19 de mai. de 2010

És...

PARA ATRAVESSAR CONTIGO O DESERTO DO MUNDO



Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o mundo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso


Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.
                             (in Livro Sexto)

«COMO UMA FLOR INCERTA…»

                          I
Como uma flor incerta entre os teus dedos
Há a harmonia dum bailar sem fim,
E tens o Silêncio indizível dum jardim
Invadido de luar e de segredos.

                        II
Nas tuas mãos trazias o meu mundo.
Para mim dos teus gestos escorriam
Estrelas infinitas, mar sem fundo
E nos teus olhos os mitos principiam.

Em ti eu conheci jardins distantes
E disseste-me a vida dos rochedos
E juntos penetrámos nos segredos
Das vozes dos silêncios dos instantes.
(…)
                              (in Dia do Mar)
DIONYSIOS E APOLO

                  III
Eras o primeiro dia inteiro e puro
Banhando os horizontes de louvor.


Eras o espírito a falar em cada linha
Eras a madrugada em flor
Eras a brisa marinha.
Eras uma vela bebendo o vento dos espaços
Eras o gesto luminoso de dois braços
Abertos sem limite.
Eras a pureza e a força do mar
Eras o conhecimento pelo amor.

Sonho e presença
Duma vida florindo
Possuída e suspensa.

Eras a medida suprema, o cânone eterno
Erguido puro, perfeito e harmonioso
No coração da vida e para além da vida
No coração dos ritmos secretos.
                                   (in Poesia, 2ª ed.)
                                Sophia de Mello Breyner Andresen

17 de mai. de 2010

V Passeio Campestre… moinhos de vento entre a cortiça e o carvão…









Depois de um inicial percurso pedestre visitámos a Fábrica de Cortiça “Relvas II: Rolhas de Champagne SA” guiada pelo sr. Manuel Augusto Fernandes. Depois de mais uma saborosa caminhada por veredas e atalhos, as forças foram reabastecidas com o pique-nique - que de ano para ano se vai tornando mais comunitário - bem guarnecido e regado, inclusive pelo churrasco com que nos presentearam os anfitriãos, a sr. Filipa e o sr. Páscoa, proprietários dos Fornos de Cal, que visitámos e onde nos elucidaram sobre as particularidades da produção de carvão





A chuva que se fez sentir sobretudo da parte da tarde, não amedrontou nenhum dos quase 40 participantes que, a meio da tarde assistiram à brilhante intervenção de José Matias, antecedendo o lanche de túbaras (típicas) da freguesia. Foi no Restaurante “o Chaparro”. Este amigo, conceituado molinologista (e fundador do CEDA) apresentou-nos dois desenhos em grande formato que fez a partir de um estudo de uma estrutura de um dos moinhos existentes, em avançado estado de deterioração. O seu empenhamento em prol da valorização do nosso Património levou-o a uma ida de prévia desde Santiago do Cacém, para nos apresentar uma hipótese de restauro – frente e corte , muito apreciado pelos presentes. Terminou com uma sessão de autógrafos do seu excelente livro Moinhos de Vento do Concelho de Santiago do Cacém, publicado em 2003 na colecção “Memória e Escrita Alentejana” – uma parceria CEDA/Edições Colibri – onde tivemos o prazer de assinar o prefácio.


Um grande abraço ao Zé Matias e a todos os participantes, nomeadamente à Manela, ao João, à Teresa, à Otília, à Maria Vitória e ao marido, e especialmente ao incansável animador , o amigo Alex Pirata, com quem há cinco anos fazemos a parceria - ”baseada na carolice”- como gosta de sublinhar – em nome das associações de que éramos então presidentes, o CEDA e a MontemorMel.


Esta 5ª edição, não obstante a chuva e a ausência de alguns amigos que, tendo participado noutros e que aqui, por diversas razões, não lhes foi possível, viu a participação de outros amigos, que estiveram pela primeira vez e que são assíduos caminhantes, inclusive organizadores de caminhadas, onde já temos tido o gosto de participar, nomeadamente a Teresa Pinto Correia e outros amigos.


Uma palavra ainda ao excelente trabalho do Gabinete Gráfico do Município de Montemor-o-Novo na concepção gráfica do flyer de divulgação.


Os nossos agradecimentos ao Município que fez o flyer, divulgou e inscreveu através do Posto de Turismo, e à Junta de Freguesia local que deu uma apoio parcial na aquisição do lanche.


Um Abraço caloroso a todos os amigos, participantes e ausentes, mas que todavia estiveram connosco.


Fica a promessa: em Maio de 2011 voltamos a encontrar-nos!

