14 de out. de 2014

Lançamento da Revista Memória Alentejana. O Montado a Património da Humanidade




O Montado em Revista
No passado dia 10 de Outubro foi lançada a nova edição da revista Memória Alentejana, na Direcção Regional de Cultura do Alentejo, em Évora, especialmente dedicada ao Montado, no âmbito da Candidatura do Montado a Património da Humanidade da UNESCO - projecto de grande envergadura liderado pela Entidade Regional do Turismo do Alentejo e Ribatejo - que patrocinou a edição.

Na cerimónia do lançamento usaram da palavra, a anfitrião, Ana Paula Amendoeira, o Presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva, o Vereador da Cultura do Município de Évora, Eduardo Luciano, O Director do Campo Arqueológico de Mértola, Cláudio Torres, o pintor Manuel Casa Branca e nós, enquanto Director da publicação.

 


Perante uma assistência de quase uma centena de pessoas, que foram brindadas com belas actuações do Grupo Coral Etnográfico Cantares de Évora – liderado pelo Amigo Joaquim Soares – onde pontuavam muitos amigos e autores de textos nesta revista – entre eles os Amigos montemorenses Alexandre Pirata e Manuela Rosa – alguns vindos de Lisboa – Eugénio Sequeira, da Liga  de Protecção da Natureza, o nosso editor e Amigo Fernando Mão de Ferro, da Colibri, Rita Vaz e Cláudio Santos da Finepaper, empresa gráfica que produziu a revista – de Almada - dirigentes associativos, entre eles o Presidente da Alma Alentejana, José Moutela – de Sines – o Amigo Augusto Carvalho Lança – de Coruche - o artesão Arlindo Pirralho – de Mora - Maria da Graça Saraiva - ou José Luís Tirapicos Nunes, da Universidade de Évora, bem como representantes de entidades como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Alentejo, a Directora da Biblioteca Pública de Évora, Zélia Parreira ou o Director da Casa do Cante, Paulo Lima.

Também de registar a presença de muitas Amigas e Amigos de Évora como a Margarida Morgado, a Xana, o Adel Sidarus, o Nuno do Ó e claro o Amigo Director do Diário do Sul, Manuel Madeira Piçarra, que ao contrário do que é usual, pois escusa-se a este tipo de sessões públicas, compareceu com familiares, jornalistas, nomeadamente do Diário do Sul – que fizeram a 
reportagem. E, claro, os Amigos(as) da equipa editorial que estiveram na sessão, que connosco asseguraram  a realização desta edição -  a Ana Pereira Neto (a minha Anita), a Maria Vitória Afonso, o Amadeu Afonso, simpáticos casal de Amigos e companheiros no CEDA e na Memória Alentejana - que inclusive partilharam o transporte dos 600 exemplares da Revista para distribuir pelas diversas entidades já referidas, mas também a CIMAC, Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central, que solidariamente distribui para os 13 concelhos do Alentejo Central – ou o Francisco Naia, Presidente da Direcção do CEDA, bem como os outros companheiros da equipa, que por razões profissionais ou outras não tiveram possibilidade de estar presentes: o Francisco Pinto – Director Financeiro – o João Santos – Editor de Imagem - e os Editores Alberto Franco e António Ramos. 
As intervenções, de grande rigor e qualidade, puseram em destaque, a importância que a Memória Alentejana tem tido desde o seu surgimento após a fundação, em 2000, do CEDA – Centro de estudos Documentais do Alentejo-Memória Colectiva e Cidadania – que a edita, focando especialmente, nesta edição a diversidade de abordagens – o que é ímpar neste tipo de publicação, o trabalho de rigor realizado pelos responsáveis da revista não tendo por objectivo qualquer tipo de compensações, como referiu Ceia da Silva, o contributo que a revista e o CEDA têm dado à Cultura no Alentejo, Paula Amendoeira, a importância deste lançamento acontecer em Évora, Eduardo Luciano, ou o contributo que a revista tem vindo a dar através da riqueza e diversidade das abordagens à valorização patrimonial Alentejana, os Amigos Cláudio Torres e Manuel Casa Branca.
Mensagens recebidas de congratulações dos autarcas, entre várias – os montemorenses Hortênsia Menino e António Danado – José Gonçalves, Vice-Presidente do Município de Almada,  Luís Gil, da Redecor, a Bibliotecária Fernanda Figueiredo ou Luís Palma – antigo companheiro na direcção do CEDA e da Revista e actual  Presidente da União de Freguesias de Laranjeiro e Feijó, que tem a particularidade de nos seus cerca de 40 mil habitantes contar com um parte considerável, provavelmente metade ou mais de Alentejanos e seus descendentes, o que faz desta freguesia uma das maiores, se não a maior do Alentejo e da diáspora.
Na nossa intervenção destacámos ainda a presença – na sessão e na “Grande Entrevista” - de Manuel Madeira Piçarra, Director de jornais há 57 anos – Jornal de Évora e Diário do Sul – o mais antigo director de jornais no activo figura incontornável do imprensa e do Alentejo, uma referência para todos nós.
Aqui fica o editorial

