27 de set. de 2011

"Aldeia Nova" no Pax Julia

"Aldeia Nova"
A partir de um conto de Manuel da Fonseca

Um espectáculo de Paulo Ribeiro, evocativo do centenário do nascimento do poeta, contista, romancista e cronista alentejano e... universal

"A música já estava contida no rumor das sílabas... foi só aguardar um pouco, até que as melodias envolvessem o silêncio e acariciassem as palavras: 'chicotadas de vento' que eclodiram da voz irrepetível de Manuel da Fonseca e que hão-de para sempre ecoar no 'horizonte todo de roda caiado de sol...'. (...) pode ler-se no folheto de apresentação

O espectáculo começou na Praça da República (Beja) com a actuação da Banda Filarmónica de Serpa, como se fossemos marchando ao som da “Marcha Almadanim” percorreu uma daquelas ruas estreitas e antiquíssimas do casco histórico da milenar Beja até ao CineTeatro Pax Julia, onde, junto à entrada continuou a actuação com “Quando cheguei ao barreiro/no vapor que passa o Tejo”


Depois surgiu o Paulo (Ribeiro) que, nas escadarias, apresentou o espectáculo. Entramos e então surgiu em palco o Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, que interpretou, duma forma avassaladora dois temas, um deles do Manel (da Fonseca) e “Terra sagrada do pão”. Estava dado o mote: a força imensa da Terra, ou melhor, o Alentejo na sua plenitude.

Seis músicos, três cantores, duas bailarinas e um actor, uma dúzia de almas para nos trazerem a emoção da poética do Manel da Fonseca, a sua mística neste espectáculo imensamente emotivo, onde a força telúrica dos Grupo Coral de Serpa teve continuidade com o excelente naipe de músicos, a voz quente e bem timbrada do Paulo, o cantautor da planície, como o ano passado lhe chamámos numa entrevista na Memória Alentejana, e as vozes, forte e segura do Fernando Pardal e melodiosa da Marisela, em coro ou as masculinas a solo. Um cenário cativante com a voz off e a imagem tão real em fundo do Manel, que tantas recordações me trazem de tantas férias passadas na sua companhia única em Santiago do Cacém, e ainda as prestações da Joana Cavaco e da Ana Fabião, na dança ou do António Revez no representação. Uma noite imensa de afectividades ao som da Poesia do Manel, continuada, com o elenco, quase todo reunido na “Galeria do Desassossego”, à conversa, entre dois belos tintos, com o seu responsável, o amigo Jorge Benvida, o líder dos “Virgem Sutta”, o Paulo, o Jorge Moniz, o grande jazzman com raízes em Aljustrel, o Zé Orta e outros, muitos amigos e… já perto do romper da alva, noutro local, a ouvir de novo a voz do Paulo, nos então “Anonimato”, que o disco jokey, seu admirador, fez questão de o/nos presentear entre a música e a dança.



Onze Poemas de Manuel da Fonseca musicadas por Paulo Ribeiro, constituem o fio condutor do espectáculo como "Vagabundo", "Maria campaniça", "Caminhos do Alentejo".

Aqui ficam alguns exemplos com que o Paulo e os seus companheiros de palco nos deliciaram...


As balas

Dá o Outono as uvas e o vinho
Dos olivais o azeite nos é dado
Dá a cama e a mesa o verde pinho
As balas dão o sangue derramado


Dá a chuva o Inverno criador
As sementes da sulcos o arado
No lar a lenha em chama dá calor
As balas dão o sangue derramado


Dá a Primavera o campo colorido
Glória e coroa do mundo renovado
Aos corações dá amor renascido
As balas dão o sangue derramado


Dá o Sol as searas pelo Verão
O fermento ao trigo amassado
No esbraseado forno dá o pão
As balas dão o sangue derramado


Dá cada dia ao homem novo alento
De conquistar o bem que lhe é negado
Dá a conquista um puro sentimento
As balas dão o sangue derramado


Do meditar, concluir, ir e fazer
Dá sobre o mundo o homem atirado
À paz de um mundo novo de viver
As balas dão o sangue derramado


Dá a certeza o querer e o concluir
O que tanto nos nega o ódio armado
Que a vida construir é destruir
Balas que o sangue derramado


Que as balas só dão sangue derramado
Só roubo e fome e sangue derramado
Só ruína e peste e sangue derramado
Só crime e morte e sangue derramado.


