15 de dez. de 2008

Monte das Estevas

Depois de uma correria pelas estradas de chuva, abro os vidros, os dois, e aspiro a plenos pulmões o cheiro terno do rio Degebe e.. depois de parar por breves olhando o Monte das Estevas, no sopé, como se fosse uma fábula, continuo até Barrancos, onde passo um serão memorável com os amigos autarcas - António Tereno, Isabel Sabino - o realizador Fernando Ruiz e os novos amigos António e Filmena.
Num sábado bem frio saboreio os pratinhos com minúsculos copinhos de vinho com que os velhos se ocupam antes do almoço, faço-me de novo à estrada, agora acompanhado com o meu amigo Ruiz, poeta da imagem e dos afectos, que me segue no seu velho carro. Quando inicio a subida da encosta do Monte das Estevas tenho à minha frente um arco-íris como nunca vi, esplendoroso, que me espera, e antes de chegar ao sopé, de repente entro naquelas cores divinas... ao chegar ao cimo recordo o texto poético de Amadeu Baptista



"Uma fábula põe-nos os dentes a arder, ardentemente levantamos uma haste de paz que é o princípio e o fim de tudo, nestas ruas cinzentas, indagador, sei que poderei aproximar-me do lobo sem receio, há algo que sara as feridas, é agora que o cariz dos gritos explode na excelência do amor, a paixão avança, a escuridão se extingue na clareira para que a tesoura não volte a espetar-se no céu das nossas bocas.
Atravesso o deserto e amo-te, amo-te, o rubi com asas dentro que trazes no coração é uma fada protegendo-me, com desmedida volúpia acaricio os teus ombros, o corvo foge a toda a velocidade, a noite é muito longa mas nós não dormiremos, por esses cabelos luminosos é que o futuro chega, nos conduz ao litoral, nos leva até à criança que há em nós, esperemos que a criatura justa volte a nascer, os pequenos sonhos se façam realidade, a salvação, desta vez, seja total e definitiva."



Antes de partir para S. Pedro do Corval deito um último olhar, emocionado, muito emocionado, às figueiras sagradas, que me contemplam com as suas copas ondeando ao vento frio e, na sua sabedoria ancestral, me sorriem com doçura...

8 de dez. de 2008

Florbela

Às 2 horas da madrugada do dia 8 de Dezembro de 1894 uma mulher de condição humilde, de seu nome Antónia da Conceição Lobo, dá à luz, na Rua do Angerino em Vila Viçosa, uma menina. É um lindo bebé – tão lindo que alguém afirma mesmo: «É uma flor!», ao que a mãe terá respondido: «Flor se chamará…»




«Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica até à mania, atenta a todas as subtilezas dum raciocínio claro e lúcido, não deixo no entanto, de ser uma espécie de D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dom de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não descansa!»

dirá, numa carta, datada de 27 de Julho de 1930, ao seu amigo italiano Guido Batteli

"És tu! És tu! Sempre vieste, enfim!
Oiço de novo o riso dos teus passos!
És tu que eu vejo a estender-me os braços
Que Deus criou pra me abraçar a mim!

Tudo é divino e santo visto assim …
Foram-se os desalentos, os cansaços …
O mundo não é mundo: é um jardim!
Um céu aberto: longes, os espaços!

Prende-me toda, Amor, prende-me bem!
Que vês tu em redor? Não há mim!
A Terra? – Um astro morto que flutua …

Tudo o que é chama a arder, tudo o que sente.
Tudo o que é vida e vibra eternamente
É tu seres meu, Amor, e eu ser tua!"

19 de nov. de 2008

Outubro e o arabismo português


No passado mês de Outubro, a par de um conjunto de interessantes iniciativas, como uma semana luso-marroquina que decorreu em Silves - “Marrakech visita Silves”, ou um colóquio na Faculdade de Letras sobre a Argélia –que contou com uma interessante exposição patente na átrio da dita faculdade, houve dois acontecimentos marcantes que gostava de destacar.


