Vitorino, Cantador do Amor. No seu ar grave de chapéu, todo de preto, Vitorino viajante do vento desde os cantadores do Redondo até Lisboa, Paris, outras paragens - Cuba, Cabo Verde, mas com o Alentejo sempre presente, no coração. O Sul é também muito cantar Lisboa, mas é sempre cantar o Amor. E canta o Amor e a mulher amada como poucos.
Sobre Vitorino – TUDO, o disco que assinala trinta anos de carreira de Vitorino, escrevemos em 2006:
“ O Alentejo, Lisboa. O Amor. O Amor. Uma antologia. São 50 temas de Amor. Três CDs com as modas mais bonitas, mais belas, mais sedutoras do Vitorino. Porque, como diz David Ferreira em texto de abertura no livreto anexo:
«Único elo de ligação possível entre tantos mundos: o Amor. Vitorino é um emotivo em tempos dominados por gente que julga que no lado esquerdo do peito há apenas uma algibeira para guardar os documentos e o cartão de crédito.
É o amor que torna tão vivo este Alentejo onde de facto nos perdemos ao longo do 1º disco desta antologia. Nem precisamos de fechar os olhos, ouvindo-o já estamos lá.
É o amor que torna tão emocionante a Lisboa do 2º disco, a que ele tão bem conhece, nem por isso deixando de recorrer volta e meia aos olhares que sobre ela lança o seu cúmplice António Lobo Antunes.
É o Amor que o leva a cantar… o Amor. Vitorino canta a Mulher como poucos, encantado por esse mistério irresistível, por ela deixava todos os álcoois. Por ela, ele vai no 3º disco da algarvia Laurinda (linda, linda… ) - que o Giacometti encontrou no cancioneiro popular – ao fim do Mundo, ao tango do Gardel ou a Cuba, tinha de ser, canta o Amor.
E não valerá pena – Diz-me que sim, mesmo que mintas! – ir até ao fim do Mundo atrás duma mulher?!»
David Ferreira já sabe a resposta, e que não duvide porque mentir não é necessário... essa é a razão de ser primeira e basta ouvir “Litania para uma Amor ausente” o tema (de Luís Andrade) que, de tantos tão bonitos, é de todos eles é um dos meus preferidos.
Litania para um Amor ausente
(Luis Andrade/Vitorino, Não há terra que resista)
Com a noite me deito
Com o dia me levanto
Canta-me um pássaro no peito
Vai-me a tristeza no canto
Como um cavalo no prado
Seca-me a água do pranto,
Deste rio desatado
Deste rio desatado
Seca-me a água do pranto
Seca-me a água do pranto
Como um cavalo no prado
Vai-me a tristeza no canto
Vai-me a tristeza no canto
Canta-me um pássaro no peito
Canta-me um pássaro no peito
Com o dia me levanto
Com a noite me deito
Laurinda
(Popular/Recolha e adaptação de Vitorino)
Am Am
Ó Laurinda, linda, linda
Am Am
Ó Laurinda, linda, linda
Dm Dm Am Am
És mais linda do qu'o Sol(e)
Dm Dm Am Am
Dei xa-me dormir uma noite
E E Am
Nas bordas do teu lençol
Sim, sim, cavalheiro, sim
Sim, sim, cavalheiro, sim
Hoje sim, amanhã não
Meu marido, não esta cá
Foi pr'a feira de Marvão
Onze horas, meia-noite
Onze horas, meia-noite
Marido a porta bateu
Bateu uma, bateu duas
Laurinda não respondeu
Ou ela está doentinha
Ou ela está doentinha
Ou encontrou outro amor
Ou então procur'a chave
Lá no meio do corredor
De quem é aquele chapéu?
De quem é aquele chapéu?
Debroado a galão
É para ti meu marido
Que fiz eu por minha mão
De quem é aquele casaco?
De quem é aquele casaco?
Que ali vejo pendurado
É para ti meu marido
Que o trazeis bem ganhado(?)
De quem é aquele cavalo?
De quem é aquele cavalo?
Que na minha esquadra entrou
É para ti meu marido
Foi teu pai quem tu mandou
De quem é aquele suspiro?
De quem é aquele suspiro?
Que ao meu leito se atirou
Laurinda, que aquilo ouviu
Caiu no chão desmaiou
Ó Laurinda, linda, linda
Ó Laurinda, linda, linda
Não vale a pena desmaiar
Todo o amor, que t'eu tinha
Vai-se agora acabar
Vai buscar as tuas irmãs
Vai buscar as tuas irmãs
Trá-las todas num andor
Que a mais linda delas todas
Há-de ser meu novo amor
Eu hei-de amar uma pedra
(Vitorino, Romances)
Eu hei-de amar uma pedra
Deixar o teu coração
Uma pedra sempre é mais firme
Tu és falsa e sem razão
Quando eu estava d´abalada
Meu amor para te ver
Armou-se uma trovoada
Mais tarde deu em chover
Mais tarde deu em chover
Sem fazer frio nem nada
Meu amor para te ver
Quando eu estava d´abalada
Do outro lado do Tejo
(Manuel Alegre e Vitorino/Vitorino)
Gramática de coentro e cal
Geometria do branco e do azul
Solidão como sinal quase cigarra
Quase sul
Em seu falar como um cantar de amigo.
Aqui acaba o último e o primeiro
E um procura o outro seu igual
Para dizer um nome entre azinheira e trigo.
Este é o chão mais puro e verdadeiro
E a pátria senta-se comigo
À sombra de um sobreiro...
Vou-me embora
(Vitorino - Negro Fado)
Adeus rio Sado, não volto
Mudo pra outro lugar
Vou fazer vida mais longe
Vou pra terra deixo o mar.
As horas más que passei
Na minha embarcação
Deixo-as (nunca te as contei)
Se o vento fôr de feição.
Mas um dia tu bem sabes
Se o lírio do campo florir
Mando recado pelas aves
Das novas do meu sentir.
Não esqueças o tal encontro
Marcado no roseiral
Espero nos quatro caminhos
Daquele dia de Abril.
Vou-me embora... vou pró Sul ... entre o Tejo e o Odiana
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