28 de jun. de 2016

“A Poesia é a Voz da Minha Alma”

Já passou um mês sobre esta data.
Todavia, porque foi um dia memorável, não quero deixar de o assinalar aqui nesta espaço de partilha mas onde não chega o mediatismo e uma certa exacerbada exposição que o face possibilita. Deixamos aqui um texto que corresponde, no essencial, ao publicado na recente edição de Junho do Jornal Folha de Montemor.



A Poesia é a Voz da Minha Alma
de
José Carrilho Raposo

Um Poeta repentista na diáspora

O poeta popular repentista José Carrilho Raposo acaba de lançar o seu primeiro livro de poesia,A Poesia é a Voz da Minha Alma”, uma edição de autor que teve o apoio da Câmara Municipal de Palmela, do Centro de Estudos Documentais do Alentejo-Memória Colectiva e Cidadania (CEDA) e da Junta de Freguesia de Pinhal Novo. A sessão de lançamento teve lugar dia 26 de Maio, no Auditório da Biblioteca Municipal de Pinhal Novo, onde usaram da palavra o Presidente da Câmara Municipal, Álvaro Amaro, o Presidente da Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Manuel Lagarto, o coordenador da edição, Presidente do CEDA e filho do autor, Eduardo M. Raposo, a Bibliotecária, Isolina Jarro - que apresentou e moderou a sessão – e ainda a poetisa Maria Vitória Afonso.
O coordenador do projecto fez o historial do projecto, as dificuldades superadas, agradecendo os apoios, nomeadamente aos irmãos Carlos e Ricardo – este ocupou-se da logística gastronómica - e o Amigo João Santos que paginou o livro, revelando-se um apoio decisivo para a edição nestes timings, bem como outras presenças e frisando, tal como o Presidente Álvaro Amaro, a importância de se ter reavido este feriado (do Corpo de Deus) roubado pelo anterior governo.













Seguiram-se os Jograis do Alentejo – Ana Neto, EMR, José Carita e Luisa Gonçalves que apresentaram pequeno excerto do espectáculo “Jograis do Alentejo cantam o Amor e o Vinho na nossa Poesia Lírica – séculos XI / XXI. Com interpretação cantada de “Senhora partem tão tristes” (João Roiz de Castelo Branco) e dita de “Credo” (Natália Correia) e “Conversão do primeiro canto d’Os Lusíadas (…) Vestidos do humano em o de-vinho por uns caprichosos actores” – Manuel do Vale, Bartolomeu Varela, Luís Mendes de Vasconcelos e Manuel Luís (séc. XVI), tendo iniciado com um poema do livro, uma bonita elegia aos animais “Tenho uma cadela preta e um gato branco” por Ana Neto.









 
Álvaro Amaro fez uma excelente apresentação, falou do autor que conhece desde sempre e de muitos momentos em que estiveram ambos no mesmo lado da barricada,  destacando o itinerário de uma vida que o livro patenteia, onde o Amor é uma marca que permanece: “O Amor à vida, à mulher, à família, à comunidade, às pessoas, aos idosos” e da postura disponível para participar no associativismo, nas lutas sociais, inclusive nas edições e tertúlias de poesia iniciadas no Pinhal Novo quando ele, Álvaro, era o Presidente da Junta, sublinhando que fizesse frio ou chovesse, quando outros com mais mobilidade ficavam em casa o José Raposo estava presente.
José Carrilho Raposo – que participou na tertúlia de poesia popular nas III Jornadas Literárias - emocionado disse umas breves palavras de agradecimento.
Francisco Naia cantou de improviso poemas do livro lançado e temas ligados aos caminhos-de-ferro, como um tema que não cantava há mais de 10 anos, desde que o cantou ao seu pai poucos dias antes deste falecer, que emocionou a assistência.
 Manuel Lagarto falou com emoção da importância da poesia na vida das pessoas e da sua relação com o autor, seu antigo colega de profissão, desde os tempos do namoro com a sua mulher. 
 
Mª Vitória Afonso elucidou a assistência da definição da poesia popular conforme Fernando Pessoa, intervenção que complementou muito bem as restantes.
 
Vítor Paulo maravilhou com a sua bela voz e a sua exemplar postura de músico profissional, interpretando temas do Zeca Afonso, do Cancioneiro Alentejano e terminou com um bonito tema que musicou de uma autora contemporânea, Alda Couto, “Desarrumaram-me a casa”.


Nesta animada sessão onde marcaram presença muitos familiares – filhos, noras, netos e bisneto - muitos amigos, nomeadamente dirigentes do CEDA – de que o autor é associado e foi grande activista – ou o Presidente Alma Alentejana, José Moutela que presenteou o autor com uma lembrança comemorativa dos 20 anos desta associação
Finalizou com todos os intervenientes em palco a cantar a “Grândola” e depois da habitual sessão de autógrafos seguiu-se um convívio enogastronómico com o autor, familiares e alguns dos intervenientes e amigos. 