O Montado e a Identidade
No Outono de 2012 propusemos para título das Jornadas literárias em Montemor-o-Novo, realizadas em Maio seguinte, o tema “Entre o Cante e o Montado”, que coordenámos. Se ainda não tínhamos a confirmação da realização da edição da Memória Alentejana sobre o Cante lançada em Castro Verde, em Julho de 2013, patrocinada pelo respectivo município, muito menos imaginávamos a concretização desta edição dedicada ao Montado. Chamemos-lhe rasgo identitário; mas são, de facto, os aspectos identitários em que nós, Alentejanos nos revemos e mais caracterizadores do Alentejo são para o resto do país e para o mundo.
Congratulamo-nos pela contribuição, ainda que indirecta, à candidatura do Cante a Património Imaterial da Humanidade e é com o maior prazer que produzimos esta edição, dando um passo, esperamos que firme, para levar ao conhecimento público o processo, em curso, da Candidatura do Montado a Património da Humanidade, concretizando assim um círculo, isto é, a outra metade de nós: o Montado, espaço da nossa alma e do nosso imaginário, nosso enquanto gentes do Sul ibérico e mediterrânico – alentejanos, mas também ribatejanos, algarvios, extremeños, andaluzes – mas que tem a chancela da ERT Alentejo/Ribatejo, a Entidade Regional de Turismo mais conceituada de Portugal, devido ao excelente trabalho que tem vindo a desenvolver divulgando a região nacional e internacionalmente. Daí as nossas saudações ao seu Presidente, António Ceia da Silva, extensível a toda uma equipa de excepção, onde fazemos especial realce a José Manuel dos Santos, Director de Departamento e nosso interlocutor na aprovação e realização desta edição. É assim que, com orgulho, pusemos as páginas da Memória Alentejana e todo o nosso empenho e dedicação para contribuir para a solidez e o futuro êxito desta candidatura, que tal como a do Cante não deixa indiferente cada Alentejano(a) esteja na pátria transtagana ou radicado na diáspora.

