24 de dez. de 2010

Viver também cansa...

O Natal é um data triste... o mais feliz talvez tenha sido há, há muito tempo, há mais de 40 anos, quando recebi um brinquedo dado pelo minha doce a saudosa avó Irene. Gritei de alegria... a reacção do meu neto ontem quando lhe levei um comboio com uma pista - como nunca tive  - mas afinal não era tão mágico como eu gostaria, mas ele adorou e isso amenizou-me a tristeza.
Já me aconteceram muitas coisas no Natal: desde um acidente ferroviário, sem consequências físicas, quando era adolescente, positivista e ateu convicto e deambulava sozinho, apenas curioso e descrente a visitar a Missa do Galo, ou já adulto, quando, por opção passei a Noite de Natal em Barrancos - onde o Natal é festejado na Praça central com o povo a conviver colectivamente, com o meu Amigo João Honrado, e depois a convite do meu Amigo António Tereno - num mandato em que ele não era o Presidente da Autaquia mas o povo tratava-o como tal -  fomos uns breves instantes à Missa do Galo; ou ainda quando em trabalho de campo, na aldeia de Ousilhão, Vinhais, Trás-os-Montes, vivi intensamente as Festividades Pagãs, refiro-me à Festa dos Rapazes.
Eu sou um pássaro e se me sinto prisioneiro como me agora acontece - o telémovel meio avarido, o carro avariado que não me permite ir respirar o meu Alentejo - acabo por não ser boa companhia para ninguém. Quando ainda menino, não compreendia os pássaros, cheguei a aprisioná-los em gaiolas, uma ou duas vezes chegaram a morrer... eu pensava que era de fome ou de sede... levei muito tempo a perceber que também se morre de tristeza... a tristeza erradia-se com um sorriso lumionoso ou uma palavra de uma voz doce...

Hoje li uma frase de Stravinski  que com vós partilho... apesar de enorme tristeza ainda continuo, tento continuar a acreditar, a acreditar na Beleza, na Beleza, na Fraternidade, por isso partilho também um poema de Ary dos Santos, interpretado genialmente pelo Zeca Afonso, apesar de me sentir prisioneiro do que o Homem inventou, mas que afinal não lhe traz felicidade: há um século, há muitas décadas, não seria prisioneiro de carros, de telémoveis, até de mim própio... Viver também cansa!...

A todos os meus Amigos (as) e todos os que passarem por aqui, peço-vos encarecidamente:
SEJAM FELIZES!!!!....



O acto de criar precisa de uma força dinâmica, e que força é mais potente do que o amor?


                                    Igor Stravinski







A cidade é um chão de palavras pisadas






A cidade é um chão de palavras pisadas


a palavra criança a palavra segredo.


A cidade é um céu de palavras paradas


a palavra distância e a palavra medo.






A cidade é um saco um pulmão que respira


pela palavra água pela palavra brisa


A cidade é um poro um corpo que transpira


pela palavra sangue pela palavra ira.






A cidade tem praças de palavras abertas


como estátuas mandadas apear.


A cidade tem ruas de palavras desertas


como jardins mandados arrancar.






A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.


A palavra silêncio é uma rosa chá.


Não há céu de palavras que a cidade não cubra


não há rua de sons que a palavra não corra


à procura da sombra de uma luz que não há.


                                                   José Carlos Ary dos Santos

7 comentários:

Paulo Francisco disse...

Vou tentar!
Dois textos lindos...
Um beijo!

Guida Rosa disse...

Aquele velhinho sempre povoou os meus sonhos!
Ao acordar, eu olhava e não o via...
O saco de brinquedos era minha adoração!
Ao acordar, eu procurava e não o encontrava.
O sapato, na janela, continuava vazio...
Em cada aniversário dele, eu sonhava e buscava.
E os sinos repicando na torre da Igreja
Blém - blom...blém-blom... blém-blom
Pareciam me dizer: desilusão...desilusão...desilusão...
O tempo foi passando, a dor eu acalentando,
Até que entendi que o brinquedo era simbólico
Que o velhinho não existia
Que aquele, era o dia da Salvação!
Que Maria deu seu filho Jesus
para a nossa Redenção!
Com alegria percebi
que os sinos mudaram o som
que em mim agora ecoava
a palavra coração...coração...coração...
E o espírito do Natal, eu comecei a viver!


Feliz Natal!
Que você possa ter a alegria de vivê-lo em sua plenitude!

Um Ano Novo cheio de paz!
Ouvindo sempre os sinos do amor fraterno,
da solidariedade, da compreensão.

Manuel CasaBranca disse...

Olá, não podes vir até cá, mas estás connosco na amizade, vou beber um copo de porto a brindar pela tua saúde, e também pela "saúde" do teu carro, pois então. Abraço e feliz Natal, para ti e para os teus...

Ezul disse...

Cansa, cansa muito mas...aprendemos uma vez a andar,podemos reaprender sempre! Hoje o Natal custa-me menos, deixei de acreditar que ele se comemora nesta data e prefirto guardá-lo no significado das pequenas e das grandes coisas que são verdadeiramente valiosas para mim. Hoje desejo um Ano Novo cheio de prosperidade mas sei que o único caminho que Janeiro há-de trazer será o de um duro tempo, de tristes veredas. Mas, ainda assim, acredito que o Natal só existirá se o levarmos para esses momentos em que se terá de plantar e alimentar a força, a solidariedade e a luta!
Um Bom Natal e que os sonhos nunca acabem!

Guaraciaba Perides disse...

Os poetas sofrem porque sentem a vida com mais intensidade ,mas também são mais felizes pelo mesmo motivo...vão além da matéria e vivem com a alma aberta para Terra e para o Céu.Feliz Natal pelo se u valor intrínseco e pelos momentos bons que ele já nos deu e pode ainda proporcionar.

Paulo Francisco disse...

Vim desejar a você um 2011 de paz e muito amor!

perfume de laranjeira disse...

A todos vós desejo um Ano de 2011 luminoso!