O Cante na Diáspora
Revista Memória Alentejana
tema da última edição, nº duplo 35/36
Alentejanos de Almada
Alentejanos do Mundo
É com emoção que fomos
recebendo dia após dia os testemunhos sentidos dos homens e das mulheres que sentem,
amam, vivem e cantam apaixonadamente o Alentejo através dessa forma
antiquíssima de colectivamente dizer Alentejo, porque - citando Pedro Ferro,
artesão do efémero da escrita, que nos dizia, da Vidigueira num texto
lindíssimo intitulado “Catedral” – “o Alentejo não canta com sentido de cantar:
o Alentejo diz. E põe alaúdes na voz para dizer.” E conclui: “Fá-lo ao
anoitecer, na hora subsolar e sublunar de um tempo que pára para o escutar. Ao
anoitecer. Quando envolvem o canto como naves de catedral.”
Esta edição é dedicada
a esses homens e essas mulheres que a vida difícil e a rudeza dos campos
obrigou à despedida da Terra amada, “Abalei do Alentejo”, com as saudades que
vão marcar as décadas, tantas, décadas demais longe da Terra, num vida, nem
sempre fácil, na grande cidade, nas margens do grande rio, o Tejo, que separa o
Alentejo do resto do país. Vida de muito trabalho nas fábricas, nos serviços,
na hotelaria, nos transportes, mas também de empenho no associativismo e de
luta pela democracia, antes e depois de Abril – agora também no Poder Local
Democrático. Homens e Mulheres que a rudeza da vida, não apenas suavizou alma como
aumentou a enorme capacidade, única de colectivamente, pelo Cante exteriorizar, partilhar esse
património genético, há muito o ex-libris da nossa região, que faz da Pátria
transtagana uma região única e do povo alentejano, um povo com um coração
imenso.
Nesta edição
propusemo-nos fazer o levantamento dos 30 grupos corais activos existentes na
diáspora e a diáspora alentejana, como o próprio Alentejo, é (quase) do tamanho
do mundo; começa aqui em Almada… e vai até Toronto.
Neste
rico e diversificado caderno que dá tema à edição “O Cante na diáspora”, ao longo de quase 70 páginas damos voz a uma
trintena de grupos corais existentes na diáspora, com base num exaustivo
levantamento, nem sempre livre de algumas dificuldades, onde Almada, que tem
cerca de 30 páginas, tem especial destaque:
Amigos
do Alentejo, do Feijó; Cantadeiras de Essência Alentejana; Recordar a Mocidade,
do Laranjeiro
Mas
também do concelho de Palmela, temos em destaque:
Ausentes
do Alentejo; Modalentejo;1º de Maio, Quinta do Anjo
Ainda
do Seixal onde encontrámos: As Papoilas, do Fogueteiro; Operário Alentejano,
das Paivas; Grupo Coral dos Serviços Sociais das Autarquias do Seixal e o Lírio
Roxo, Paio Pires.
Ops restantes grupos
corais existentes na diáspora estão sedeados: Amadora, três grupos; Albufeira,
um; Barreiro, dois; Cartaxo, um; Cascais, dois; Loures, um; Moita, dois; Porto,
um; Sesimbra, um; Setúbal, dois; Silves, um; Sintra, dois e um em Toronto,
Canadá. Propusemo-nos, com base neste exaustivo levantamento realizado, não
sempre livre de dificuldades, gravar um CD para ser acoplado a cada exemplar
desta revista com a participação dos 10 grupos corais alentejanos de Almada,
Palmela e Seixal; todavia constrangimentos motivados pela dificuldade de
adicionar todos os apoios previstos e, por outro lado, atraso na confirmação de
outros obrigaram-nos a adiar a edição dos CDs – onde, mesmo sem o apoio do
Município do Seixal incluiremos os grupos corais deste concelho – mas aqui o
compromisso de logo que seja financeiramente possível – talvez nos próximos
meses – realizarmos uma edição, ainda que mais reduzida em CD.
Mas voltando a Almada, nas
30 páginas, apresentamos a entrevista com Joaquim Judas, Presidente da CMA, natural
de Évora, mas também entrevistamos o homem – e o Amigo - que personifica a referência
do Cante em Almada, Joaquim Afonso,
natural de Pias, bem como sentidos, apaixonadas textos do Vice-Presidente CMA,
fundador e antigo Presidente da Alma alentejana, José Gonçalves, nascido no
Torrão do Alentejo, de Luís Palma, Presidente da União de Freguesias de
Laranjeiro e Feijó, com fortes e assumidas raízes na Margem Esquerda do
Guadiana e José Moutela, Presidente da Alma alentejana, finalizando com um texto
de António Amaral sobre o Grupo de Trabalho
do Cante do Concelho de Almada,
que desde Fevereiro de 2015, com o objectivo de realizar iniciativas tendentes
a promover o Cante Alentejano e toda
a riqueza etnográfica a este associado tem vindo a debater e propor estratégias
tendentes à salvaguardar do Cante,
nomeadamente lançando projectos para fomentar o Cante nas Escolas.