O Prof. António Borges Coelho, o arabista português da actualidade, que desde há quatro décadas foi o pioneiro do arabismo português contemporâneo, foi homenageado no passado dia 7, no Espaço Tejo, antiga FIL, pelo jornal Monde Diplomátique , que em tempos dirigiu, a que aderiram algumas centenas de figuras da cultura, do meio académico, literário, sindical e da política portuguesa, onde esteve toda a esquerda portuguesa, nomeadamente a informada e a culta, e ainda de cidadãos anónimos, como é o nosso caso. Numa Festa bonita e fraterna, Borges Coelho, o professor apaixonado, o homem fraterno e o cidadão empenhado foi, após uma introdução da Sónia, da direcção do jornal organizador, Cláudio Torres, a propósito da recentemente edição de Portugal na Espanha Árabe pela Editorial Caminho, essa obra pioneira e decisiva do encontro com o nosso passado mediterrânico – falou-nos de como o Mestre, também se, “associou um projecto político de reabilitação dos vencidos, enquanto legado da cultura mediterrânica, esse mundo activo e dinâmico, sociedade tributária por excelência em posição ao Norte feudal que acabou por vencê-lo devido à desagregação politica do califado. Falou-nos de como o que possibilitou Mértola se iniciou com esse livro e de como a geração que em 74 frequentava a Faculdade de Letras foi uma geração diferente, que iniciou a experimentação muito completa da liberdade. E de como esses jovens profs. levaram centros de apoio a estudantes em Beja, Algarve, e Açores, ou ainda como foi possível em Portugal, depositário dessa herança trazida do Mediterrânico pelo Islão, acontecer a Expansão, capitaneada por uma nova classe social que em Lisboa estava a tomar o poder, e de como ele e Borges Coelho aprenderam mutuamente”





O Mestre homenageado, visivelmente emocionado, passou em revista períodos decisivos da sua, não deixando de evocar a dignidade e a coragem de presos políticos com quem privou, pois foi um deles, mas teve sempre uma perspectiva de futuro, um olhar positivo e o encarar a vida com alegria, mas nas condições difíceis, e a necessidade de nos opormos ao medo e à violência. Uma mensagem poética de fraternidade e de humanismo nos deixou, ele o historiador-poeta.








Na semana seguinte Adalberto Alves, arabista que na esteira de ABC, tem-nos desvendado os grandes poetas luso-árabes, era distinguido pela UNESCO, o poeta, ensaísta e tradutor português, autor da obra emblemática, o Meu Coração é Árabe, vai receber 22 mil euros, o valor do prémio Sharjah para a Cultura Árabe, o mesmo acontecendo ao egípcio Gabel Asfour, director da Fundação Nacional no Cairo. Adalbero Alves, director do Centro de Estudos Luso-Árabe de Silves, revelou que a verba vai ajudar a financiar uma enciclopédia que aguardava apoios que se realizar.
Aos dois Arabistas, aos dois Amigos, as mais sentidas e fraternais saudações e um grande abraço.

2 de out. de 2008

Encontro com o Mestre




Um encontro com Cláudio Torres é sempre um momento fascinante, de um grande, enorme prazer. Recordo, relatado aqui nestas páginas um encontro com Cláudio Torres, precisamente no dia 8 de Março de 2007. De várias horas, um dia inteiro, quase. Ou aquele outro, em Badajoz, no II Encontro Transfronteiriço de Revistas de Cultura, em Novembro passado. Ontem encontrei-me de novo com o Cláudio Torres, o Amigo, o Mestre. Em Março passado tinha-o apelidado de um dos (muito poucos) sábios do nosso tempo. Depois deste encontro relativamente breve mas indescritível, reafirmo-o.





O Encontro deu-se em sua casa em Lisboa seguido de um jantar memorável. O Cláudio é um mestre e um sábio, não só pelo que sabe, mas também pela paixão, pelo entusiasmo que põe, com que nos transmite cada palavra, pelos mundos novos que nos abre, que surgem com as suas palavras afectuosas e apaixonadas, de cada vez que temos esse prazer único de ficarmos a ouvi-lo, a lançar-lhe questões… mas o Cláudio é um mestre e um sábio, genial também pelo entusiasmo com que vive, que se deixa seduzir e aceita e adere, e digo-o com toda a humildade, aos nossos projectos sobre o Al Mouhatamid ou mesmo nas sugestões para a tese de doutoramento, nas alterações, nos caminhos a apontar e a corrigir.
Desse mundo irresistível, onde na Península se fez a apologia do poder através da beleza, da poesia, desse mundo mediterrânico onde a poesia e o vinho andavam de mãos dadas, desconhecido para almorávidas e almóadas e infinitamente diferente de Norte cristão, pobre, austero, demasiado frugal, espartano, desse mundo onde as antecâmaras do poder eram feitas de seda, jasmim e pedras preciosas… desse mundo onde a quase totalidade da população era moçarabe ou muladi, aqui no Gharb - os actuais alentejanos, algarvios, saloios, ribatejanos, até uma parte dos beirões mais ao Sul, ou no Gharb aqui ao lado, irmão, do outro lado do estreito, por onde Hércules terá passado - desse (nosso) mundo maravilhoso e tão próximo onde os poetas luso-árabes nos falam do que nos é mais caro como o Amor pleno e total, a Beleza infinita dos seres e da Natureza, a Liberdade desmesurada da Vida, nas falam da Terra, do Mar, do Sol e do luar.




