Vai para 14 anos que vamos prosseguindo na Memória Alentejana e no CEDA o combate, diário e permanente, em prol da defesa e valorização do património identitário do nosso Alentejo. Queremos com esta edição dar mais um passo, sempre com a ambição de melhorar, a vários níveis, a prestação deste nosso serviço público – como em 2011, João Cordovil, anterior presidente da CCDR Alentejo, nos referiu na “Grande Entrevista” – passa aqui por apresentar aos nossos leitores artigos técnicos e científicos de alguns dos mais conceituados homens e mulheres que pensam, estudam, investigam, produzem, materializam, divulgam e valorizam o Montado e alguns dos seus aspectos mais relevantes que nos colocam na vanguarda mundial, quer seja a cortiça, o porco alentejano, o habitat, a paisagem, os sabores e os ancestrais saberes associados ao nosso espaço geográfico e mental. A começar pela actual Directora Regional da Cultura do Alentejo e Presidente da Comissão Portuguesa da ICOMOS, Ana Paula Amendoeira que, em 2004, foi precursora da ideia, abraçada depois pela ERT Alentejo/Ribatejo, concretizada em 2010. Nesse sentido publicamos trabalhos de que têm responsabilidades em entidades como a Confraria do Sobreiro e da Cortiça, Escola Superior Agrária de Santarém, LPN, Universidade de Évora, Sociedade de Geografia de Lisboa, LNEG, ISCEM, ISEC, Campo Arqueológico de Mértola ou APCOR como José Mira Potes, João Posser de Andrade, Eugénio Sequeira, Luís Tirapicos Nunes, Ana Fonseca, Vermelho do Corral, Ana Pereira Neto, Luís Gil, Natália Teixeira ou Cláudio Torres. Surgem também actores, especialistas e vivenciadores do Montado como Rogério de Brito, Alberto Franco, João Pereira Santos, Augusto Carvalho Lança, Manuela Rosa, José António Salgueiro ou o artesão Arlindo Pirralho e o reconhecimento internacional pela inovação que Sandra Correia imprimiu no design tendo a cortiça como matéria-prima, mas também, no espaço lúdico, como António Galvão, Graça Saraiva, o inglês – apaixonado pelo Montado ibérico – Rob Miller, ou Manuel Casa Branca – autor da capa desta edição, ou ainda as imagens de quem capta, fotografando, filmando, descrevendo o Montado: casos de António Cunha, Alex Gadum, Pedro Soares, Daniel Pinheiro, Mário de Carvalho – solidário, publica um conto inédito – Florbela Espanca, Francisco Bugalho, Maria Vitória Afonso, ou as respostas de Cláudio Torres e João Serrão ao inquérito endereçado a todos os membros da “Comissão dos Sábios” e as entrevistas, gentilmente cedidas, por Ceia da Silva e Roberto Grilo, Vice-Presidente da CCDRA.

Adicionar legenda
Uma necessária palavra de apreço, nomeadamente à participação e apoio empenhado do Município de Coruche – Capital Mundial da Cortiça - através da Susana Cruz do Observatório do Sobreiro e da Cortiça, mas também do Município de Ponte de Sor – Carlos Manuel Faísca – ou Santiago do Cacém – o Presidente Álvaro Beijinha -  concelhos onde o Montado e a cortiça têm um papel na economia local e dão um enorme contributo para a nacional.  Os municípios participantes e apoiantes, assim como outras entidades, empresariais ou associações profissionais – ajudando a viabilizar o esforço financeiro na concretização – deram, mais uma vez, o exemplo ao contrário de algumas entidades representantes do sector que, tendo sido contactadas, ou não concretizaram a participação ou fazendo-o, esquivaram-se a apoiar. É caso para dizer: esta é uma bandeira de todos nós, em que estamos unidos no esforço e vontade abnegada inclusive do seu reconhecimento pela UNESCO; merece o esforço dos cidadãos, técnicos, cientistas, artistas, escritores, etc  e destas instituições públicas, a começar pela ERT Alentejo/Ribatejo,  responsável pela Candidatura - e pela vastidão de aspectos que esta envolve - enquanto algumas entidades empresariais se envolvem, mas até um certo ponto. É uma questão de solidariedade, de empenhamento social, de cidadania, pelo que mais uma vez há que realçar o papel de Ceia da Silva e da sua equipa neste empenhado objectivo de reforçar a visibilidade internacional do Alentejo.
Mas esta edição não descura a gastronomia, os 40 anos do 25 de Abril - nomeadamente a figura de José Afonso – onde António Nabo, Director da Folha de Montemor e Fernanda Eunice Figueiredo, Responsável pela Rede das Bibliotecas Municipais de Alma assinam textos; destaca, na “Grande Entrevista”, o mais antigo Director de jornais nacionais, o eborense Manuel Madeira Piçarra. Na rúbrica “Acontecendo”- pela primeira vez em 13 anos, atinge a meia centena de recensões e/ou referências a livros, discos, efemérides e realizações sobre ou que importam ao Alentejo. Em evidência, no destaque, O Montado no Portugal Mediterrâneo, o excelente livro de José Mira Potes, bem como a nossa homenagem ao camponês João Domingos Serra, do Lavre,  que com dignidade retratou para a posteridade as agruras da vida rural no século XX português em Uma Família do Alentejo. Mistérios da Natureza e da Política, testemunho tão valoroso que … inspirou o Prémio Nobel português, até o recentemente estreado Alentejo Alentejo, de Sérgio Tréfaut, vencedor do “Prémio de Melhor Filme Português IndieLisboa 2014”.
Neste país onde o sobreiro, felizmente, é a árvore nacional, para completar o círculo identitário, depois do Cante  e do Montado, espera-nos o Pão, o Vinho e o Azeite. Aqui fica a nossa vontade empenhada.
A terminar. São apenas 45 artigos e 50 recensões – sobre livros, discos e outros eventos
edição disponível on-line em:


