22 de jan. de 2007

A coreografia do Sobreiro...




É um espaço suave. Diferente de qualquer outro restaurante. A subtileza encontra-se na decoração, como nas ementas, na marca de vinho “Amo-te”, na música que passa - Rui Veloso, sons do Magrebe… Chama-se “Coma com Arte” e o nome tem um duplo sentido… na passada sexta-feira, dia 19, no final do dia inaugurou uma exposição de pintura de Manuel Casa Branca, “Fragmentos de Paisagem”…

Li o texto que um dia - ou melhor dizendo, uma noite em plena “Feira da Luz”, o Manel me ofereceu no seu atelier, e que me seduziu de imediato -, que iniciou uma tertúlia improvisada sobre a coreografia do gesto do sobreiro na floresta, a textura , o desenho e a cor… uma estranha dança que se liberta destas árvores imponentes, seres com vida própria, e que connosco contracenam e dialogam e, num sereno enleio nos contam histórias com cores fortes ou delicadas do nascer do Sol ou do luar, nos envolveram a todos nós, presentes e ausentes. Para todos, a leitura deste texto.

Herdade o Sobralinho, 20. 04. 96; 18.45 h.
Os primeiros passos por entre o mato foram saudados por uma breve e suave brisa que se levantou. Alguma presença, ou simples coincidência, se alegrou com a minha intromissão. Eu, que não acredito nem em Fadas nem Gnomos da floresta, arrepiei-me todo. Estava grato e reconhecido por essa alegria e aura de uma sabedoria secular que me envolvia e observava.
Eram as formas daqueles sobreiros que olhavam para mim; protoberâncias,
cascas, geometria e cor, dessas vidas que estão ali há séculos, não propriamente à minha espera, mas que se dignificam a conceder-me a sua atenção de calma e anciã inteireza.
Continuava arrepiado, e tremia na minha modesta missão de encontrar, na sua benevolente existência, aquelas formas que procurava, ou que apenas não procurava…
Ao longe, num dos montes, uma superfície banhada de luz de fim de tarde despertou, ou chamou, a minha atenção visão/atenção. Foi então que conhecia um sobreiro com muito para dizer. É enorme, de uma robustez esmagadora e, paradoxalmente, leve e elevada. A sua forma não pode ser descrita por palavras.
Rodeei-o e admirei-o em todos os seus 360 graus enigmáticos e magníficos. Esmagou-me, senti-me um anão privilegiado em ser gigante no contacto e no diálogo que estabelecemos. Depois de fotografar as suas formas pesadamente leves e cinzentas contidas na força de oito anos de cortiça, à espera do último, para voltar a ser vermelho de terra queimada. Agradeci-lhe, toquei-lhe, acariciei-lhe respeitosamente a sua cortiça. Tremi e fiquei elevadamente esmagado pela centésima vez.
Conheci assim este Sobreiro, de sabedoria imponente, que me sussurrou um segredo. Então olhei para o lado, e vi um seu filho que despontava próximo, viçoso, ainda esteva com desejo de ser um chaparrito. Apertei com cuidado as suas folhagens nos meus dedos e desejei-lhe boa sorte…
Que os homens não o esmaguem com um qualquer tractor…


Manuel Casa Branca


Momento de reencontro com amigos… como o fotógrafo Pedro Soares, que não via há alguns anos… momento de partilha da arte e da sua leitura com outros amigos e conhecidos, como o jovem Pedro Santos, estudante do fotografia… a pintora Guika, outra pintora, a Tita Barrancos, que se apaixonou e comprou um dos trabalhos expostos… a Céu, o Carlos, o Ricardo, o Aulin, o Luís… e outros que lá estiveram… e outros que certamente vão deixar-se seduzir pela magia de arte do Manuel Casa Branca, pintor de Sobreiros… até dia 22 de Fevereiro






























































































14 de jan. de 2007

Exercício espiritual

É preciso dizer rosa em vez de ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer o Dia em vez de dizer um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora


Cesariny