10 de out. de 2009

D. Dinis-o Rei-Poeta ... ou o Poeta-Rei

Foi cognominado "O Lavrador" pelo impulso que deu a esta actividade, assim como a criação do pinhal de Leiria, que ainda se mantém, de forma a proteger as terras agrícolas do avanço das areias costeiras.



D. Dinis organizou o reino, ordenou a exploração de minas e fundou as bases para uma verdadeira marinha portuguesa ao serviço da Coroa. Redistribuiu terras e fundou várias comunidades rurais, assim como mercados e feiras, criando as chamadas feiras francas ao conceder a várias povoações diversos privilégios e isenções.



Salvou a Ordem dos Templários em Portugal através da criação da Ordem de Cristo em Tomar. Assinou um tratado com o papa Nicolau III e a paz com Castela, desistindo duma guerra em troca das vilas de Serpa e Moura.



A sua prioridade governativa foi essencialmente a organização e a administração do reino e não a guerra. Continuou a vertente legisladora de seu pai D. Afonso III, a profusa acção legislativa está contida, hoje, no Livro da Leis e Posturas e nas "Ordenações Afonsinas" - não são "códigos" legislativos tal como os entendemos hoje, mas sim compilações de leis e do direito consuetudinário municipal, alteradas e reformuladas pela Coroa.



O reinado de D. Dinis acentuou a predilecção por Lisboa como local de permanência da corte régia. A articulação entre o norte e o sul do país - este sul que se torna alvo da maior atenção e permanência dos reis - fazem de Lisboa centro giratório para tornar Portugal viável.




Neto de Afonso X, "o Sábio", de quem terá herdado a sabedoria e a erudição, durante o seu reinado, Lisboa tornou-se um dos centros europeus de cultura. A Universidade de Coimbra, a primeira universidade em Portugal, foi fundada pelo seu decreto Magna Charta Priveligiorum, onde se ministraram as Artes, o Direito Civil, o Direito Canónico e a Medicina Mandou traduzir importantes obras, tendo sido a sua Corte um dos maiores centros literários da Península Ibérica.




Numa dinastia em que os cinco reis que o antecederam não seriam alfabetizados ele foi o Rei-Poeta ou o Rei-Trovador, grande poeta e trovador, autor 51 Cantigas de Amigo, 73 Cantihgas de Amor e 10 Cantigas de Escárnio e Maldizer, bem como a música original de 7 delas, inscrita num pergaminho que servia de capa a um livro de registos notariais do século XVI (descoberto ocasionalmente na Torre do Tombo, em 1990 pelo Prof. Harvey L. Sharrer)




D. Dinis , Rei-Poeta ou Poeta-Rei, foi claramente o rei mais culto e mais dotado da 1ª dinastia e o grande poeta da História da Monarquia Portuguesa - só tem paralelo com Almutâmide, o grande Poeta nascido em Beja e depois rei em Sevilha.



No passado dia 9 de Outubro completou-se 748 anos sobre o seu nascimento.

Nesse dia abrimos um belo tinto "Mouras de Arraiolos", reserva de 2006 e bebemos em homenagem a este homem brilhante e à beleza da sua Poesia - que nos recorda a beleza da Vida e de que queremos partilhar dois belos poemas: uma Cantiga de Amor e uma Cantiga de Amigo.





Uma Cantiga de Amor

Levantou-s’ a velida,
levantou-s’ alva
e vai lavar camisas
em o alto.
Vai-las lavar alva.

Levantou-se a louçana
Levantou-se alva
e vai lavar delgadas
em o alto.
Vai-los lavar alva.

E vai lavar camisas,
levantou’s alva
o vento lh’as desvia
em o alto.
Vai-las lavar alva.

E vai lavar delgadas
levantou-s’ alva;
o vento lh’as levava
em o alto.
Vai-las lavar alva.

O vento lh’as desvia,
levantou-s’ alva;
meteu-s’ alva em ira
em o alto.
Vai-las lavar alva.

O vento lh’as levava,
levantou-s’ alva;
meteu-s’ alva em sonho
em o alto…
Vai-las lavar, alva…

E uma Cantiga de Amigo, expressão pungente de saudade e de espera


Ai flores, ai flores do verde pino,
Se sabêdes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?


Ai flores, ai flores do verde ramo,
Se sabêdes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?

Se sabêdes novas do meu amigo,
Aquele que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?

Se sabêdes novas do meu amado,
Aquele que mentiu do que me há jurado!
Ai Deus, e u é?

- Vós me preguntades pelo voss’ amigo?
E eu bem vos digo que é san’, e vivo.
Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades pelo voss’ amado?
E eu bem vos digo que é vivo e sano.
Ai Deus, e u é?


E eu bem vos digo que é san’, e vivo.
E será vosc’ ant’ o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é viv’ e sano
E será vosc’ ant’ o prazo passado..
Ai Deus, e u é?

1 de out. de 2009

Sol de madrugada Flor de tangerina

Nestes dias decisivos, quase fatais, em que um gesto, uma resposta positiva ou não pode significar o êxito ou o fracasso de um trabalho longo de quase cinco anos, mesmo assim sinto uma estranha serenidade apoderar-se de mim - de aprendiz de feiticeiro - embora sabendo que o chegar a bom porto, se depende em muito de mim, não só de mim...

Manuel Amado



Dordio Gomes


Enquanto recordo uma ida breve a S. aleixo, Monforte, a uma apresentação informal da mais recente edição da Revista Memória Alentejana - que em breve divulgaremos - ou uma visita ao sumptuoso Palácio de D. Manuel, em Évora, onde está, até final do mês uma exposição itinerante de pintura sobre um século de pintura portuguesa, "arte partilhada millennium bcp", o espólio desta entidade bancária que origina uma excelente exposição, imperdível, com material de apoio para as escolas e um excelente catálogo da autoria da Prof. Raquel Henriques da Silva - que há muitos anos nos deu o grato prazer de ser a docente da cadeira de História de Arte que frequentamos na FCSH... - aqui, nesta cidade carregada de uma subtil arquitectura...



Júlio Pomar


Enquanto oiço L. Represas cantar como ninguém "Ser Poeta" em Florbela antes de com ele me encontrar ou saboreio a bela versão ao piano de"um redondo vacábulo" pelo João, sobrinho do Zeca, quando... de repente leio... de repente chega-me a voz do Zeca Afonso, talvez trazida pelo deuses, uma paz e serenidade imensa que me chega com...


Maria

Maria
Nascida no monte
À beira da estrada
Maria
Bebida na fonte
Nas ervas criada

Talvez
Que Maria se espante
De ser tão louvada
Mas não
Quem por ela se prende
De a ver tão prendada

Maria
Nascida do trevo
Criada na trigo
Quem dera
Maria que o trevo
Casara comigo

Prouvera
A Maria sem medo
Crer no que lhe digo
Maria
Nascida no trevo
Beiral do mendigo
Maria
Nascida no trevo
Beiral do mendigo

Maria
De todas primeira
De todas menina
Maria
Soubera a cigana
Ler a tua sina


Não sei
Se deveras se engana
Quem demais se afina
Maria
Sol da madrugada
Flor de tangerina
Maria
Sol de madrugada
Flor de tangerina

José Afonso