Eduardo M. Raposo
eduardoepablo@gmail
Director
Fotos de Ana Pereira Neto





20 de jun. de 2014

As palavras e os afectos




 As palavras e os afectos
 Cantores de Abril, apresentado no passado dia 9 Junho, no átrio da Academia Almadense

Perante uma assistência de mais de 100 pessoas, numa organização da Associação Amigos da Cidade de Almada, em parceria com a SCALA e o apoio de outras entidades associativas - CEDA, o Farol, Academia Almadense - com muitos associados presentes, ou de outras associações - como a IMARGEM - e dos AE Anselmo de Andrade e Emídio Navarro e ainda amigos dirigentes de outras entidades associativas - a Casa do Alentejo, a Alma Alentejana, a SFUAP - e o Município de Almada




























partilhou-se a fraternidade numa "noite maravilhosa... foi lindo, lindo! " - como o sr. Rodrigues, Director da Academia Almadense, no final, repetia maravilhado.


Foi uma noite passado ao som da voz de tenor do Chico Naia, acompanhdo pelo Zé Carita, fazendo malabarismo, saltitando de um excerto da "Trova" para outro dos "Vampiros"...






















ou o Coro de Incrível, que, por surpresa do maestro, o Amigo Carita, carinhosamente me dedicaram um tema, ou o "Grupo Coral Amigos do Alentejo" liderados pelo Amigo Afonso, que encerraram com o inconfundível nosso Cante... 













o  Hélder (Costa) que mal chegou lhe pedi, o que fez com satisfação, explicando o contexto sociopolítico em que fez o convite de que resultou na  celebração actuação do Zeca em Grândola



a 18 de Maio de ... 1964 e que foi a génese da "Grândola, Vila Morena". Foi uma noite onde a poesia marcou presença pela voz da Sofia, a minha Sofia, e da Rute, pelo ALPHA Teatro


 





















pela Isabel, que disse dois poemas do Fonte Santa, o seu pai, grande poeta e a Anita, a minha Anita, que leu  o texto sobre o espectáculo de 29 de Março de 1974, no Coliseu dos Recreios...

Aqui vos deixo excertos de intervenções de outros amigos, convidados para esta sessão, que usaram da palavra:

"Sérgio Godinho escreveu numa das suas canções «O passado é um país distante / que distante é a sombra da voz / o passado é a verdade contada / por outro de nós». Também este livro é uma incursão no passado, criando - não lhes chamaria entrevistas mas polaroids - de algumas figuras essenciais para compreender melhor esta época a que se refere o livro, algum tempo antes e depois do 25 de Abril."

