23 de set. de 2020

A IMPORTÂNCIA DA CANDIDATURA DE ANA GOMES

O nosso (primeiro) contributo para a candidatura de Ana Gomes. Crónica publicada na edição de Setembro do mensário "Folha de Montemor", que saiu exactamente no dia da apresentação da candidatura na Casa da Imprensa, na passada quinta-feira, dia 10. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, A ESQUERDA E O FUTURO DA DEMOCRACIA A IMPORTÂNCIA DA CANDIDATURA DE ANA GOMES A questão central da defesa da democracia prende-se com as eleições presidenciais, tema da crónica desta edição. Presidenciais que num outro contexto – sem pandemia - seria actualmente o principal, ou pelo menos, um dos principais focos de atenção na sociedade portuguesa. Recordo que estas têm lugar em Janeiro e enquanto não se quebra o tabu da recandidatura de actual presidente Marcelo Rebelo de Sousa – que só confirma em Novembro – mas que tudo indica será candidato, pois tem a eleição mais do que garantida. Neste contexto aumentam as dúvidas, as interrogações, as apreensões. Mas estas não surgiram hoje, existem desde quando em Maio passado Costa declarou querer voltar à Autoeuropa com Marcelo "no seu (dele) próximo mandato" em Belém. Mas se esta declaração do PM de apoio à reeleição do PR, ainda que indirecto, teve sequência cinco dias depois com Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, quando este declarou que votava em Marcelo, caso este se venha a recandidatar. Esta declaração de intenções levanta um problema, pois se o cidadão Ferro Rodrigues tem o direito de tornar público o seu sentido de voto, já as repercussões duma declaração deste teor da segunda figura do Estado são graves. E são graves porquê? Porque tal significa refazer o bloco central, quando o governo do Partido Socialista, de que Ferro é um dos principais dirigentes, governou na anterior legislatura com o apoio da esquerda parlamentar – com a famosa “geringonça” – e ainda que na actual legislatura tenha “navegado à vista”, colhendo apoios à esquerda e à direita, prepara-se agora para aprovar o próximo orçamento com apoio da esquerda e não com o apoio da direita. Ferro Rodrigues certamente não esquece a área política de Marcelo, centro-direita, um pouco diferente da área política do seu partido – centro-esquerda, PS que últimos anos se tem assumido, pelo menos parcialmente, à esquerda. Esta postura pouco feliz de Ferro – como aliás já aconteceu noutras situações – deixa subentender que parte importante da esquerda pode ficar refém do centro-direita, quando já está há muito anunciada a candidatura - e está no terreno – da área da extrema-direita populista antidemocrática com laivos fascizantes e autoritários. E à esquerda do PS o que se começa a desenhar: o BE vai apresentar de novo Marisa Matias – seguindo a tradicional estratégia do PCP, que terá a mesma postura - parecendo preocupar-se mais em marcar pontos partidários do que com o futuro da esquerda e da própria democracia. Porque, quer queiramos quer não, é também o futuro da democracia que está em jogo. É necessário haver um(a) candidato(a) que à esquerda congregue o eleitorado que não se revê em Marcelo – e trata-se de uma grande franja do eleitorado – porque se este imenso eleitorado se dividir entre a – perigosa e galopante – abstenção, algum apoio contrariado ao candidato vencedor do “bloco central”, do centro-direita, e os partidos mais à esquerda, sitiados nos seus guetos partidários, fica o campo aberto para uma grande votação no candidato da extrema-direita, quiçá para em 2026 sonhar vir a ser o candidato vencedor. Isto partindo do pressuposto quase certo da recandidatura de Marcelo, porque doutra forma mais grave seria. E como é que a esquerda não se esfrangalha e se posiciona com pujança? A candidatura da Ana Gomes poderá ser a solução. Ana Gomes, com larga experiência internacional, tanto como diplomata e também como eurodeputada – mais do que Marcelo em 2016 – é uma personalidade frontal, irreverente até, o que pode assustar alguma esquerda mais moderada e conservadora. E se há quem possa considerar Ana Gomes um pouco como a “enfant terrible” da esquerda, o que pode levar essa esquerda a recear apoiar Ana Gomes, há que recordar que a direita – pelo menos a direita democrática nunca teve qualquer pudor em dar o seu voto em massa em Marcelo em 2016 e certamente o fará em 2021. E aqui perguntamos: será que Marcelo não o foi durante muito tempo o “enfant terrible” da direita democrática: recordo as querelas com Pinto Balsemão, quando Marcelo foi director do semanário “Expresso” ou posteriormente quando enquanto candidato à Câmara Municipal de Lisboa mergulhou no Tejo para mostrar que é um político diferente. Mas enquanto Marcelo se tem afirmado – e com resultados positivos – pela afectividade, algum (muito) show off à mistura e muito mais simpatia que o seu antecessor – o que não era difícil - Ana Gomes, que também é simpática, privilegia a frontalidade na denúncia da corrupção, das injustiças, dos “podres” da nossa democracia, que precisam de ser podados pela raiz para não levar à sua irreversível autodestruição. Quem tem medo de Ana Gomes como candidata da esquerda coerente, que poderá fazer o pleno da esquerda com Marcelo em 2021, com dignidade e coerência, e com a possibilidade de candidata vencedora em 2026? *Perto do fecho desta edição a notícia chega às redações: Ana Gomes é candidata! Eduardo M. Raposo eduardomraposo0@gmail

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