Sentam-se connosco à mesa e estão vivos e vivem e amam hoje, como há mil anos o fizeram porque se espelham na sua Poesia perene bela e poderosa que iniciou a lírica portuguesa, mas que ao mesmo tempo vive hoje com tal intensidade como se tivesse sido escrita, cantada, dita agora!... actual e eterna!...

24 de ago. de 2008

Leãozinho



para o Roque, que no dia 21 fez dois meses...




Leãozinho



Gosto muito de te ver, Leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de você, Leãozinho





Para desentristecer, Leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho
Um filhote de leão, raio da manhã





Arrastando o meu olhar como um ímã
O meu coração é o sol pai de toda a cor
Quando ele lhe doura a pele ao léu



Gosto de te ver ao sol, Leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba





Gosto de ficar ao sol, Leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar numa

Caetano Veloso

5 de jul. de 2008

Jornada em Serpa, a Vila Branca e Evocação de Al Mouhatamid em Baja, a luminosa




Foi no dia 6 de Junho. Quarenta e oito horas depois de um recital no Feira do Livro de Évora, Praça Giraldo, com os companheiros Francisco Naia, Ricardo Fonseca e José Carita, numa noite por sinal bem fria, percorríamos agora velozes o Alentejo a Sul, e passávamos à desfilhada frente ao castelo altaneiro com a maior torre de menagem, a capital da planície, a luminosa, a radiosa que é exactamente o significado do topónimo Baja – a designação no período islâmico, depois de ter sido a Pax Júlia romana…Dirigíamo-nos para a Vila Branca, a suave Serpa, uma estivemos numa tertúlia organizada pelo amigo Paulo Barriga – poeta, jornalista, crítico literário no Diário do Alentejo… naquele espaço mitíco que um outro amigo, Luís Afonso, o cartoonista um dia baptizou com o belo poema de Sophia, que um outro amigo, o Francisco Fanhais cantou como canta o rouxinol “Vemos, Ouvimos e Lemos”. Pois é, é a VOL, onde no pátio interior, tipicamente mediterrânico, onde foram chegando amigos e ficamos, pela noite, esta bem quente, e desafiar o Naia a cantar mais uma, e ele a entusiasmar-se e… o que se previa ser um excerto do recital de dois dias antes, que dura quase duas horas, durou quase quatro… começaram a chegar amigos…





o João Mário Caldeira que apresentou esta 3ª edição livro em destaque Canto de Intervenção- 1960-1974, o Bartolomeu Afonso, autarca em Aljustrel e pai do Luís, o Pedro Mestre, o jovem mas já mestre; tocador, construtor e divulgador da viola campaniça, a mesma viola que o Ricardo Fonseca dedilhou ao anoitecer com um som mágico e o cheiro de flor de estevas – ouvir tocar viola campaniça faz-me chegar o sabor, o cheiro inconfundível da flor de esteva – o Ricardo que esta a fazer um percurso muito rico interessante com a viola campaniça, explorando-a, estilizando-a, quase como se fosse um alaúde, ele que aprendeu a tocar um dia a dar aulas em Almodôvar, a terra daquele amigo artesão que fez questão de ir ou… aquela amiga que conheceu o Naia há mais de 25 anos num recital no Canadá e… veio dar-lhe um abraço…
