Tu e eu meu Amor

Tu e Eu Meu Amor
Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.


Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.


Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.


Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima de não ver
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.


Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.


Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.


Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

16 de set. de 2011

Sérgio Godinho - o menino feiticeiro

“Com um brilhozinho nos olhos, o Sérgio Godinho dizia, o Sérgio Godinho retorquia, o Sérgio Godinho andarilho, qual «homem dos sete instrumentos», que um dia esteve «quase morto no deserto», e imaginem, com o (seu) Porto – natal – ali tão perto”

Escrevia assim em 2000  no livro Cantores de Abril Entrevistas  a cantores e outros protagonistas do «Canto de Interveção» Ed. Colibri, Lx, 2000, pp. 199-2007), sobre Sérgio Godinho aquele que é considerado o mais eclético dos «cantautores» portugueses, ou melhor, o “escritor de canções” como ele próprio se define.
Sérgio “andarilho, poeta, cantor, compositor, intérprete, actor, ilustrador, argumentista, realizador, atento observador, enfim, autor, de artes feiticeiro, qual Romance de um dia na estrada em «maré alta», ou não pôr «os pontos nos iis», até porque «é a trabalhar que a gente…» e «de pequenino se torce o destino», contudo, se «a vida é feita de pequenos nadas», desde «o primeiro dia» que «parto sem dor», entoando a «balada da Rita» do Kilas, tendo sempre «cuidado – lá em baixo – com as imitações», porque «eu preciso de um emprego», mas «mudemos de assunto sim?». E, se quiserem, «espalhem a notícia, caramba», que «o rei vai nú», «antes o poço da morte» e «não te deixes assim vestir», são Coincidências de «o fákir» pelo Canto da boca, e olha, «aguenta aí, as armas do amor», tu que és Escritor de canções e se todos os dias os «dias úteis» são, então por que não, lá de tempos a tempos, fazer «ser ou não ser» um Domingo no mundo?”. (Idem, Ibidem)

