30 de ago. de 2007

Mares do Sul...


Em deambulações pelo Sul, onde o espaço é feito de Mar,

de taipa e do prazer da Palavra





reencontro o silêncio na fala das gaivotas, na voz do Mar….


























































Nele cheguei à tenda do beduíno Abdul que me ofereceu chá de menta…



















Nele recordei um fim de tarde de Primavera quando o Cônsul de Marrocos me confidenciou que um dia, há muito tempo, estando o Manuel Alegre em Argel, ele José Alberto Alegria e o Francisco Fanhais passaram por Coimbra no dia do aniversário dele e ofereceram uma rosa à mãe de Manuel…


















Dizem que as ilhas é outro mundo…agora sei que é verdade…
... nas ilhas...onde me cruzei com o meu amigo Corto Maltese, navegando nos Mares do Sul, deste Sul próximo, de mares milenares que tão bem conheço desde quando deles fazia um caminho para a Atlântida…
























Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim




Dizem-me que Corto Maltese navega nos mares da incerteza para construir certezas...










Corto Maltese, outsider dos mares, navegando às vezes sob o signo do Capricórnio.
Ele, tal como eu, somos o cavaleiro em busca da Verdade, em busca do Santo Graal… somos um “senhor” sem dono…
...neste Mar de serenidade, Mar de certezas do Caminho e do Percurso, do Objectivo e da Chegada… onde a Palavra é um reflexo da Vida… e não o contrário…



















16 de ago. de 2007

Sol do Sul...



A ida recente a S. Aleixo, o carinho e o respeito que eu senti tanto das gentes simples como pelas palavras afectuosas dos amigos, a revisitação deste meu Alentejo, que é a minha génese e a minha síntese, desses lugares mágicos onde mais recentemente construí, construo o que sou hoje, desse minha pátria com odor a estevas de que não abdico, não abdicarei nunca, porque do meu presente se trata, porque aí reside a construção da felicidade de que não desisto, não desistirei nunca, o que é “tão pouco e tanto”, é “tudo”, fez renascer em mim a esperança, e a força poderosa que em mim por vezes parece adormecida, mas que mesmo nos momentos de maior angústia e sofrimento não me deixa soçobrar, isso que é tudo deu-me este alento: iniciei hoje a redacção da minha tese de doutoramento há tantos meses adiada. Acredito no absoluto, só assim sei viver. Que se desenganem os que me derem por vencido. Mais uma vez parto para o Sul. Mais uma vez como no poema “Viajante”, de que vos deixo um excerto.

Vou (como acontece tantas vezes)
procurar o equilíbrio que o camponês ancestral
(para quem a cidade é apenas uma tenda de beduíno)
só encontra
no remanso quente
da terra-mãe
ao som do silêncio

Voltarei
no meu cavalo de fogo
pleno de vida
rejuvenescido
voltarei
ao teu encontro

Vou percorrer os lugares do Sul. Qual Corto Maltese pela Andaluzia - Huelva, Sevilha, Córdova, Granada… talvez suba até Barcelona e aproveite para visitar a Teatro-Museu Gala Salvador Dalí em Figueres. Sei que deste génio está uma exposição no Palácio do Freixo… mas eu sou um Homem do Sul!...


14 de ago. de 2007

A fraternidade vem S. Aleixo ou... o odor das estevas de Maio...

«O berço alentejano deu-lhe para sempre a necessidade da liberdade desmedida, infinita mesmo, associada à planície e à lonjura do horizonte, uma liberdade natural, parca de bens matérias mas perfumada e apaixonada em que “só o sonho comanda a vida.”», assim iniciei a intervenção derradeira daquela tarde fraterna, citando uma amiga que ao apresentar esta 3ª edição do Canto de Intervenção 1960-1974" livro no dia 25 de Abril usou as palavras certas como nunca acontecera (há que não ter medo das palavras!) e... acrescentei (pensando nas palavras, momentos antes, da amiga Autarca Isabel Balancho ("sensível, amigo verdadeiro, honesto, um pouco louco... loucura que lhe permite realizar com determinação muitos dos sonhos que parecem irrealizáveis)... acrescentei que a realização dos sonhos é a minha razão de ser, em cada dia porque "a magia é lutarmos. Por um sonho que é a própria Vida." (como escreverá dois anos antes na Nota à 2ª edição).











E o amigo João Paulo Ramôa (que apresentou o livro), de entre muitas coisas certas, disse algo muito bonito: "Une-nos o grande amor que ambos temos pelo Alentejo".





E o Manuel Casa Branca falou-nos da magia dos seus dois trabalhos, que juntou, nascidos com mais de 10 anos de distância.









E reencontrei amigos: o Santiago Macias, o Domingos Breyner (sempre acompanhado pelo seu cavaquinho, a sua disponibilidade e simpatia).






