6 de ago. de 2020

O encontro entre o Zeca Afonso e a Amália Rodrigues

A Amália nasceu em Julho. O Zeca em Agosto. aqui fica o registo do seu único encontro, em 1984. O encontro entre o Zeca Afonso e a Amália Rodrigues Desde o mês passado o país inteiro tem vindo a assistir às comemorações do centenário do nascimento de Amália Rodrigues. No domingo passado, dia 2, passou 91 anos sobre o nascimento de Zeca Afonso. Partilho aqui o único encontro entre os dois nomes maiores da música portuguesa, Zeca Afonso e a Amália, texto que está incluído no meu próximo livro a sair em breve, "Amor e Vinho. Da Poesia Luso-Árabe à Nova Música Portuguesa. Mil anos de Poesia". Refiro-me ao encontro Entre o Zeca Afonso e a Amália Rodrigues, encontro organizado e contado pelo camarada (da escrita) Eugénio Alves, e já referido no meu anterior "Cantores de Abril". "Pela seu interesse histórico e pela sua beleza emotiva, transcrevemos o encontro ocorrido em 1984 entre José Afonso e Amália Rodrigues, - seguramente os dois nomes maiores da música portuguesa na segunda metade do século XX e que representavam e representam correntes e ideias diversas. É-nos relatado por Eugénio Alves, (RAPOSO,,2000 a: 47) que na altura era dirigente do Clube dos Jornalistas e foi o anfitrião: « A Amália era considerada uma cantora do regime e o Zeca o homem da oposição: Muita coisa os separava, mas o Clube dos Jornalistas, numa festa de lançamento resolver, por proposta minha, juntar os dois grandes intérpretes da música portuguesa. Eu fiquei encarregado de convencer o Zeca, o que não foi fácil. Só lhe disse no próprio dia e apenas lhe falei que havia uma festa. Ele ripostou que estava sem gravata mas eu retorqui que não era um homem de gravata e lá acabei por levá-lo, embora fosse um pouco zangado comigo. Eu era anfitrião e membro da direcção e expliquei-lhe que não era obrigado a falar com ela. Ele resmungou; já estava um pouco debilitado, com sintomas da doença. A Amália chegou depois e quando soube que o Zeca estava lá, foi ela que tomou a iniciativa de falar com ele. Eu estava com receio da reacção dele. A cena foi assim. A Amália aproximou-se muito comovida pelo facto de ele estar doente e ao mesmo tempo receosa e perguntou-lhe: - Zeca, acha que eu canto bem? Ao que ele respondeu: -Então se a senhora não canta bem, quem é que canta bem em Portugal? Ela chorou comovida. Foi de facto um momento único esse primeiro e único encontro desses dois ‘monstros’ da nossa música. De facto, ele era um homem ‘fechado’, era rígido na defesa dos valores da liberdade, de uma sociedade mais justa, dos seus valores políticos na defesa dos interesses populares, mas em termos humanos era aberto, generoso e a atitude dele em relação à Amália foi paradigmática. A Amália, se calhar, foi mais utilizada pelo regime, por razões conjunturais, como ele no fundo também foi, embora em sentido contrário». Deixando votos para que o Zeca - que só nos últimos anos deixou de ser persona non grata para o poder instituído no nosso regime democrático - continue a ser cada vez mais divulgado, respeitado, recriado mas também, ouvido, ouvido - que é coisa que hoje praticamente não acontece. Enfim, que os dois grandes da música portuguesa sejam tratados como ambos mereceu e a Amália Rodrigues sempre foi, excepto nuns escassos anos com em que estava na moda ser de esquerda e ler o Avante! Viva a música portuguesa! Viva a poesia!

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