"Sérgio Godinho, o menino feiticeiro" , como intitulei a capítulo do referido livro sobre o SG, e retomado na mais recente tese de doutoramento policopiado Fundamentos Históricos da Poesia Luso-Árabe (no século de Almutâmide) no Nova Música Portuguesa. O Amor e o Vinho" (pp. 358-402)
num capítulo bem mais vasto (45 pp.) acabadinho de fazer 66 anos, como referiu publicamente há poucos dias numa entrevista numa estação de rádio e quando assinala 40 anos de canções e de edições discográficas, pois o seu primeiro disco , o EP, Romance de um dia na estrada - Guilda da Música, saiu no Outono de 1971 (temas depoius incluídos no 1º LP Os Sobreviventes, 1972), numa célebre apresentação no Cinema Roma, em Lisboa, muito mediática para a época, onde foi igualmente apresentado o LP de José Mário Branco Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, estando os respectivos autores ausentes porque proibidos de entrar no país pela ditadura e exilados em Paris. Mas esse Outono, como é do conhecimento dos amantes da música portuguesa, foi marcado irreversivelmente, não apenas com a publicação destes dois excelentes trabalhos, assim como também os excelentes Gente de aqui e de agora, de Adriano Correia de Oliveira (com direcção musical e orquestração de José Niza), e Cantigas do Maio, de José Afonso (produzido por José Mário Branco), considerado um dos melhores, senão o melhor disco da música portuguesa de todos os tempos - um disco genial entre outros três muito. muito bons. Este Outono de há 40 anos, marca, quanto a mim o início de uma nova etapa na música portuguesa: o início da Nova Música Portuguesa, como defendo na referida tese.
  Quarenta anos depois, 33 trabalhos editados (17 LPs, 5 singles e EPs, 10 CDs
 e um DVD) é o Sérgio igual a si próprio que vamos (re)encontar neste seu 10º CD Mútuo Consentimento, este com participações especiais, entre outros de Manuela Aevedo, Bernardo Sassetti, Noiserv ou Roda do Choro de Lisboa...
Muito, tanto se pode, se podia dizer do Sérgio, que em 1965 se exilou porque não queria fazer a guerra colonial: Géneve, Paris e o grupo de vanguarda Living Theatre - onde fez parte do elenco do musical "Hair", Brasil e 1ª prisão e meio mundo viajado, Quebéque,Paris de novo, 25 de Abril e o regresso, música, teatro, cinema, histórias para crianças, poesia e... a escrita e canto e a composição sempre de mãos dadas, "Sérgio, o Homem dos sete instrumentos", em cada obra renovado, o Sérgio é, muito provavelmente o mais sério continuador e descendente do Zeca Afonso, de quem ele diz, com o seu ar de menino (já sexagenário ) "é o meu herói".
A acompanhar o genial escritor de "canções de canções, 'a banda' de Sérgio Godinho, nos últimos 10 anos,  os músicos Nuno Rafael: direcção musical, guitarras, coros; Miguel Fevereiro: guitarras, percussão, coros; Nuno Espírito Santo: baixo, coros; João Cardoso: piano, teclados, coros; Sara Côrte-Real: coros, teclados, percussão; Sérgio Nascimento: bateria, percussões; João Cabrita: sopros, coros, percussões. São “O Assessores” – como Sérgio Godinho designa os músicos que trabalham com ele:


“É engraçado, porque etimologicamente a palavra assessor significa ‘estar sentado ao lado de’, e é precisamente isso o que eu sinto em relação aos meus companheiros dos discos e palcos.

Na passada 2ª feira, na FNAC do Chiado foi apresentado este mais recente trabalho - ao chegar, com o Francisco Naia a primeira pessoa que vi  e falei foi o Luís Cília , um dos quatro precursores do Canto de Intervenção com o Zeca Afonso, o Adriano e o Manuel Alegre - , com um prorgrama de rádio em directo, com António Macedo e outro radialista (Antenas 2 e 3) onde se falou muito e o Sérgio cantou pouco, só dois temas, mas mesmo assim valeu a pena:
 Aqui ficam dois temas recentes e três mais antigos mas... sempre actuais:

http://www.youtube.com/watch?v=a-CSlGDQ9H8&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=FHyh578eyao&feature=related

Feiticeira

(Sérgio Godinho- letra e música)
(Pano-cru)

Ai, ai, nos teus olhos
as pestanas são aos molhos, aos molhos
ai, ai nos teus braços as ternuras são aos maços, aos maços

ai, ai, nos teus olhos as pestanas
são aos molhos, aos molhos
e eu não as vejo faz semanas
nos teus olhos, teus olhos,
ai, ai, nos teus braços as ternuras
são aos maços, aos maços
faz já tempo que não me seguras
nos teus braços, teus braços


Ai, ai, ai feiticeira
ai, ai, ai feiticeira
cheira tão bem, sabe bem o teu feitiço
e de que maneira, e de que maneira
manda aí do teu feitiço
Isso!


Ai, ai na tua cama
é que o meu sonho se derrama, derrama
ai, ai, na tua rua
é que o meu passo desagua, desagua
ai na tua cama é que o meu sonho
se derrama, derrama
faz já muito dias que não o ponho
na tua cama, tua cama
ai, ai, na tua rua é que o meu passo
desagua, desagua
faz já meses que não o faço
passar na tua rua, tua rua


Ai, ai, ai feiticeira
ai, ai, feiticeira
cheira tão bem, sabe tão bem o teu feitiço
e de que maneira, e de que maneira
manda aí do teu feitiço
Isso!


