A Beleza não tem regras. Acontece... ou não.
Foi assim que acabei a apresentação da minha tese de Doutoramento, na passada 6ª feira, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/Universidade Nova de Lisboa, intitulada
"Fundamentos Históricos da Poesia Luso-Árabe ( no século de Almutâmide) na Nova Música Portuguesa. O Amor e o Vinho".
Perante um júri presidido pela representante do Reitor e do Conselho Científico, onde fizeram a arguência principal António Borges Coelho e Manuel Freire, e com a participação de António Pedro Vicente (orientador), assim como Fernando Rosas, Sérgio Campos de Matos, Fernanda Abreu, Luís Farinha, Gabriela Terenas e Manuel Loff, e... apesar dos protocolos, terminei com a leitura de dois dos mais belos poemas de Almutâmide, ambos versão de Adalberto Alves - o primeiro cantado por Eduardo Ramos no seu disco Cântico para Al Mutamid
Itimad
Invisível a meus olhos
Trago-te sempre no coração
Te envio um adeus feito paixão
E lágrimas de pena com insónia.
Inventaste como possuir-me, e eu
O indomável tão submisso vou ficando
Meu desejo é estar contigo sempre
Oxalá se realize tal vontade
Assegura-me que o juramento que nos une
Nunca a distância o fará quebrar.
Doce é o nome que é o teu
E fica escrito no poema: I’ timâd.
Poder
meu olfacto é teu odor delicioso
e o teu rosto o senhor dos olhos meus,
por seres minha, mesmo depois do adeus,
é que todos me chamam poderoso.
Perante uma assistência que quase enchia a sala, composta por Amigos: cantores, músicos, poetas, como o Francisco Naia, o Janita Salomé, o maestro Manuel Jerónimo, a Maria vitória Afonso e o Amadeu, a Joseia Matos Mira e esposo, o Francisco Pinto, o António Silva, o Ferraz da Conceição, o Teixeira, entre outros, e claro, os meus pais, os meus irmãos Carlos e Ricardo e a minha filha Sofia. Outros amigos, que sei que gostariam de estar, não lhes foi possível pelos mais diversos motivos: trabalho, saúde, obrigações familiares, etc... outros ainda, enviaram mensagens de solidariedade, e foram muitos: o Sérgio Godinho, o Jorge Souto (que está em Luanda), o Manuel Malheiros, o Francisco do Ó, o joão Paulo Ramôa, o António Nabo (perdoem-me os que não refiro, pois de facto foram muitos amigos)... ainda assim, os Amigos (e o Alentejo e a Poesia) estiveram bem representados ...
Depois, ao fim da tarde Almutâmide e o Amor não deixaram de ser (de novo) simbólica e interiormente evocados ao som do silêncio de um belo tinto de Estremoz, no Pateo Árabe da Casa do Alentejo, por entre pétalas de rosa, exactamente no mesmo local onde se lançou, há quase uma década, um suave livro ao som de cânticos medievais (sefarditas).
foto retirada da NET
Partilho connvosco um poema - seguramente um dos mais belos - de José Afonso, que já publiquei algures neste blogue, mas que
tem a particularidade de abrir este tese de Doutoramento, assim como a Nota de Abertura... que agora já se pode divulgar...
Maria
Maria
Nascida no monte
À beira da estrada
Maria
Bebida na fonte
Nas ervas criada
Talvez
Que Maria se espante
De ser tão louvada
Mas não
Quem por ela se prende
De a ver tão prendada
Maria
Nascida do trevo
Criada no trigo
Quem dera
Maria que o trevo
Casara comigo
Prouvera
A Maria sem medo
Crer no que lhe digo
Maria
Nascida no trevo
Beiral do mendigo
Maria
Nascida no trevo
Beiral do mendigo
Maria
De todas primeira
De todas menina
Maria
Soubera a cigana
Ler a tua sina
Não sei
Se deveras se engana
Quem demais se afina
Maria
Sol da madrugada
Flor de tangerina
Maria
Sol de madrugada
Flor de tangerina
José Afonso
(Cantares de José Afonso – 1964)
Nota de Abertura
" Poesia da Música ao som da Pintura
Este trabalho foi escrito no Sul. E, mesmo quando pontualmente ali não estava fisicamente, o Sul estava-me no corpo, estava-me no olhar, era o sabor do Sul que tinha nos lábios.
Havia telas com o Sul na alma, havia Música, havia Poesia, havia a amizade fraterna do meu amigo Manel (o pintor Manuel Casa Branca).
O meu mundo era o seu simpático e suave atelier e era o castelo – o castelo mais bonito de todos, não só pelas suas ruínas e pela imagem de longe, muito doce harmoniosa, mas também quando caminhamos por entre o Paço do Alcaide, nas suas etéreas ruínas, tão românticas.
O meu mundo era as amoras que colhia diariamente na Ecopista e me deliciava com cada recanto daquele lugar paradisíaco, lugar solar ou nocturno, onde eu gostava de caminhar ao anoitecer.
Escrevia e esperava. A minha rotina era então uma descoberta permanente, um deslumbramento quase contínuo por cada pedra, cada monte em ruínas. Escrevia, caminhava. Escrevia e esperava, esperava serenamente…"
Este Doutoramento dedico-o aos Amigos (as) que das mais diversas formas me apoiaram e incentivaram, dedico-o ao Alentejo e à Beleza!
... a propósito da Beleza...
6 de dez. de 2010
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5 comentários:
Parabéns!!!!!
Dez...nota dez!!!
Mais uma etapa concluída. Um abraço com muita alegria e cumplicidade. A beleza não tem regras, tem processos :-)
Parabéns pelo sucesso de sua tese e pela escolha de Zeca Afonso, grande compositor e letrista como lídimo representante do melhor da música portuguesa. Infelizmente, não tão conhecido como deveria aqui no Brasii, talvez só nos círculos musicais mais específicos.Um abraço
Doutorado é um passo gigantesco na escala da educação, meus parabéns! Quanto aos fragmentos poéticos, me encantaram me inspiraram, me fizeram refletir...
Por isso sigo-te com prazer.
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