... foi bonito voltar a estar naquele espaço que visitei a primeira vez há 5 anos, em plena “Manifesta”, numa tarde bem quente de suão; um grupo de amigos a refrescarmo-nos com todas aquelas cervejas estrangeiras que o Luís (Afonso) disponibilizava, e… muito perto de mim, quase lhe saboreava o cheiro, uma mulher linda, a mulher mais bonita do mundo…Outra agradável surpresa foi o alojamento: a casa antiga e bem familiar e bem alentejana – a “Casa de Serpa”, logo no outro lado do largo… e o regresso logo ao final da manhã, a coração a dizer saudade, tanta vontade de ficar, tanta…












...que logo na semana seguinte, exactamente sete dias depois, também ao cair da tarde não resisti e… percorri os 28 quilómetros entre a cidade luminosa e… Vila Branca… mas antes parei demoradamente na ponte que atravessa o grande rio do Sul, o belo Guadiana e… levei o meu pai, que me acompanhava, e ver a velhinha ponte lá em baixo, por onde passava o comboio para Pias e Moura e, depois passavam os carros… foi há mais de 30 que o meu pai me levou lá, talvez em 1975, no período da Reforma Agrária, das ocupações, as azeitonas ficaram por apanhar naquela colina e… foram oferecidas penso que aos ferroviários. Tinha acompanhado o meu pai a Pias, onde ele se ía abastecer de azeite e, no regresso, descemos naquela apeadeiro e ali ficamos a apanhar azeitonas …, foi um dia memorável para mim! Teria talvez 12 anos. 33 anos depois voltamos aquele lugar mágico e o meu velho pai, nervoso e doente momentos antes ficou sereno ao ver o pôr do sol naquele ponte nova sobre o Guadiana e… depois levei-o a Serpa, linda, cheia de luz, branca ao anoitecer, levei-o a beber uma imperial, a melhor imperial do mundo, no “Lebrinha”...












…antes tínhamos estado no Congresso do Alentejo, agora tem outro nome, mas para o menino que voltou à ponte do Guadiana, é … será sempre o Congresso do Alentejo!








Numa comunicação breve que apresentámos, intitulada "CEDA e Memória Alentejana : Espaços de Valorização da Memória" evocámos a grande figura do poeta-rei, o bejense Al Mouhatamid, nascido talvez ali ao lado do belo Pax Júlia… citamos um excerto, com que terminamos, onde justamente se evoca a figura do poeta-rei:

“Depois de Monforte e de Montemor-o-Novo este é o terceiro Congresso do Alentejo em participamos – depois de quase um dezena de participações anteriores - enquanto Centro de Estudos Documentais do Alentejo – Memória Colectiva e Cidadania e enquanto Memória Alentejana. A designação do Congresso não é, para nós, relevante, seja Alentejo XXI, seja sobre ou do Alentejo, isso pouco diferença faz. Para nós é, como sempre foi, o Congresso do Alentejo, da grande Pátria do Sul, ou se, quiserem, da Mátria Alentejana – terra de Liberdade e de esperança, catedral do Cante, do vinho, do pão, do queijo e do silêncio, Pátria do sonho e da beleza ancestral em todo este vasto território, paisagem humanizada ao longo de milénios por onde passaram as grandes civilizações vindas do Mediterrâneo, que acolheu príncipes e plebeus, nomeadamente quando Portugal, porque usufruindo e valorizando todo o legado civilizacional anterior, liderava esse grande processo histórico que foi a Expansão Marítima, onde capitanearam alguns filhos do Alentejo, e falo de Vasco da Gama, ou até, porventura de Colombo.Todo o vasto Património, quer seja imaterial, quer seja construído, histórico – os cacos como lhes chama Cláudio Torres atesta esse passado rico e diversificado – como revelam a passagem dos povos que da bacia mediterrânica navegavam até Mértola – então “o último Porto do Mediterrâneo” para trocarem o nosso minério e artesanato pelas especiarias. Mas o fulgor fez-se de comércio mas fez-se também de poesia, de pensamento. Como não recordar aqui hoje o grande figura do maior poeta luso-árabe – Al Mouhatamid Ibn Abbâd – nascido nesta grande urbe, em 1040, provavelmente aqui ao lado, na Casa dos Corvos, já desaparecida. Ele e mais de meia centenas de grandes figuras das letras que viveram no nosso território entre os sécs XI e XIII, portanto no dealbar da nacionalidade, foram os fundadores da génese da nossa lírica, tanto a nível da estrutura como temático, e tiveram a sua continuidade em D.Dinis, na lírica Camoniana, em Bernardim Ribeiro – natural do Torrão, Alcácer do Sal até chegarem a Fernando Pessoa, que diz em determinado trecho sobre a Ibéria e o Iberismo, talvez duma forma excessiva, mas muito acertada:


