19 de dez. de 2010

Entre a Terra e o Mar


"Amo-te" é o título de um projecto onde coexistem Escultura, Desenho e Projecção Vídeo, de Marco Fidalgo, patente desde dia 11 de Dezembro no Galeria 9Ocre, no âmbito de um conjunto de exposições e eventos organizadas nesta data na referida galeira  e no Convento de S. Francisco, pela Associação Cultural de Montemor-o-Novo "Oficinas do Convento". Resultante de residências artísticas levadas a cabo em 2010 nas áreas da música, escultura, poesia visual, fotografia e design de equipamento sob o tema "Da terra e do ar" e dos conceitos de peso, e de que foram seleccionados seis projectos, entre eles "Amo-te" de Marco Fidalgo, que logrou instalar as pranchas de cortiça retiradas de um sobreiro da Adua, que nesta instalação na Galeria 9Ocre ultrapassa os três metros. Curiosamente,  Marco Fidalgo, o autor, que aqui trabalha a terra quente e voluptuosa do Sul, vive no Porto... mas é natural de Setúbal, cidade de mar e rio azul turquesa....

ou a Terra neste poema de Martinho Marques, Poeta e Amigo de Beja, poema em que tanto me revejo...

A terra à beira da noite


Com o vagar da sombra da lonjura
que a tarde entorna sobre o descampado,
a distância prolonga-se e perdura
para além deste tempo limitado.


Vem de longe o aroma a terra pura
repetir as lavoiras do passado
e eu sou a mais estranha criatura
sobre a terra que sonha o céu estrelado.


O poente põe luzes na cidade,
mas a cidade nem sequer supõe
a luz dolente que o poente encerra.


Nada me sei, todo me sinto e há-de
ser sempre assim que o sol quando se põe
me põe a mim a prolongar a terra.

in Uma terra nos planos do mar, Martinho Marques (poemas) António Cunha (fotografias), Região de Turismo Planície Dourada, Beja, 1997


... muito perto de outro rio - naquele grande braço de mar interior, conhecido como Mar da Palha, em que o Tejo se espraia em frente a Lisboa em direcção aos suaves montes da Arrábida - no espaço municipal de exposições do Miratejo, fomos surpreendidos por outra exposição, composta por um conjunto de trabalhos da pintora Luísa Gonçalves, em acrílico, que têm a particularidade de serem pintados directamente, sem o uso do pincel, e onde também surge o Desenho a carvão; visões oníricas de percursos e vivencias, onde a artista se desnuda no seu eu mais profundo perante a sensual vertigem da tentação da lasciva fusão com o Mar imenso... e sempre presente.




















ou o Mar nest'outro belo e pungente poema de Martinho Marques....

A rapariga de Cochim


Disseram que, por ficar,
eu fora fiel ao rei
ou ao mar,
mas eu não sei.


Sei que na fímbria dos mares,
depois das ondas bravias,
vim descobrir que há olhares
melhores que especiarias.




Ela era ainda tão cedo,
que mal saíra de casa.
Tinha no corpo um segredo,
tinha nos olhos a Ásia.



(…)



Tinha nas mãos tropicais
o aroma de benjoim,
tinha fascínio de mais,
tinha domínio de mim.


(…)



Tinha o que faz o sentido,
tinha na voz o recado,
tinha o que eu tinha perdido,
tinha o que eu tinha sonhado.



Fez-me de irmão e de escravo,
tinha o que eu tinha por ela.
Tinha nos lábios o cravo,
tinha na pele a canela..



Foi por ela que fiquei
e, se fui fiel, não sei
se foi ao rei
ou a ela.


in mítica e íntima Índia, António Cunha (fotografias) Martinho Marques (textos), Região de Turismo Planície Dourada, Beja, 1998

2 comentários:

Paulo Francisco disse...

Nossa! Imagens e textos lindos.
Adorei!

Manuel CasaBranca disse...

boas fotos e excelente descrição da exposição aqui na 9ocre.
abraço