às/aos Amantes da Poesia
e da Beleza...
Almutâmide - O Príncipe dos Poetas
de Beja a Agmat
Almutâmide Ibne Abbade, (Beja–1040/Agmat-1055) é considerado o mais importante poeta da segunda metade do século XI no Garbe al-Andalus, num período excepcionalmente rico ao nível da criação poética, de entre cerca de 40 excelentes poetas que viveram nesse período.
Terá nascido na Casa dos Corvos, perto onde se situa o Cine-Teatro Pax Julia. Aos 13 anos instalou-se em Silves, onde viveu até aos 28 anos, período muito rico de criação literária, marcado pela exaltação dos sentidos e dos sentimentos. Foi quando conheceu a futura princesa Itimade e o seu maior amigo, o grande poeta Ibne Amar.
O seu breve reinado de 22 anos em Sevilha, designado por “Século de Almutâmide”, protagonizou o apogeu civilizacional que deu continuidade e superou as cortes califais de Damasco, Bagdade e Córdova, onde as Ciências, a Filosofia, as Artes, as Letras, a Música e a Poesia eram protegidas e honradas.
Com a tomada do al-Andalus pelos Almorávidas, é desterrado para Agmat em 1091, onde morre, quatro anos depois, no meio do maior sofrimento, miséria e tristeza.
Hoje descansa num mausoléu com Itimade e uma das suas filhas, onde é visitado e venerado pelos amantes da Poesia de todo o mundo.
Almutâmide é um símbolo de uma época onde personifica o Príncipe renascentista avant la lettre: Poeta, rei, amante, cultor das artes, das letras, da Beleza. Mas é também a marca da perenidade, pois os quase mil anos que nos distanciam de Almutâmide são apenas um breve “parêntesis”; ao lermos a sua Poesia percebemos que estamos perante uma vertiginosa “aventura poética”, de que é símbolo e protagonizou com outros grandes poetas seus contemporâneos (como Ibne Amar, Ibne Sara, Ibne Bassame, Ibne Darrague, Ibne Abdune, entre muitos) que nos “falam”do que nos é familiar, do que sentimos, vivemos, do Sol e do luar e nos iluminam e encantam; sentimos a sua respiração, comem connosco à mesa, bebem connosco o vinho da fraternidade e da exaltação dos sentidos.
Com esta evocação da passagem dos 970 anos do nascimento de Almutâmide em Beja, propomo-nos assumir esta nossa matriz identitária mediterrânica milenar, resgatando do fundo da Memória este nosso património intangível latente nas soleiras das nossas casas do Sul, nas cores azul e ocre, no silêncio, nos cheiros, nos sabores, no triangulo feito do Pão, Azeite e Vinho.
Esta será uma primeira realização, a que esperamos dar continuidade, num âmbito mais alargado e diversificado, devolvendo à comunidade, valorizando-o este riquíssimo património.
É tempo de fazer de Beja a Capital da Poesia, resgatar a antiga Pax Julia romana e a Baja islâmica, posicionando-a na perspectiva de uma centralidade cultural no País, na Península e no mundo Mediterrânico.
O Vinho
a noite lavava as sombras
das suas pálpebras com a aurora,
ligeira corria a brisa.
bebemos vinho velho, cor de rubi,
denso aroma, suave corpo.
Saudação a Silves
viva Abû Bakr!
saúda por mim, asinha,
os queridos lugares de Silves
e diz-me se deles a saudade
é tão grande quanto a minha.
saúda o palácio dos Balcões
da parte de quem não esqueceu.
a morada de gazelas e leões,
salas e sombras onde eu
doce refúgio encontrava
Entre ancas que lá achava
e bem tão estreitas cinturas.
moças níveas ou escuras
atravessavam-me alma
como brancas espadas
ou lanças aceradas.
ai quantas noites fiquei,
lá no remanso do rio,
nos jogos d'amor m'embaracei
com a da pulseira curva
igual aos meandros da água,
sem ver o tempo passar…
bebia vinho, sem mágoa:
o vinho do seu olhar
às vezes o do seu copo
e outras o da boca.
tangia-me cordas de alaúde:
minh'alma ficava louca
como se ouvisse crispados
tendões de colos cortados.
e se retirava as vestes
mostrando encantos de amor,
era um salgueiro prestes
a abrir o seu botão
para me mostrar a flor.
(Versões de Adalberto Alves)
Um comentário:
gostei de passear por aqui..
abraço !!
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