                                          Fotos de João Santos
Também outros amigos, que pelas mais diversas razões não lhe foi possível estarem presentes, não quiserem mesmo assim deixar de enviar mensagens como foi o caso do académico e antigo DR do Ensino no Alentejo - e companheiro vice-presidente da MAG do CEDA - Bravo Nico, ausente em São Tomé e Principe, do Constantino Cortes - também dos Órgãos Sociais do CEDA - de Portalegre, do Ferraz da Conceição - secretário da MAG do CEDA - tal como José Francisco Colaço - ambos do Castro Verde e este também associado do CEDA tal como José Ventura Cruz Pereira, antigo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Odemira, em Milfontes, também antigo DR do Ensino no Alentejo e no Sul, ou do Augusto Lança, de Sines, da edil de Montemor-o-Novo, Hortênsia Menino, do Armando Correia ou da Ana Massas, de Almada ou do grande Amigo de infância, Mário João Ferreira, no Porto,

O autor e o livro

Como refere na contracapa, o autor nascido em 1936 em Foros de Vale Lobos, Alvaladade-Sado - no extremo dos Concelhos de Santiago do Cacém, Aljustrel e Ourique - filho e neto de trabalhadores rurais iniciou a labuta nos campos a part-time aos nove anos, enquanto tirava a 4ª classe e foi sucessivamente guardador de gado, trabalhador rural e servente de pedreiro a partir dos 12 anos.
Idas prolongadas a Sines, na infância, onde o tio era limpador de máquinas da ferrovia, levou-o a sonhar ser maquinista.
Ingressou nos Caminhos-de-ferro - CP aos 20 anos, depois fez estágio para factor, na Funcheira, então uma Estação modelo, onde conheceu a Esmeralda, o grande amor da sua vida e onde nasceu o filho Eduardo. Com a promoção a 2ª classe rumou à diáspora, estabelecendo-se no Pinhal Novo e posteriormente na Venda do Alcaide, onde nasceram os filhos mais novos, Carlos e Ricardo. Trabalhou nas estações de Setúbal, Pinhal Novo e Palmela. Perto dos 50 anos fez um novo estágio para Regulador e terminou a carreira a chefiar o Posto de Regulação do Barreiro, das linhas Sul-Sueste.
Foi activista e dirigente associativo – Comissão de Moradores da Venda do Alcaide, director da Associação de Reformados do Pinhal Novo, representante do MURPI na ARS de Setúbal, secretário da MAG do CEDA - militante do PCP desde 1974, o seu partido de sempre. Ao longo da vida conjugou uma postura ética e poéticas ímpares com uma inteligência superior desaproveitada, nomeadamente na matemática, fruto do atraso proporcionado pelo ultramontano consulado salazarista.
Desde cedo teve o gosto pela escrita. Este livro reúne uma parte das muitas centenas de quadras, sonetos, quintetos, estilhas que, enquanto poeta popular repentista escreveu ao longo da vida – em papéis soltos, guardanapos, grande parte deles irremediavelmente perdidos - sobretudo a partir de 1992, quando se aposentou.
Aqui encontramos ecos de uma tradição milenar mediterrânica de fazer da palavra falada arte do improviso, onde o amor, o sonho, as questões sociais e políticas, o trabalho e a natureza, mas também elegias ao 25 de Abril, aos Encontros do CEDA, às conquistas académicas do filho Eduardo e a muitos passeios, convívios de grupos de reformados e idosos - que sempre animava com a sua poesia.

O autor participou na colectânea Os dias do Amor, Um poema por cada dia do ano, dirigida Inês Ramos, que reúne 365 poetas de todas as épocas e latitudes que escreveram sobre o Amor (2009) bem como nas 12 edições da Colectânea Encontros de Poetas Populares editadas pela Junta de Freguesia de Pinhal Novo e viu ainda diversas poesias suas publicadas na Revista Memória Alentejana, entre 2001 e 2015.


Em breve queremos deixar aqui a partilha do último aniversário do Roque, a 21 de Junho, do espectacular fim de semana passado no Porto, 10 dias antes, nós e a Anita com os Amigos Mário João e Fátima e ainda, breves pinceladas de duas viagens, ainda em Maio, uma delas no início do mês, nós - com o Roque a Almourol, Constância e Rio de Moinhos e outra, mesmo no fim do mês, só com a Anita ao mar de papoilas que então cobriam o chão dos  castelos de Juromenha, Terena e as flores de esteva na Serra d' Ossa.