Ai, ai, nos teus lábios
Os provérbios são mais sábios, mais sábios
E quem quer saber da vida bebe-os
Dos teus lábios, teus lábios
Ai, ai nas tuas veias
O amor anda às mãos cheias, mãos cheias
Ai, ai, na tua rua
É que o meu passo desagua, desagua
Ai, ai, na tua cama
é que o meu sonho se derrama, derrama
ai, ai nos teus braços
as ternuras são aos maços, aos maços
ai, ai nos teus olhos,
as pestanas são aos molhos, aos molhos

Espalhem a notícia
(Sérgio Godinho - letra e música)
(Canto da boca)

Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
Espalhem a notícia do que é quente
e se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse


Divulguem o encanto
o ventre de que canto
que hoje toco
a pele onde à tardinha desemboco
tão cansado
esse ventre vagabundo
que foi rente e foi fecundo
que eu bebia até ao fundo
saciado


Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher


A terra tremeu ontem
não mais do que anteontem
pressenti-o
O ventre de que falo como um rio
transbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou


Depois de entre os escombros
ergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol, como é costume, foi um augúrio
de bonança
sãos e salvos, felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança


Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher


Falei-vos desse ventre
quem quiser que acrescente
da sua lavra
que a bom entendedor meia palavra
basta, é só


adivinhar o que há mais
os segredos dos locais
que no fundo são iguais
em todos nós


Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo do mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher


A noite passada
(Sérgio Godinho - letra e música)
Escritor de canções


A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia

cantavas "sou gaivota e fui sereia"

ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste


A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo

faltou-me o pé senti que me afundava

por entre as algas teu cabelo boiava

a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos


A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"

1 de set. de 2011

VICTOR SERRA ou a sofreguidão inadiável de VIVER e de AMAR!

O ano passado encontrei o Victor Serra na esplanada do Restaurante “O Bispo” no Seixal. Estava eu com o Francisco Naia, tínhamos acabado de fazer uma sessão de apresentação do meu livro Canto de Intervenção. O Victor irradiava alegria e vontade de viver por todos os poros; estava acompanhado pela sua nova paixão, a sua musa inspiradora , como lhe chamava, a Graça; aliás, estavam… havia ali uma envolvência muito forte, que ao ler estes seus poemas se percebe melhor.

 O Victor Serra foi para mim um velho companheiro de Setúbal dos inícios de oitenta, quando eu era ainda um miúdo, e ele já Homem feito, participamos então, entre outras coisas na fundação da "Grupo de Poetas e Escritores de Setúbal", liderado pelo José António Chocolate Contradanças.

Sempre inconformado e inconformista, sempre “politicamente incorrecto”, o Victor dizia o que tinha a dizer, crítico acutilante dos poderes acomodados, igual a si próprio, exactamente como (re)encontrei no Seixal, depois de longas ausências, interrompidas em Outubro de 2008 em Praias do Sado – quando participámos numa sessão evocativa dos 40 anos da passagem – como então dei conta neste blogue - de uma importante sessão de Canto de Intervenção que em 1968 se realizou  com a participação do Zeca Afonso, o Francisco Naia e os outros cantores, com centenas de oposicionistas a assistirem, e que tomou tais proporções que levaram à sua interrupção pela PIDE e pela GNR e à fuga dos cantores para não serem presos. Depois disso encontrei-me com o Víctor mais duas ou três vezes. Não eramos amigos íntimos, mas haviam afinidades electivas que muito nos aproximavam e era uma festa quando nos encontrávamos. Navegávamos no mesmo barco da irreverência e da utopia, dessa “tribo” indefinível dos Homens e das Mulheres livres.