Ainda sobre Palmela –
autarquia que desde a primeira hora teve uma postura francamente empenhada e
solidária, o que saudamos - apresentamos uma entrevista ao Presidente do
Município, Álvaro Amaro, se bem que não sendo alentejano é também um grande
apreciador do Alentejo. A entrevista pedido ao Presidente da Câmara Municipal
do Seixal, Joaquim Santos, acabou por não se vir a realizar .
Nesta edição,
registamos com agrado artigos de quem conhece bem o Cante, seja como investigador
e músico, caso do Jorge Moniz, seja enquanto um dos principais responsáveis
pela candidatura vencedora do Cante a
Património cultural Imaterial da Humanidade, como é o caso do presidente da
MODA – Associação do Cante Alentejano,
Francisco Teixeira, da socióloga Sónia Cabeça que nos fala do que o surgimento Cante no feminino representou uma
autonomia social do Cante Alentejano
ou a notícia das estratégias de salvaguarda “ deste cante que é nosso,
deste cante que importa preservar e potenciar”, que nos chega
do Campo Branco, em forma de prosa poética pela palavra escrita do Paulo
Nascimento. A Grande Entrevista, nesta edição ao Pedro Mestre, Mestre
o menino de oiro da salvaguarda e da transmissão do Cante e da viola campaniça.
António Chainho, desde
que nos verdes anos começou a toca guitarra portuguesa na moinho de vento do
seu avó, em plena serra na aldeia de S. Francisco, até 2015, quando completou 50 anos de
carreira fez um percurso que o guindou á genialidade, Chainho, o Amigo, o
companheiro solidário no CEDA; no mesmo CEDA em que Domingos Montemor – com
quem calcorreamos o Alentejo tantas vezes ao longo de mais de uma década – um
dos companheiros que mais trabalhou e contribuiu para ele, CEDA fosse o que é
hoje, o CEDA e esta publicação não receando e não voltando as costas aos
desafios; talvez seja por isso que se alcançou o respeito do Alentejo, como se
verificou no passado dia 10 na Casa do Alentejo onde esteve o Alentejo em peso,
as suas forças vivas, de Portalegre a Castro Verde, de Monforte a Santiago, de
Sousel a Beja, de Évora… a Almada, de Montemor a Odemira, a Ourique… e a
diáspora em peso…
Os 40 Anos Poder Local
Democrático não são esquecidos – esperamos fazer uma próxima edição sobre o
tema – com textos de quem mais experiência e saber tem do tema, até numa
perspectiva do futuro, Rogério de Brito – antigo deputado, eurodeputado e
autarca e Fernando Caeiros, de desde 1976 e durante mais de 30 anos foi edil e
é hoje um dos mais conceituados consultores da Associação Nacional dos
Municípios. E a Feira de Castro é visitado com o João das Cabeças e o Encontro
do Cante ao Baldão e da Viola
Campaniça.
E o Acontecendo,
necessariamente no gerúndio, onde o Destaque vai para livros Actas MODA e CD Os Ganhões,
mais de 30 recensões, referências: livros, discos e outros eventos,
nomeadamente o recente trabalho de Orlando Pereira, e as suas reflexões
estratégicas desenvolvimento local para preservar a identidade da sua aldeia de
Penedos – Mértola, terminando com o “Programa Almada Homenageia o Cante”, iniciativa fruto de parceria
entre a CMA e o Grupo de Trabalho do Cante
do Concelho de Almada – projecto que o CEDA e a Revista Memória Alentejana assumiram deste o primeiro dia
Mesmo quase a fechar, o
companheiro solidário, António Galvão, o artista plástico que ofereceu ao CEDA
a serigrafia que é capa desta edição – e capa do caderno e poucos dias depois
partiu.
Uma palavra de apreço e
agradecimento às entidades que viabilizaram financeiramente esta edição: Câmara
Municipal de Almada, Câmara Municipal de Palmela, Entidade Regional de Turismo
Alentejo/Ribatejo, Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó.
Aqui fica o nosso
contributo para a salvaguarda do Cante!
Alentejanos de Almada,
Alentejanos do Mundo; podem contar com o (vosso) CEDA, podem contar com a
(vossa) Revista Memória Alentejana.
“Voltarei
ao Alentejo
Nem
que seja no Verão”
Eduardo M. Raposo
(Presidente da Direcção / Director)
(Presidente da Direcção / Director)
CEDA / Revista
MEMÓRIA ALENTEJANA
(do Editorial)