2 de dez. de 2009

Primeiro Beijo


Rui Veloso, poeta do canto, intérprete inigualável do nosso universo romântico - urbano, universal - do seu “Porto Sentido”  com “Primeiro Beijo” até porque “O Prometido é Devido" pois eu sou o teu “Cavaleiro Andante” do "Bairro do Oriente. Estes e muitos outros poemas, saídos da pena de Carlos Tê, escritor de canções,  cantadas pela voz única do Rui Veloso, adquiriram a magia de se tornarem em hinos – como aconteceu com outros poemas por outras gerações - ou quiçá, se não seria assim para os seus contemporâneos os poemas de Almutâmide, Ibne Amar ou Ibne Sara - em símbolos para aqueles que, como nós acreditam que o romantismo é talvez o lado maior do encantamento em que podemos tornar a vida; saboreá-la plenamente valorizando o que de mais belo ela tem para nos dar: o Amor, o Amor por quem amamos, e até por nós próprios.

Redescobrindo-nos ao som de dois poetas: o Carlos Tê  e o Rui, poeta  da voz e da melodia,  cantando Canções de Amor...





Primeiro Beijo

Recebi o teu bilhete
para ir ter ao jardim
a tua caixa de segredos
queres abri-la para mim
e tu não vais fraquejar
ninguém vai saber de nada
juro não me vou gabar
a minha boca é sagrada

Estar mesmo atrás de ti
ver-te da minha carteira
sei de cor o teu cabelo
sei o shampoo a que cheira
já não como, já não durmo
e eu caia se te minto
haverá gente informada
se é amor isto que sinto

Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa



Promete lá outro encontro
foi tão fogaz que nem deu
para ver como era o fogo
que a tua boca prometeu
pensava que a tua língua
sabia a flôr do jasmim
sabe a chiclete de mentol
e eu gosto dela assim


Quero o meu primeiro beijo
não quero ficar impune
e dizer-te cara a cara
muito mais é o que nos une
que aquilo que nos separa












Bairro do Oriente
 (Ar de Rock,1980)




Tenho à janela
Uma velha cornucópia
Cheia de alfazema
E orquídeas da Etiópia


Tenho um transístor ao pé da cama
Com sons de harpas e oboés
E cantigas de outras terras
Que percorri de lés-a-lés


Tenho uma lamparina
Que trouxe das arábias
Para te amar à luz do azeite
Num kama-sutra de noites sábias


Tenho junto ao psyché
Um grande cachimbo d'água
Que sentados no canapé
Fumamos ao cair da mágoa

Tenho um astrolábio
Que me deram beduínos
Para medir no firmamento
Os teus olhos astralinos


Vem vem à minha casa
Rebolar na cama e no jardim
Acender a ignomínia
E a má língua do código pasquim
Que nos condena numa alínea
A ter sexo de querubim





Cavaleiro Andante
(Rui Veloso, 1986)

Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras


Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe


Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou

Sempre que a rádio diga
Que a América roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua


Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz


Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau









Porto Sentido
(Rui Veloso, 1986)





Quem vem e atravessa o rio
Junto à serra do Pilar
vê um velho casario
que se estende ate ao mar

Quem te vê ao vir da ponte
és cascata, são-joanina
dirigida sobre um monte
no meio da neblina.

Por ruelas e calçadas
da Ribeira até à Foz
por pedras sujas e gastas
e lampiões tristes e sós.


E esse teu ar grave e sério
dum rosto e cantaria
que nos oculta o mistério
dessa luz bela e sombria

(refrão)



Ver-te assim abandonada
nesse timbre pardacento
nesse teu jeito fechado
de quem mói um sentimento

E é sempre a primeira vez
em cada regresso a casa
rever-te nessa altivez
de milhafre ferido na asa





"Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja"


Guadiana
(Lado Lunar,1995)

Corre nobre Guadiana
espelho de moura formosa
vai ficando uma ribeira
pela terra sequiosa

Nunca pensei assistir
à tua dor na charneca
és como um Deus a cair
ante a barbárie da seca


Corre Guadiana
pela terra alentejana
pudesse dar-te esta canção
a vertigem dos caudais

dar-te o farto aluvião
das águas primordias



E ver-te com dignidade
a correr entre os campos
como o rio que tem um caminho
desde o começo dos tempos

Ouve as pedras do teu leito
a pedir que não as deixe
ouve os barcos parados
ouve os homens ouve os peixes

Corre corre Guadiana
por essa terra raiana
que eu faço um apelo aos lagos
convoco nos céu as fontes
teço três meadas de água
dos fios perdidos nos montes



2 comentários:

perfume de laranjeira disse...

Da Poeta Maria Vitória Afonso recebi esta mensagem, que não publicou por dificuldades
técnicas e me pede a publicação, o quer faço com prazer.

"Acho de muito bom gosto ter incluido Rui Veloso no seu site.É o meu cantor preferido e Carlos Tê o maior letrista português em termos de profundidade e sentido estético.
Gostaria de ter incluido aí a letra "Porto Covo".
Só conheço 2 poemas sobre Porto Covo, esse e o meu denominado "Baía
de Porto Covo.".
Realmente concordo consigo sobre o romantismo. Como poeta alentejano
sabe dele impregnar a sua vida e transmiti-lo aos que agravelmente
leem o seu site.
São sempre momentos de beleza."
Maria Vitória

Sobre Porto Côvo preferi o poema menos conhecido Guadiana. O primeiro é muito bonito, o Carlos Tê soube falar desse local mágico, de que guardo recordações plenas, sublimes: das viagens a nado e de barco à ilha ou dos momentos mágicos no forte filipino, o campismo natural ou o pique-nique com copos de cristal. Mas a opção foi outra.

Bem Haja, Amiga!

perfume de laranjeira disse...

Da Poeta Maria Vitória Afonso recebi esta mensagem, que não publicou por dificuldades
técnicas e me pede a publicação, o quer faço com prazer.

"Acho de muito bom gosto ter incluido Rui Veloso no seu site.É o meu cantor preferido e Carlos Tê o maior letrista português em termos de profundidade e sentido estético.
Gostaria de ter incluido aí a letra "Porto Covo".
Só conheço 2 poemas sobre Porto Covo, esse e o meu denominado "Baía
de Porto Covo.".
Realmente concordo consigo sobre o romantismo. Como poeta alentejano
sabe dele impregnar a sua vida e transmiti-lo aos que agravelmente
leem o seu site.
São sempre momentos de beleza."
Maria Vitória

Sobre Porto Côvo preferi o poema menos conhecido Guadiana. O primeiro é muito bonito, o Carlos Tê soube falar desse local mágico, de que guardo recordações plenas, sublimes: das viagens a nado e de barco à ilha ou dos momentos mágicos no forte filipino, o campismo natural ou o pique-nique com copos de cristal. Mas a opção foi outra.

Bem Haja, Amiga!