No seu último aniversário tive um convite para estar presente, que com muita pena declinei por via de uma qualquer actividade “inadiável”.

Eu sei "que nunca mais acenderás no meu o teu cigarro, meu irmão"


No domingo o Chico Naia telefonou-me para me dizer que o Victor Serra tinha morrido. Tinha 60 anos e tinha a sofreguidão do Amor no olhar. Deixo estes seus poemas, uma breve biografia e… o seu exemplo da urgência do Amor, da necessidade imperiosa e irreversível de Viver plena, intensa e sofregamente cada minuto que nos é "permitido" tocar as estrelas, de saber Amar e saber ser-se Amado… enquanto é Tempo!


DEIXO-VOS O PERCURSO
DO DESCONTENTAMENTO....
....DEIXO-VOS A UTOPIA
FAÇAM DELA O QUE QUISEREM....


/....Estarei por fora
Em todas as memórias do silêncio
e não me enquadro nesta sociedade
onde os homens não têm
a criatividade de fazer do amor uma razão de ser.
Invento o amor devagar
em cada gesto
e toco a luz dos meus olhos
em cada rotura à rotina da mediocridade
para me reinventar todos os dias .../



BIOGRAFIA RESUMIDA

VICTOR SERRA

Poeta e Animador Cultural
Nascido em Setúbal em 1950
No Largo do Sapalinho
Publica:
O Livro " Estar por Fora "
Edita em Antologias de Poesia
Escreve em Jornais
Referido no Livro :
"Setúbal Terra de Poetas e Cantadores"
Membro fundador :
Grupo Teatro " Teia "
Grupo Teatro " Sobe e Desce "
Grupo Teatro " Voces Acesas "
Emissor 225 (1969)
Emissor Regional Setúbal
Cantar José Afonso
Banda do Andarilho
Associação José Afonso
Animador Cultural:
1º Canto Livre-Praias do Sado
1º Livro de Luis Vicente
Estreia "As Horas de Maria"
Homenagem José Afonso
Actor de Teatro Amador
1º Festival de Palhaços( Dedicado ao Palhaço Kinito )Festa ao Pintor Alberto Reis
Cantar José Afonso (8 anos)
Produtor de Espectáculos
Recitais de Poesia
Festa Homenagem ao Dimas
Na Direcção:
Clube Recreativo Palhavã
Circulo Cultural Setúbal
Colaborador :
Em Rádios Locais
Exposições de artes
Exposição de artes em 10 colectividades
Recitais no Café Guarany e Bar Triplex (Porto)
                                                                           NO CAFÉ GUARANY - PORTO


POEMAS de Victor Serra


EM CADA LAÇO QUE EMBARAÇA A TUA PELE


Para : Graça Moura


Nua nas dunas do vento
E na língua de fogo da gruta
Que me engole o mar
Fonte da tua fonte
Em cada gesto


Toco no canto da muralha
Abro no meio da floresta
Num casulo de precipícios
Na mina de todos os lugares


Em cada percurso de linho bordado
São mãos dentro de mim
Em cada laço que embaraça a pele
Tocando o sol onde nasce a luz


E pela ponta dos teus dedos
Bebo o néctar dos teus seios
Para te incendiar cada prazer
Riacho desaguando devagar
Na lua perdida e aberta ao fogo
Victor Serra
11/4/2011






NO BRANCO DA SAUDADE




De pele é a luz do encanto
De sede é o prazer e o horizonte


Por onde me perco e me vou
Na busca da fonte e do tempo perdido


Nos lábios bebo o mel das flores
E nas arpas oiço o silvo do prazer
Quando te perdes e libertas dos silêncios


Vou sempre devagar e lentamente perder-me em ti
Como quem escala e busca uma gruta na montanha
E deixo levar-me pelo corpo nu e belo da entrega