E aconteceu a beleza do Cante... depois, num terraço bordejando os montes ao anoitecer o Manel, após matar a sede, fez desenhos em folhas de mesa das nossas colegas da sessão (não sem ainda tarde dentro saborearmos um belo gaspacho)









e... o convívio continuou pela noite dentro, sempre com uma grande fraternidade das gentes de S. Aleixo; irmãos, como lhe chamei, e...



ao terminar dediquei-lhes um poema de Pablo Neruda...

Pablo, o Poeta do Amor!



"Sou a testemunha que vem

visitar a vossa morada.


Oferecei-me a paz e o vinho.



Amanhã cedo partirei.

Espera-me em toda a parte

a primavera"


Mas antes de partir falei da Poesia, da importância da Poesia no Canto de Intervenção, de como parti da Poesia para a Intervenção, pois "o que me importa é primeiro a Poesia" ... como poderia ser de outra forma se "A Poesia é mais verdadeira do que a História"(Aristóteles). E falei dos temas que prevalecem no Cante e também, de certa forma, no Canto: o Amor, a Natureza, o Trabalho.



... e depois parti... parti, não sem antes revisitar a Torre da Moura Salúquia











e depois de muito andar, cheguei junto às muralhas do mágico Monsaraz de figueiras sagradas, a Horta da Moura e a sua abóbada, lugar certo para pernoitar, para Amar....













































































e parei junto aos salgueiros do rio Degebe...





...uma viagem pela minha Pátria amada com o odor das estevas... que ofereci enfeitei em Maio no reguengo de montemaior...

7 de ago. de 2007

Convite ao Canto ... e à Fraternidade!


Convidam-se todos os Amigos (as) : Alentejanos, Amantes do Alentejo, Poetas, Poetisas, Amantes da Poesia (afinal a razão primeira deste livro) e do nosso Cante, para este momento de fraternidade perto do grande rio do Sul, nesta terra suave e hospitaleira de S. Aleixo da Restauração.

Esperamos por vós, por todos vós!... esperamos: eu, o Manel (Casa Branca), o João Paulo (Ramôa), a Amiga autarca Isabel Balancho, os nossos cantadores e... o povo, Amigo, de S. Aleixo.


Até dia 12, para quem quiser... e puder!



2 de ago. de 2007

Al Berto em "Degredo no Sul" e o Fogo da Terra

Acabo de receber Degredo no Sul pela mão amiga do Paulo Barriga, o seu organizador, que saúdo. Álbum de textos e poemas de Al Berto, poeta do mundo, assim homenageado dez anos depois da partida, numa revisitação da sua «poesia alentejana», o mesmo é dizer do regresso ao mar; Sines, Milfontes, S. Torpes, a Ilha... ao Sul, até Aghmat em "Degredo no Sul Al Mouhatamid", como termina, com a maioria e mais irreversível de todas as percas, neste conjunto de textos e poemas onde a marca do desencanto, da solidão, da destruição, da inquieta realidade onde já não há lugar para a felicidade que teria existido num tempo distante. "Rumos que apontam insistentemente o caminho do exílio, da expatriação, da solidão. O caminho do Sul. A antiga rota dos poetas/guerreiros árabes. O «Degredo no Sul". como nos diz



percorro todos os teus buracos inúteis... alastra-me em re-
dor do coração uma dor de sangue, o asfalto cobre-se de luzes
alucinantes e solidão
da noite ecoam passoa, nas ruas desertas ficam à solta os
animais lendários da minha bebedeira
lutam comigo atá de manhã, morrem à beira da minha
boca


e conheço o amargo pão da tua solda/dura, o ouro líquido
que não chega para enriquecer o homem
o mar tem a solidão dos teus ais... medonhos ais, que per-
sistem para lá da demorada insónia
o sal tornou-se rubro e cospe flores que provocam o sono,
e o esquecimento


neste mesmo mar a Sul, meu mar iniciático em inícios de sessenta, onde regresso ciclicamente encantado, década após década, nestes areais onde caminhei ao vento, onde dormi ao luar, onde levei a Sofia a descobrir os seus mistérios da maresia, onde nadei, nado, ao encontro da Ilha, desafio serenamente o poder do mar imenso e implacável, onde mais recente de novo... fui, sou feliz... no encontro comigo mesmo, iniciando agora um tempo pleno e novo...


















...e depois do mar aconteceu o reencontro com a terra de que andava apartado... o fogo da terra na urgência da Vida, na felicidade, comunhão plena da alma e dos corpos...





Alentejo, Meu Amor




O Sol
fecunda os corpos
incendeia os sentidos …
Uma louca sinfonia
vinda do fundo dos tempos
insaciável e urgente!
Encontro pleno!
o côncavo e o convexo
que se sorvem
que se respiram
que se bebem
… sem palavras


Cavalo de fogo!…
Poderoso!
risca o silêncio do montado
…beija a terra mágica



PS. havia uma ponte antiga, talvez romana…