4 de dez. de 2009

Vou-me embora... mando recado pelas aves...

Vitorino, Cantador do Amor. No seu ar grave de chapéu, todo de preto, Vitorino viajante do vento desde os cantadores do Redondo até Lisboa, Paris, outras paragens - Cuba, Cabo Verde, mas com o Alentejo sempre presente, no coração. O Sul é também muito cantar Lisboa, mas é sempre cantar o Amor. E canta o Amor e a mulher amada como poucos.

Sobre Vitorino – TUDO, o disco que assinala trinta anos de carreira de Vitorino, escrevemos em 2006:



“ O Alentejo, Lisboa. O Amor. O Amor. Uma antologia. São 50 temas de Amor. Três CDs com as modas mais bonitas, mais belas, mais sedutoras do Vitorino. Porque, como diz David Ferreira em texto de abertura no livreto anexo:


«Único elo de ligação possível entre tantos mundos: o Amor. Vitorino é um emotivo em tempos dominados por gente que julga que no lado esquerdo do peito há apenas uma algibeira para guardar os documentos e o cartão de crédito.


É o amor que torna tão vivo este Alentejo onde de facto nos perdemos ao longo do 1º disco desta antologia. Nem precisamos de fechar os olhos, ouvindo-o já estamos lá.


É o amor que torna tão emocionante a Lisboa do 2º disco, a que ele tão bem conhece, nem por isso deixando de recorrer volta e meia aos olhares que sobre ela lança o seu cúmplice António Lobo Antunes.


É o Amor que o leva a cantar… o Amor. Vitorino canta a Mulher como poucos, encantado por esse mistério irresistível, por ela deixava todos os álcoois. Por ela, ele vai no 3º disco da algarvia Laurinda (linda, linda… ) - que o Giacometti encontrou no cancioneiro popular – ao fim do Mundo, ao tango do Gardel ou a Cuba, tinha de ser, canta o Amor.


E não valerá pena – Diz-me que sim, mesmo que mintas! – ir até ao fim do Mundo atrás duma mulher?!»


David Ferreira já sabe a resposta, e que não duvide porque mentir não é necessário...  essa é a razão de ser primeira e basta ouvir “Litania para uma Amor ausente” o tema (de Luís Andrade) que, de tantos tão bonitos, é de todos eles é um dos meus preferidos.



Litania para um Amor ausente

(Luis Andrade/Vitorino, Não há terra que resista)




Com a noite me deito


Com o dia me levanto


Canta-me um pássaro no peito


Vai-me a tristeza no canto


Como um cavalo no prado


Seca-me a água do pranto,


Deste rio desatado


Deste rio desatado


Seca-me a água do pranto


Seca-me a água do pranto


Como um cavalo no prado


Vai-me a tristeza no canto


Vai-me a tristeza no canto


Canta-me um pássaro no peito


Canta-me um pássaro no peito


Com o dia me levanto


Com a noite me deito









Laurinda
(Popular/Recolha e adaptação de Vitorino)


Am Am



Ó Laurinda, linda, linda


Am Am


Ó Laurinda, linda, linda


Dm Dm Am Am


És mais linda do qu'o Sol(e)


Dm Dm Am Am


Dei xa-me dormir uma noite


E E Am


Nas bordas do teu lençol


Sim, sim, cavalheiro, sim


Sim, sim, cavalheiro, sim


Hoje sim, amanhã não


Meu marido, não esta cá


Foi pr'a feira de Marvão


Onze horas, meia-noite


Onze horas, meia-noite


Marido a porta bateu


Bateu uma, bateu duas


Laurinda não respondeu


Ou ela está doentinha


Ou ela está doentinha


Ou encontrou outro amor


Ou então procur'a chave


Lá no meio do corredor


De quem é aquele chapéu?


De quem é aquele chapéu?


Debroado a galão


É para ti meu marido


Que fiz eu por minha mão


De quem é aquele casaco?


De quem é aquele casaco?


Que ali vejo pendurado


É para ti meu marido


Que o trazeis bem ganhado(?)


De quem é aquele cavalo?



De quem é aquele cavalo?


Que na minha esquadra entrou


É para ti meu marido


Foi teu pai quem tu mandou


De quem é aquele suspiro?


De quem é aquele suspiro?


Que ao meu leito se atirou


Laurinda, que aquilo ouviu


Caiu no chão desmaiou


Ó Laurinda, linda, linda


Ó Laurinda, linda, linda


Não vale a pena desmaiar


Todo o amor, que t'eu tinha


Vai-se agora acabar


Vai buscar as tuas irmãs


Vai buscar as tuas irmãs


Trá-las todas num andor


Que a mais linda delas todas

Há-de ser meu novo amor



Eu hei-de amar uma pedra

(Vitorino, Romances)
 Eu hei-de amar uma pedra


Deixar o teu coração


Uma pedra sempre é mais firme


Tu és falsa e sem razão


Quando eu estava d´abalada


Meu amor para te ver


Armou-se uma trovoada


Mais tarde deu em chover


Mais tarde deu em chover


Sem fazer frio nem nada


Meu amor para te ver


Quando eu estava d´abalada











Do outro lado do Tejo
(Manuel Alegre e Vitorino/Vitorino)


Gramática de coentro e cal


Geometria do branco e do azul


Solidão como sinal quase cigarra


Quase sul


Em seu falar como um cantar de amigo.


Aqui acaba o último e o primeiro


E um procura o outro seu igual


Para dizer um nome entre azinheira e trigo.


Este é o chão mais puro e verdadeiro


E a pátria senta-se comigo


À sombra de um sobreiro...







Vou-me embora
(Vitorino - Negro Fado)


Adeus rio Sado, não volto


Mudo pra outro lugar


Vou fazer vida mais longe


Vou pra terra deixo o mar.


As horas más que passei


Na minha embarcação


Deixo-as (nunca te as contei)


Se o vento fôr de feição.


Mas um dia tu bem sabes


Se o lírio do campo florir


Mando recado pelas aves


Das novas do meu sentir.


Não esqueças o tal encontro


Marcado no roseiral


Espero nos quatro caminhos

Daquele dia de Abril.






                                                   Vou-me embora... vou pró Sul ... entre o Tejo e o Odiana

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