2 de jan. de 2009

DEIXEM A PALESTINA EM PAZ - A CRENÇA NA POESIA



Nas derradeiras horas de 2007, manifestava neste espaço a minha indignação pelo brutal assassinato de Benazir Bhutto. Um ano antes, precisamente no mesmo dia referia a minha revolta pelo sumária execução do ditador Saddam Hussein, pelos homens de mão do senhor Bush, líder internacional do terrorismo de Estado. Neste início do novo ano, assistimos a mais um inqualificável acto terrorista do Estado de Israel: em menos de uma semana mataram 400 pessoas e feriram mais de 1000 palestinianos. A desculpa é defenderem Israel de roquettes artesanais lançados pelos radicais do Hamas. A MNE isrealita – provável candidata a PM pelo actual maior partido governamental, em visita a Sarkozi no 1º dia do ano, mostrou-se indisponível para o seu governo negociar, com o argumento de que estavam “a defender os valores do mundo livre" era "uma questão de valores”, sublinhou.

Que valores? Que arrogância falar em liberdade, falar em valores, - quando acabam de condenar à morte 400 pessoas, e quanto mais serão? – Será que regressámos à barbárie das cruzadas que massacraram Jerusalém no Século XII?, será que regressamos ao espírito da Inquisição? será que regressamos ao espírito nazi?, espírito de destruição, de arrogância, de crimes bárbaros contra a humanidade, onde os dirigentes israelitas parece que tanto se revêem – e curiosamente une o espectro político: direita, centro e a suposta esquerda trabalhista. Em memória de tantos milhares de vítimas de genocídios como estes – e o último onde tantos judeus pereceram, entre muitos outros cidadãos - esta senhora devia ter tento na língua. Devia tentar perceber melhor a história da civilização urbana iniciada na Crescente Fértil há quase 15 000 anos, que no Mediterrâneo foi preservada ao longo de milénios e nas últimas décadas está a ser destruída – através da guerra, do saque – pela civilização ocidental, esta civilização com apenas 1000 anos de existência e que tanta destruição e morte causou já.



Estamos perante o confronto entre a barbárie e a tolerância. E se o Hamas - que já matou quatro israelitas com os bombardeamentos – “ é terrorista, porque de facto é, pratica o terror", ,” então o exército israelita, que mata famílias inteiras, não é terrorista?” com a desculpa de querer liquidar elementos do Hamas, como sublinhava Ângelo Correia na Televisão


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Este é o terror organizado de que fala Sophia no poema “Vemos, Ouvimos e Lemos”. Esperemos que esses senhores, responsáveis por tantas mortes, tanta destruição, tanto terror, sejam um dia julgados - a começar por Bush - e condenados como aconteceu com os vencidos senhores da guerra da Jugoslávia. Julgados em nome dos valores da Vida, da liberdade, da democracia!

Mas este não é um post de tristeza, de resignação. Pelo contrário! Trazer aqui temas que pela sua actualidade e continuidade envergonham os Homens e as Mulheres que se reclamam de Liberdade Livre – que era a postura do Zeca Afonso, como também já aqui referi - é apenas a constatação de que é preciso continuar a lutar, diariamente, também com a nossa luta interior, para sermos melhores, pois só assim estaremos capacitados, para nos combates diários, espalharmos a bondade e a beleza no mundo, espalharmos a alegria e a luz.
Recordo-vos aqui, como foi importante para o meu percurso interior a peregrinação espiritual que fiz há poucos meses a Agmâte, ao mausoléu de Almutâmide e de Itimade, onde depositei duas rosas vermelhas do Amor. Aí soube da minha crença, da minha profunda crença. Eu que não sou católico nem muçulmano e que anteriormente, nos momentos de maior sofrimento e desespero pensava que seria mais fácil se acreditasse, porque pensava que não acreditava, soube após Agmâte com toda a clareza, que sou crente, crente na Poesia, crente no Amor, crente na Vida.
Talvez, como dizia a um amigo recentemente: - a minha religião seja a Poesia.
É pois com a serenidade que me construí nos últimos anos que ergo o estandarte da Poesia face à destruição, o estandarte do Amor face ao medo, o estandarte da Vida face à morte e vos deixo - um excerto de - um poema de Amor!


Um poema, precisamente da autoria de Mahmud Darwich, considerado o Poeta Nacional da Palestina, um dos mais importantes poetas árabes contemporâneos, recentemente homenageado em Lisboa.


A Arte de Amar

"Com a taça engastada de azul,
espero-a
ao pé do tanque, das flores de madressilva e da noite
espero-a
com a paciência do cavalo selado para as veredas da
montanha,

espero-a
com o requinte do príncipe delicado e belo,
espero-a
com sete almofadas cheias de nuvens leves,
espero-a
com o fogo do incenso feminino omnipresente,
espero-a
com o perfume masculino do sândalo cobrindo o dorso
dos cavalos,
espero-a.
(…)"