6 de mar. de 2011

Manuel da Fonseca - Cem anos de Poesia!...

Num poste editado em 21 de Outubro referia  dois grandes poetas - Federico García Lorca e Manuel da Fonseca - que me marcaram profundamente e, nomeadamente o Manel (era assim que o tratavamos) da Fonseca, que nos longínquos anos 70, revelou-me um mundo para mim até aí desconhecido - ou oculto?.. à espera de ser desflorado, lapidado -  a tal ponto, que no dia em que o ouvi, nasci poeta. O Manel nasceu a 15 de Outubro de 1911. Este ano de 2011 é pois o ano dos Cem anos do nascimento do Manel - figura decisiva das letras, no Alentejo e no mundo, o Manel, figura mítica que valorizou a aurea do maltês, livre como o vento, e valorizou-o não apenas na literatura, mas também na Vida, senhor de uma ironia sibilina, quase corrosiva, homem de uma enorme coragem intelectual e física - foi campeão de boxe e protagonizou atitudes de frontal desafio a inspectores da PIDE e tenentes da Guarda (GNR), como o Zé da Fonte Santa - seu companheiro de muitas "aventuras" intelectuais, políticas e conviviais - me confidenciou, nomeadamente quando em plena ditadura, à saída de um Tribunal Plenário (onde eram julgados os oposicionistas ao regime ditatorial, um inspector da PIDE identificou e tentou prender o Zé, ao que o Manel, assim que se apercebou, fez de imediato um"comício", e como havia muitos oposicionistas, o agente da polícia política viu-se em desvantagem e teve que fazer uma retirada estratégica. Doutra vez, dias depois de um movimento grevista, violentamente reprimido com feridos e muitas prisões, em Santiago do Cacém, o Manel enfrentou o comandante da Guarda, deu-lhe uma valente descompostura publicamente - e o chefe local das forças repressivas, senhor todo poderoso, a mudar de cores, a bater nervoso com a chibata na mesa - e o Zé temendo a reacção do militar (o Zé que também era muito corajoso mas aqui tentou ser sensato) a tentar levar o Manel, mas este enquanto não disse tudo o que tinha a dizer ao comandante da guarda, que bufava e mudava de cores mas nada fez, não abalou.
O Manel, o saudoso Manel que numa entrevista que me deu em meados de oitenta - publicada no trissemanério Setubalense com o sugestivo e provocante título, citando o Manel: "Quem diz que Portugal é um País de poetas está a armar ao cágado", o saudoso Manel, que como ninguém fez da palavra escrita e falada o "instrumento"mais poderoso e mais belo do universo, do velho e querido Poeta - agora que já envelheci a ser maltês e vagabundo, a ser sobretudo Livre para dar e receber Amor, agora meu querido Manel já tenho coragem para te chamar Compadre como nunca aconteceu em vida. Compadre! Onde estiveres, a semear a Beleza, no universo, deixa-me ser este teu...


O Vagabundo do Mar



Sou barco de vela e remo
sou vagabundo do mar.
Não tendo escala marcada
nem hora para chegar:
é tudo conforme o vento,
tudo conforme a maré…
Muitas vezes acontece
largar o rumo tomado
da praia para onde ia…
Foi o vento que virou?
Foi o mar que enraiveceu
e não há porto de abrigo?
ou foi a minha vontade
de vagabundo do mar?
Sei lá.
Fosse o que fosse
não tenho rota marcada
ando ao sabor da maré.
É por isso, meus amigos,
que a tempestade da Vida
me apanhou no alto mar.
E agora,
queira ou não queira,
cara alegre e braço forte:
estou no meu posto a lutar!
Se for ao fundo acabou-se,
Estas coisas acontecem
Aos vagabundos do mar.

3 comentários:

Paulo Francisco disse...

Gostei deste jeito vagabundo!
Adorei o texto.
Um abraço.

Lúcia Laborda disse...

Aos vagabundos do mar; sobram as doces histórias, a alegria da liberdade, os amores que ficam a sonhar.
A lua quando reluz,traz todo encanto desse mar lindo. E as horas marcadas pelo sol, trazem o encanto desse mar infindo!
Lindo poema! Garcia Lorca e Manuel da Fonseca, dispensam quaisquer comentários...
Boa semana! Beijos

maria Afonso disse...

Manuel da Fonseca eJosé Fonte Santa duas figuras ímpares do Sudoeste Alentejano que tanto se orgulha de terem nascido na terra transtagana.Justa homenagem de um alentejano que também vive com euforia toda a riqueza cultural da nossa terra.
Maria Campaniça