12 de mai. de 2010

Serpa ou as Rosas da Vila Branca

No pequeno mas encantador Jardim Público da Vila Branca tive a agradável surpresa de me deliciar com estas
belas e suaves Rosas...

A Beleza exista a cada passo!
 Apenas depende de nós a "disponibilidade" para a saborear!

9 de mai. de 2010

"PREC Cantar a Revolução no Alentejo" em Beja

A Exposição "PREC Cantar a Revolução no Alentejo" em itinerância vai estar na Biblioteca Municipal de Beja José Saramago de 10 a 22 de Maio.
No dia da inauguração acontece Canto, Música, Poesia conforme refere o programa.
Para os(as) amantes da Beleza e da Utópia aqui fica o convite!

À Memória de Federico García Lorca




I


Uma menina anuncia


num búzio limpo de tempo


que Federico vem chegando


num poema azul


dito por um cigano.






Vem sonhando,


mais leve que uma sombra,


infância seu regresso:


coração verde de pomba


feito verso.






Vem como se fosse:


flor, nascimento,


gesto fresco e puro


ternura encantamento.






II


Quem não é poeta


tenta


mas não inventa


o estar lá


não estando:


sortilégio dado


no momento


em que se mostra


o deslumbramento:


- criança debruçada


no rosto duma pomba


ouvindo uma guitarra


imaginada


ao sabor do vento.


(José da Fonte Santa, 1925-1998, in Magia Alentejana Poesia e Desenhos e  Antologia Poetas Alentejanos do Século XX,  Poema do cartaz oficial da Homenagem a Federico Garcia Lorca, realizada em Setúbal, em 1986, no cinquentenário da sua morte)



 
 


plenitude

Serenamente, tão serenamente


como a folha que cai da azinheira


no Verão sem brisa, ao fim da tarde


ponho as mãos no teu rosto



Chamas-me Plenitude!


não tenho mais que esse momento


               
                (Maria Lascas, in plenitude)

4 de mai. de 2010

Todo o Alentejo deste mundo!... na Ovibeja


Mesmo que seja só de passagem
esta é a brisa que me renova

Ou me dá forças para a passagem
do que no fundo não se renova

            (David Mourão-Ferreira, in Os Ramos  Os Remos)


Ovibeja







Todo o Alentejo deste mundo!





A Ovibeja não deixa ninguém indiferente. A Ovibeja não é um lugar de passagem, nem sequer é um lugar para ir. É um lugar para estar! Seja uma tarde, um dia, uma noite, uma eternidade. Um lugar de namoro, de fraterno convívio… as pessoas quando saiem da Ovibeja irradiam felicidade, como se adivinhassem que naquele lugar deixariam para trás a tristeza, o tédio do vazio dos dias sempre comodamente deprimentes autoflagelativos … e seriam felizes!...

 A Ovibeja é um lugar de estar serenamente para os Alentejanos que… não abdicaram a sua Alma (secreta).






Este ano cheguei a Beja numa noite fria mas… parei breves e imensos minutos para sentir a sua alma, a sua essência de lugar secreto, quando estava à vista da sua Torre de Menagem altaneira – situada bem no centro do mundo, pois todos os caminhos, seja de oeste, de este, de Norte ou de Sul para si se dirigem – e fiquei a cismar nas palavras de Ahmede Arrazí, que percorreu o Garbe no século X e que nos fala assim da cidade da planície:


“Beja é mui boa terra e de boa sementeira e de mui boa creança. E é mui boa terra de colmeias que há aí flores mui boas e mui proveitosa para as abelhas. E a água de Beja é de natura para ser boa de curtimento de coiros. E há em ela muitas e boas ruas e mui anchas.(…)


(in Portugal na Espanha Árabe, António Borges Coelho)

E depois do jantar com o Amigo Zé Orta, quando deambulava ouvi chamar?!... era o amigo Paulo (Barriga) que nos chamava para nos presentear com o seu espaço de uma bela modernidade com o sabor da tradição – o seu novo e inovador projecto Alentejo Blues enquanto saboreávamos o belo vinho dessa marca.







E no dia seguinte deixamo-nos envolver, penetrar com o sabor do azeite e da beleza do montado, ou das aves de longas penas da cor do arco-íris,



das suas gentes ou até os simpáticos camelos que nos convidavam as suaves viagens, a aventura de percorrer o caminho da felicidade, destino que nos está no sangue…




e depois partimos, partida antecipada por pelo menos um dia, devido a um compromisso descontextualizado na” selva de betão”. Partimos entre um misto de tristeza e de serena felicidade… percorrendo o caminho secreto que resgatámos ao destino, com todo o Alentejo na Alma.