(…)

“No seu “Fado da Tristeza”, José Mário Branco escreveu: Não cantes alegrias de encomenda / Que a vida não se remenda / Com morte que não morreu / Canta da cabeça aos pés / Canta com aquilo que és / Só podes dar o que é teu”. E eu acho que foi aquilo que tu fizeste com este livro, Eduardo…”

João Morales
Jornalista, programador literário

O livro “Cantores de Abril” de Eduardo M. Raposo, presta homenagem
aos Poetas e Cantores que fizeram os Cravos florir em Abril, mas também a todos os homens e mulheres que participaram voluntariosamente neste
movimento que tanto contribuiu para a Revolução de 1974 – dirigentes estudantis, jornalistas, críticos, editores de rádio e de televisão. A sua
ousadia foi paga muitas vezes com a prisão e com a tortura, mas nada os demoveu e mantiveram a chama acesa até às “portas
que Abril abriu”.
Este movimento cultural deu um novo rumo à nossa história recente e em tempos de crise de valores éticos e de injustiças sociais que nos fazem lembrar tempos de antigamente, apetece voltar às canções do Zeca Afonso e do Adriano Correia de Oliveira
 (Da badana)
Fernando Mão de Ferro
Edições Colibri



O Eduardo é um homem perseverante. Conheço o Eduardo há quase 30 anos e tenho acompanhado o seu caminho, por vezes com muitas dificuldades, mas ele tem sabido encontrar o caminho certo. Vou de novo usar a imagem que usei há dias no Feijó [no 27º Encontro de Grupos Corais]. Eu nasci num moinho, e para sair de lá o caminho tinha pedras que estavam sempre com água. Mais era o único caminho, não havia outra forma.
Parabéns, Eduardo, por mais esta vitória.

José Gonçalves
Vice-Presidente do Município de Almada
Créditos fotográficos, com a devida vénia, de Gena D´Sousa


16 de jun. de 2014

Zeca Afonso na “Capela Sistina”

Ontem, sábado, foi o dia mais quente do ano ... até ver...
bom, digamos que regressei com o calor, depois de longos seis meses de ausência...
 e venho postar a crónica que deve estar a sair na edição, deste mês de Junho, na "Folha de Montemor", que quero partilhar com todos Vós ...



Zeca Afonso na “Capela Sistina”
ou de como a beleza da Poesia cantada comunga fraternidades
Momento sublime, espectáculo magistral, assim se referia a público aqueles 90 minutos em que numa das mais belas salas do país, público, cantores, músicos e apresentador, unidos pela comunhão do belo na obra poética e musical de José Afonso, no Teatro Garcia de Resende, Évora, no passado dia 31 de Maio, reafirmaram valores de justiça, de fraternidade, de liberdade, de utopia inscritos na obra do génio maior da Canção Popular Portuguesa. Que forma mais nobre de comemorar os 40 anos do 25 de Abril? Que forma mais nobre de reafirmar a absoluta vontade de mais de cem almas unidas no desejo de Portugal retomar os caminhos de Abril?!
África
Depois das palavras iniciais de apresentação, do espectáculo e dos intervenientes, entra a potente voz de tenor de Francisco Naia que, tal como o vinho do Porto, atinge agora o seu apogeu, hoje já septuagenário; e traz-nos “Epígrafe para a arte de furtar”, poema de Jorge de Sena, que de forma tão bela o Zeca musicou quanto o Naia o interpreta. E depois é o Zeca bebé, em Aveiro com as tias, a viagem para Angola no navio “Mouzinho” onde conhece o “homem das barbas”, que o marca tanto como “África [que] era uma coisa imensa, uma natureza inacessível que não tinha fim”. Mas aos oito anos, “agora é Moçambique” - aonde só voltará 37 anos depois - ainda que por pouco tempo, mas “(..) é de novo o paraíso”.

Coimbra
Em 1940 vive em Belmonte – onde o seu era Presidente da Câmara e Comandante da Legião “Foi o pior ano da minha vida”. Depois Coimbra – liceu, Faculdade de Letras, Orfeão, Tuna Académica e, a seguir ao serviço militar em Mafra e às deambulações no ensino para ganhar a vida – tinha constituído família – Mangualde, Aljustrel, Lagos, Faro, Alcobaça (1955-1960), em 1961inicia uma nova fase com “Balada de Outono”. 
O mar, o Amor e a intervenção
Em 1961 está de novo em Faro a dar aulas; é o reencontro com o mar e encontro com o Amor, decisivos na sua obra poética e musical é personificado com o tema “Tenho Barco, tenho remos” (1962). Todavia, quando em 1964 troca a guitarra de Coimbra pela viola acústica, inicia uma nova fase no seu percurso musical e uma nova e decisiva fase na música portuguesa inovando-a; grava então o disco “Cantares de José Afonso” (que é logo proibido), fruto de uma profícua e longa colaboração iniciada com Rui Pato, então com 16 anos, aqui os temas “Menino do Bairro Negro” – aqui interpretado a duas vozes - e “Os vampiros” marcam o início da fase interventiva na sua obra musical, enquanto “Menina dos olhos tristes” (poema de Reinaldo Ferreira) constitui uma denúncia pungente da guerra colonial iniciada em 1961.