Nós Ibéricos, somos o cruzamento de duas civilizações – a romana e a árabe. Somos, por isso, mais complexos e fecundos… Vinguemos a derrota que os do Norte infligiram aos Árabes nossos maiores. Expiemos o crime que cometemos, ao expulsar da Península os árabes que a civilizaram

Este bejense ilustre, que foi Rei em Sevilha, governando a mais importante Taifa de então, figura nas Mil e Uma Noite porque é de facto um grande poeta como se pode apreciar neste breve e poderoso poema, justamente intitulado,

Poder

meu olfacto é teu odor delicioso

e o teu rosto o senhor dos olhos meus

por seres minha, mesmo depois do adeus
é que todos me chamam poderoso














embora tenha sofrido as consequências da sua tolerância governativa – fez acordos com os príncipes cristãos e uma filha sua – a princesa Zaida casou com Afonso VI de Leão e Castela, avô de Afonso Henriques. Al Mouhatamid acabou vencido pelos Amorávidas que não lhe perdoaram a tolerância religiosa e morreu no degredo em Aghmat, a Sul de Marraquexe, qual D. Sebastião, mas governou com a sabedoria D. João II, o Príncipe Perfeito ou com a justiça de D. Pedro ou a eloquência de Dinis ou de D. Duarte.Porque estão estas figuras e o seu tempo esquecidos, sonegados da nossa Memória?... não obstante o excelente trabalho que na esteira de António Borges Coelho, Cláudio Torres, Santiago Macias e outros têm desenvolvido no âmbito do Campo Arqueológico de Mértola – com grande prestígio internacional - e inclusive a sua revista Arquelogia Medieval, das mais conceituadas a nível europeu. Isto para não falar de todo o trabalho de Adalberto Alves, que nos devolveu a beleza da grande produção poética de então, génese da nossa lírica, ou o estudo e revitalização da construção em Taipa, entre outros, pelo arquitecto José Alberto Alegria, actual cônsul de Marrocos no Algarve.”



23 de jun. de 2008

Nascimento

Uma Rosa para o Roque e para o Sofia!

Uma Rosa para o Roque…


Chegou com o nascer do Sol. 7 horas e 3 minutos. 3, 530 Kilogramas. Noutras paragens como em Constância – onde a mãe, quase de colo ainda, deixou-se fotografar, abraçada a Luís Vaz – ou em Estremoz, que ele um dia saberá quanto eu gosto – preparavam-se para celebrar o Solstício.




Ele, o Roque, resolveu fazê-lo sozinho, celebrando com a sua chegada, a chegada auspiciosa da Luz, como me dizia hoje o amigo Fanhais, num abraço telefónico.






Poucas horas depois, inquieto pelo leitinho que tardava, agarrou-me um dedo com um tal vigor, e aquele ser frágil e delicado olhou-me com o seu olhazinho de acabado de nascer, como se me quisesse transmitir a sua necessidade, a sua vontade imensa, infinita de ser alimentado, como se me quisesse dizer: - meu velho, eu, como tu, também quero almejar o absoluto.










Depois eu fiz o que tinha a fazer, insisti junto da equipa médica para ele poder ser convenientemente alimentado e, ao fim da tarde, quando voltei, já dormia sereno depois de saborear o leite materno.













Hoje levei rosas para o Roque. Para o Roque e para a Sofia. Roubei rosas para eles e entrei de rompante com duas rosas, quando já não se podia entrar.. .Para o Roque e para a Sofia.
Dei-lhes a minha flor preferida. Rosas vermelhas. As rosas do Amor. Como as rosas que sempre dei a quem dou o meu Amor pleno, total, avassalador. Eu sei que é um Amor diferente, mas … hoje dei rosas ao Roque e à Sofia.
As rosas do Solstício.
As rosas da Luz.






















Eras o primeiro dia inteiro e puro
Banhando os horizontes de louvor.
Eras o espírito a falar em cada linha,
Eras a madrugada em flor
Eras a brisa marinha.
Eras uma vela bebendo o vento dos espaços,
Eras o gesto luminoso de dois braços
Abertos sem limite.
Eras a pureza e a força do mar,
Eras o conhecimento pelo amor.


Sophia