal era o único nadador... e por alguns segundos, minutos?... senti-me a caminhar para dentro do mar, vi-me menino no meu início de mim... de mão dada com uma menina... menina irmã gémea, irmã de sangue, minha alma e... depois aceitei o desafio e, no meu cavalo de vento, lutei pleno, desafiante da imensidão do mar, lutei poderoso em cada gesto e lentamente, muito lentamente comecei a vencer a corrente e ... já muito perto dos rochedos deixei-me planar nas rebentações fortes e... num ápice estava na praia... exausto mas... sorridente, sorridente para os banhistas que só se arriscavam na areia, ignotos da estranha magia acontecida, e os surfistas, , indolentes, jovens aborrecidos enfastiados da monotonia dos dias vazios nos seus fatos e pranchas sofisticados... e caminhei de cabeça erguida no desafio de mim próprio, leve como o vento e... uma gaivota passou e sorriu... seguia com olhar e... foi veloz, veloz para o mar ... onde vi sorrisos... logo não acreditei... mas eram para mim, feiticeiras vindas dos confins do mar sorriam para mim... e... continuei a caminhar, cabeça erguida, quase levitando no areal, no caminho da Verdade olhando de frente o Sol, o irmão Sol... mas ele também me sorria... então em extase enfeitiçado compreendi que soubera vencer o impossível... mas nada é impossível... soubera, frágil e poderoso, porque crente na justeza do caminho... conquistar o respeito da suprema mãe-natureza, enfeitiçado de luar ... irmão Sol, irmã lua...
19 de set. de 2007
A Harmonia da Luz... "Eu quero toda a luz que o sol me traz quando nos vemos"




era de Paz, de Harmonia, não de exclusão, , não de confronto, mas de compreensão com os Irmãos e com as Irmãs que ainda conseguiram enfrentar-se a si próprios e se refugiam no medo - no medo de si próprios, pois afinal a maior cegueira está em quem não quer ver a Luz, a sua Luz e assim não percorrem o caminho que conduz à Felicidade, negando-a a si a quem está fisicamente próximo...

15 de set. de 2007
"Vemos, ouvimos e lemos" ou o sorriso da não-violência


14 de set. de 2007
Vemos, ouvimos e lemos... um homem de Paz que está em Portugal. Dalai Lama, que perante a hipócrisia dos governantes deste país perante os actuais mandarins de Pequim, disse com aquele enorme simplicidade que o caracteriza:
"Não quero embaraçar ninguém. A minha visita não é política, é espiritual...vim com o meu sorriso. É tudo ."
e disse mais
"Precisamos de promover o diálogo espiritual. A paz é a solução, a não-violência."
Dalai Lama disse as palavras certas.
Recordei o lançamento 1 ªedição do Canto de Intervenção,em 2000, no Museu República e Resistência, onde consegui reunir dois amigos que andavam desavindos há muitos anos. Já disse várias vezes que foi o que me deu maior prazer, e os amigos que já me apresentaram o livro, que souberam conhecer a minha entrega e o meu gozo a este trabalho sabem do que estou a falar ...
Recordei o passado ancestral onde me revejo: a palavra, a beleza da palavra, o saborear da palavra escrita, o som da voz elevando-se ao encontro do Sol e da lua, a palavra certa, a palavra do olhar e do gesto, das mãos...
Há muito que recusei a inútil virilidade das armas... um dia, há mais de 30 anos quando um pardal me olhos nos olhos... preso numa armadilha... senti-me estranho... e resolvi enfrentar-me a mim próprio... devolvi-lhe a liberdade que nunca lhe devia ter tirado, não tinha esse direito!... o pardal partiu livre e feliz e eu com um sorriso... menino ainda senti-me um homem... um homem de corpo inteiro....
Neste mundo de guerras, ódios, destruição e hipócrisias, neste mundo, que "Vemos, ouvimos e lemos" há que lutar, lutar pela Paz, pelo diálogo, há que recusar a violência das armas, de todas as armas... com a beleza da poesia... com um sorriso!...
10 de set. de 2007
... regresso à Terra... ao Cante e ao Canto!...
"Através do teu coração passou um barco
Que não pára de seguir sem ti o seu caminho"
Sophia
Grão de Mar
Lá no meu sertão plantei
Sementes de mar
Grãos de navegar
Partir
Só de imaginar eu vi
Água de aguardar
Onda me levar
E eu quase fui feliz
E o mar ficou
Lá no sertão
E o meu sertão
Como o amor que encontrei
O amor de aguardar
Amor que existe em mim
Como no sertão de Bethânia o Mar ficou em mim... de regresso à Terra, ao Cante, ao Canto...








aqui, onde o silêncio só é entrecortado pelo vento e rodeado ao longe pelas serras de Montejunto, dos Candeeiros e de Aire, certamente o local perfeito para fazer um piquenique...
30 de ago. de 2007
Mares do Sul...




reencontro o silêncio na fala das gaivotas, na voz do Mar….







Nele cheguei à tenda do beduíno Abdul que me ofereceu chá de menta…

Nele recordei um fim de tarde de Primavera quando o Cônsul de Marrocos me confidenciou que um dia, há muito tempo, estando o Manuel Alegre em Argel, ele José Alberto Alegria e o Francisco Fanhais passaram por Coimbra no dia do aniversário dele e ofereceram uma rosa à mãe de Manuel…

A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim
Corto Maltese, outsider dos mares, navegando às vezes sob o signo do Capricórnio.