O encontro com a Alentejo e a «Grândola»
O segundo encontro com o Alentejo dá-se no dia 17 de Maio de 1964 (de que se assinalou recentemente 50 anos), quando, a convite do seu antigo companheiro de república, o encenador e amigo Hélder Costa actua na “Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense”. Aqui surge a inspiração para o hino – escrito três dias depois - e que dez anos depois é nacional e internacionalmente conhecido: “Grândola, Vila Morena”, hoje mais actual do que nunca. Este momento é assinalado com “Cantar alentejano”, referente a Catarina Eufémia, emocionando a assistência, que acompanha Francisco em coro.
Moçambique  e a consciência social e política
Mas este é o ano em que Zeca Afonso vai dar aulas para Moçambique, primeiro Lourenço Marques (actual Maputo) e entre 1965 e 1967 na Cidade da Beira. Terá então adquirido a mais elevada consciência social e política, tornando-se tornado claramente “persona non grata” para a ditadura, quando ao regressar vem residir para Setúbal. Deste período apresentamos “Carta a Miguel Djéjé”, a duas vozes, de inspiração e influência claramente africanas; e do período seguinte, quando a repressão aperta face a uma intensa actividade, quando o seu nome estava proibido nos jornais – e a censura foi furada quando a “Mosca” (Suplemento do “Diário de Lisboa”) publicou uma foto que eram duas – meia cara do Fanhais e meia do Zeca – que passou, mas deixou os censores furiosos e depois o Pedro Alvim escreveu a história de um homem que havia de ficar para a história: Acez Osnofa… “A morte saiu à rua”, dedicado à memória do pintor José Dias Coelho, assassinado pela PIDE, “Na Rua António Maria (este musicado pelo Naia) dedicado a Conceição Matos, presa pela PIDE, ou “Por trás daquela janela”, este dedicado a Alfredo Matos, preso em Caxias, ou ainda “Vejam bem”, ambos no contexto das prisões de que o próprio Zeca foi alvo, respectivamente em Outubro de 1971 e Abril de 73.
«Cantigas do Maio» e a génese da Nova Música Portuguesa”
A renovação da música portuguesa no Outono de 1971, com “Cantigas do Maio”, o lindíssimo tema homónimo de raiz popular - aqui interpretado a duas vozes, criando uma harmonia rara - que está na génese de Nova Música Portuguesa , em complemento com os discos então saídos de Sérgio Godinho, J. Mário Branco e Adriano Correia de Oliveira.
 “Era  um redondo vocábulo”, um dos mais intimistas dos cerca de 180 temas gravados pelo Zeca entre 1953 e 85, o seu encontro com Benedicto e com a Galiza, “A cidade”, o belo o poderoso poema de Ary dos Santos, neste concerto dedicado especialmente “aos (amigos presentes) músicos, poetas, jornalistas, artistas, autarcas, promotores da arte presente, que diariamente lutam pelo aprofundamento da democracia e pela dignidade do Alentejo”; e de Montemor estavam algumas amigas.
Antes da “Grândola” cantada duas vezes por mais de cem em uníssono, surgiu ainda, deslumbrante “Tu gitana”, do Cancioneiro de Vila Viçosa, do último álbum, “Galinhas do Mato”.
Despedimo-nos com:
Viva o 25 de Abril!
Viva o Alentejo!
“Foi bonita a festa, pá”…


Eduardo M. Raposo
eduardoepablo@gmail.com