Sinto-me como deus amando o universo e as estrelas
E quando mais te libertas em mim... mais vou voando
Voando como quem voa para o planar no paraíso

É belo acordar no branco do altar e sentir o mosto
Descendo pela brancura dos teus seios
Enquanto o arfar do desejo se encontra nas tuas mãos de fada
E no meu corpo possuído por ti


Leva-me sempre como quem leva uma flôr entre os dentes
Numa dança de me pendurares numa nota de música
E deita-me como quem deita um cristal


Vem trazer-me os dedos e as mãos deslizando em mim
Como quem procura algo que nunca tenha encontrado
E perde-te no mais belo dos prazeres
Victor Serra
27/9/2010
Uma Vida Num Saco Plástico


Coloquei uma vida dentro
Uma dúvida e um beijo
Um pedaço de sol e o teu olhar
Cobri de camisas e peúgos usadas
E coloquei num espaço pequeno
O meu grande amor por ti


Fui dando corda
Aos atacadore dos meus sapatos
E mudei de terra


Já não me deitava com o nascer do sol
Nem ouvia os gatos acordarem ao som dos pássaros


Desfrutava de ameixas vermelhas de prazer
E eras a mais bela de todos os meus amores

Tinha colocado o sonho na lua
E o amor era o que de mais belo acontecia
Nem me lembrava já como era viver sózinho


Trazia-te comigo todos os dias
Embrulhada em baba de camelo
Para te saborear os seios
E fui teu como nunca fui de ninguem


Tinha encontrado os lenços de acordar borboletas
E na cama de linho desfrutavas de mim
Como nunca eu tinha desfrutado de ninguem
Atado com túlipas de beijos


Não me deixes ficar em nenhum saco de plástico
Nem me reduzas a copos de um qualquer bar
Quero encontrar-te todas as noites no meu corpo
E nunca mais ter de mudar os sacos da minha vida
Nem sentir que o espaço não é meu.............
Victor Serra
12/4/2010


ANGÚSTIA


Desfraldo no vento a memória
Hesito em me encontrar com as nuvens
Enrolo-me no pensamento do passado
E vou pelo teu corpo descendo
Para me encontrar na gruta dos pássaros
E pintar de branco a descoberta do sol


Pinto riscos de giz nas dobradiças
Ato os nós das cordas do embaraço
E espero os dias do meu perfil
Nas coxas suadas do horizonte


Só me resta tomar de ti os lábios
Sentir a tua boca e a língua da cobra
No descamisar da pele nas dunas do início
Deste medo que me envolve de perder o jardim


Que lado da noite viajo para te encontrar
Que lado dos templos fica o paraíso
Para onde vai o regresso das camas desertas
De onde me deito e depois me levanto
Para te levar coberta de seda
Como se eu acreditasse em fantasmas


Monta as éguas brancas em direcção
Às angústias
Vai desenhando palavras nas tuas perólas
Trás conchas fechadas de poemas
E desejos em todas as madrugadas
Porque não quero
mais fugir de mim


Victor Serra
10-2-2010



CORPOS


Encontro no teu ventre
O sonho de me perder
E nos teus lábios
Acordo todas as madrugadas


Descendo pela tua pele
E pelo teu corpo
Entendo como se levanta
O vulcão do teu prazer


Rasgo a fúria
De me fechares nas tuas pernas
Enquanto brota de dentro de ti
O rio que leva o néctar
À floresta das túlipas


Somos amantes das cavernas
E das trompas que tocam
Num rufar de pernas e abraços
Deitados no chão das montanhas


Quero possuir-te na concha dos deuses
Em espaços para não adiar o amor
Inventando lugar de encanto
Em camas de todos os prazeres
Víctor Serra,
2009

(Biografia, poemas e fotos do blogue Victor Serra Poeta)




O Victor Serra morreu!

Viva a sofreguidão inadiável de VIVER e de AMAR!