25 de abr. de 2009

O Canto da Utopia - 35 anos de Abril



Cantor de Intervenção

Evocando! Sob uma azinheira
O menestrel compõe sua poesia

No montado, escondido da cegueira
Da ditadura feroz que o perseguia.

Grândola o protege e se esgueira
Faz o poema senha que dá magia
Ao cariz da revolução obreira
Que devolve a Liberdade, a Alegria.

Tu, sábio cantor de intervenção
Fizeste poema e musicalidade
A Grândola com tua gratidão

25 de Abril não será esquecido
Tu foste o arauto apetecido
Um Premonitor da Libertação


Maria Vitória Afonso




Qual não foi a surpresa, na madrugada de 24 quando fui ver as mensagens, cansado de viajar e deparo-me com este soneto, - “Cantor de Intervenção” - que acima publico, com a devida vénia, e transcrevi a (exageradamente) simpática mensagem da poetisa Maria Vitória Afonso.

"Caro amigo:Venho por este meio agradecer a oportunidade de assistir à apresentação do seu livro que já comecei a ler.O senhor é um alentejano brilhante . Comoveu-me o prefácio da terceira edição quando fala de sua casa no Sul na Funcheira. Eu tb adoro o concelho de Ourique. Os meus avós viviam em Santa Luzia e eu vivi lá. E um lugar mítico para mim . Eu tenho a paixão do Alentejo . Não sei descrevê-lo como o senhor. Os meus parabéns. Envio-lhe um soneto que acabei de escrever há 5 minutos e que o seu livro me inspirou. Um bom feriado.
Maria Vitória Afonso"


A minha casa, é o Alentejo todo, é o Mediterrâneo, é o universo... é onde o meu Amor estiver!


E, a propósito:
Onde é que estavas quando foi o 25 de Abril?
(frase que se celebrizou pela voz do Baptista Bastos…)

Bem, eu recordo-me de estar a andar de bicicleta - não numa ecopiosta, claro - com um amigo da altura, o Carlos, que há muito lhe perdi o rasto. Andávamos no Ciclo Preparatório. Recordo de termos comentado com a ingenuidade e a ignorância da idade e da altura que talvez os espanhóis tivessem invadido Portugal…



E o outro poema, tambem inédito, julgo, com a devida vénia, a que a autora lhe chamou (Rimas) Canto de Intervenção, foi lido na apresentação que fez deste livro (Canto de Intervenção 1960-1974) no lançamento desta 3ª edição, há exactamente dois anos, na Casa da Música, - quando, ao se referir a mim, o fez como nunca ninguém o tinha feito, de uma forma muito especial … única – e já tenho tido o prazer e o orgulho de excelentes apresentações –mas daquela vez encontrou as palavras certas, pois teve a sabedoria de exprimir em poucas palavras o que caracteriza o melhor de mim… de que não resisto a citar um trecho.



"Trabalho árduo e persistente, feito com paixão.
A fraternidade e a persistência foram as primeiras qualidades que conheci do Dr. Eduardo Raposo no final de 2002 pouco antes da apresentação a 30 de Novembro do meu segundo livro de poesia “ o meu Amor é Árabe”no Páteo Árabe na Casa do Alentejo em Lisboa de que era Vice-Presidente pelo Ceda-centro de estudos documentais do Alentejo, de que foi fundador e era e é [foi]Presidente.


Hoje posso dizer,
como De Gaulle ao receber as credenciais de um diplomata sírio
“ Conheço-vos as areias e os sonhos”


Eduardo Manuel da Conceição Raposo nasceu a 8 de Dezembro de 1962, dia em que nasceu e faleceu Florbela Espanca e dia de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal. Nasceu na Funcheira, concelho de Ourique, distrito de Beja.

O autor tinha assim 11 anos quando aconteceu 25 de Abril.
O berço alentejano deu-lhe para sempre a necessidade da liberdade desmedida, infinita mesmo, associada à planície e à lonjura do horizonte, uma liberdade natural, parca de bens matérias mas perfumada e apaixonada em que “só o sonho comanda a vida.”
Lugares parcos de palavras, em que só as necessárias são ditas, mas por isso mesmo as ditas são sentidas e com sentido. O Alentejano quando fala “não desvia a cabeça nem baixa nunca o seu olhar” palavras do Poeta Manuel Alegre em Alentejo e Ninguém."




Canto de Intervenção

Tempo em que a Canção foi arma
apontada à raiz do pensamento
Quando os Capitães avançaram
ao som de Grândola, Vila morena
As Gentes da rua se lhes juntaram
Com o cravo vermelho, a sua arma
e os canos das espingardas taparam
O ventre aberto a Catarina bastara!
…e as lágrimas de tantas mulheres!
sobre caixões regressados da guerra


Maria Lascas