Pois é, cá estamos de novo na Páscoa. Só que desta feita sem papoilas e com noites muito frias... muito provavelmente estão relacionadas. Neste curto período - que pena ser tão curto - abrandamento de trabalho aqui ficam algumas imagens de eventos em que participamos/assistimos nas últimas duas semanas:
O II Fórum Ibérico do Tejo, em Vila Franca de Xira, 19 e 20 de Março, com cerca de 20 oradores, metade deles castelhanos e andaluzes. Muito interessante, onde se realça a excelente intervenção de Carlos Teigas, investigador da U Porto e empresário - que não se limita a pôr questão mas arregaça as mangas e vai para o terreno apresentando resultados palpáveis, objectivos e muito, muito positivos (este é cá dos meus não se limita a reflectir, age!). Só foi pena que nas conclusões os aspectos patrimoniais identitários das populações ribeirinhas ficassem relegados para segundíssimo plano, como se as mais valias se medissem apenas em termos turístico-economicistas.
Na imagem com os Profs Carlos Lopes Bento e (o Amigo) Vermelho do Corral
Mas na semana anterior já tínhamos estado no Feijó, no Clube Recreativo, onde os nossos "Amigos do Alentejo", organizaram , no dia 12 o "5º encontro de coros feminino alentejanos" com a participação de: "Grupo Coral Etnográfico As Ceifeiras de Entradas";As Papoilas" de A-do-Corvo, também do concelho de Castro Verde; "Grupo Coral Feminino Vozes de Barrancos"; "Grupo Coral Feminino de Viana do Alentejo"; "Grupo Coral Feminino Recordar a Mocidade, do CIRL", Laranjeiro e o grupo organizador.
No dia 19 foi o grande dia.
O "Grupo Coral Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó", assinalou, com grande grande festa o seu 30º Aniversário, momento de grande emoção a que tivemos o grato prazer de nos associar, oferecendo, em nome do CEDA e da Revista Memória Alentejana a última edição da Revista justamente "O Cante na Diáspora" e o CD "Cante na Diáspora" - patrocinado solidariamente pela Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó, que ainda aguarda data de lançamento, mas que está a ser muito solicitado nesta fase inicial de distribuição aos grupos participantes, municípios alentejanos através das respectivas Comunidades Intermunicipais e entidades apoiantes.
Foi uma festa bonita e fraterno de Cante e música popular que acabou com o tradicional jantar de grão, onde os valores da cultura alentejana marcaram orgulhosamente presença!
26 de mar. de 2016
17 de mar. de 2016
Em defesa do ensino responsável
Hoje no canal público, RTP1, o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, deu uma lição de bom senso e respeito pela democracia e autonomia das escolas ao explicar que no cumprimento do Programa do governo acabara com os exames intercalares e implementara provas de aferição nos 2º, 5º e 8 º anos, salvo erro. E perante a insistência irritante do entrevistador Paulo Dentinho - que parecia não perceber as respostas e fez várias vezes as mesmas questões - lá foi calma e pacientemente explicando que depois de ouvir 700 directores escolares, resolvera deixar ao livre arbítrio das escolas e dos respectivos conselhos pedagógicos a decisão de realizarem ou não, em cada escola, as ditas provas de aferição: que afinal são isso mesmo; destinam-se a aferir o estado de aprendizagem dos alunos. Ao contrário dos exames que, enquanto avaliação externa levam a uma preparação dos alunos em função dessa avaliação externa. Opostamente, esta avaliação no ambiente onde os alunos mais saudavelmente poderão apreender e progredir - no meu tempo do "Ensino Unificado" designava-se por avaliação contínua - deixando que cada escola e os seus representantes no conselho pedagógico decidam o que e como fazer é uma exercício de maturidade democrática e de responsabilidade. Em defesa do ensino responsável, em defesa o que é melhor para os alunos, afinal em prol de quem se devem direccionar todos os esforços por um ensino melhor!

16 de mar. de 2016
Nico e o Alentejo
Nicolau Breyner, Alentejano de Serpa, cidadão do mundo, Actor do universo, partiu. Como dizia o mestre Almada Negreiros, "O importante é o espectáculo!" Nico deu-se todo, deu toda a sua alegria esfuziante, a sua vontade imensa de viver, de todas as formas possíveis e imaginárias, para a a arte de representar!
Nicolau Breyner partiu.
Viva Nicolau Breyner!
Nicolau Breyner amava o Alentejo!
Tal como eu e como muitos e muitas Alentejanos(as)
A seguir publico um artigo que foi a crónica da última edição da Folha de Montemor, a propósito de um livrito muito badalado, quando a mim demasiado. Pôr os pontos nos iis sobre os valores do Alentejo é também a minha forma singela mas sentida de homenagear Nicolau Breyner, ele que foi um Homem do tamanho do Mundo, ao contrário deste rapaz - Henrique Raposo, felizmente não me é nada - um rapazito que manda umas "bocas", meras opiniões, mas convencido que têm alguma importância e tenta elevá-las a verdades científicas... lamentáveis equívocos...

A terminar cito um excerto com que me identifico, com a devida vénia, do blogue
Dito isto, o livro Alentejo Prometido pode até, de uma certa forma, ser interessante como exemplo da opinião de um forasteiro - o que será que eles pensam de nós? - e o livro está bem escrito, há que dizê-lo. Mas aquele não é o meu Alentejo. E, embora não me ofenda (pelo amor de deus, é só um livrinho de 107 páginas de um rapaz que gosta de dizer coisas), entristece-me. Eu, como boa alentejana que sou, gostava que toda a gente gostasse da minha terra e sentisse a alegria que eu sinto quando vou no meu carro e vejo a planície a aproximar-se, aquela imensidão, aquele cheiro, aquele desolamento, aquela sensação única de estar em casa."
Nicolau Breyner partiu.
Viva Nicolau Breyner!
Nicolau Breyner amava o Alentejo!
Tal como eu e como muitos e muitas Alentejanos(as)
A seguir publico um artigo que foi a crónica da última edição da Folha de Montemor, a propósito de um livrito muito badalado, quando a mim demasiado. Pôr os pontos nos iis sobre os valores do Alentejo é também a minha forma singela mas sentida de homenagear Nicolau Breyner, ele que foi um Homem do tamanho do Mundo, ao contrário deste rapaz - Henrique Raposo, felizmente não me é nada - um rapazito que manda umas "bocas", meras opiniões, mas convencido que têm alguma importância e tenta elevá-las a verdades científicas... lamentáveis equívocos...
intitulei: A
liberdade de expressão e o direito à indignação
A propósito de um livro
polémico, Alentejo prometido, de
Henrique Raposo – editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos na colecção
Retratos da Fundação - que escamoteia a realidade da ruralidade e alguns factos
históricos no século XX português, iniciamos nesta edição de Março um conjunto
de crónicas sobre os Alentejanos na Diáspora.
O autor situa as suas
origens familiares no Litoral Alentejano, algures entre Alvalade-Sado e São
Domingos – freguesias de Santiago do Cacém - em povoações nas imediações da
Ribeira de Campilhas, afluente do Rio Sado, e da Barragem de Fonte de Serne; referimo-nos
a Foros da Pouca Sorte – aldeia dos seus avós - vizinha do Foros da Casa Nova,
onde, pela mão do meu pai, visitei diversas vezes os meus avós paternos, uns
bons dez anos antes de o autor nascer. Todavia o mesmo apelido parece ser pura
coincidência e para além do prazer da escrita, será porventura o único aspecto
que temos em comum.
Parece-nos um absurdo o
alarido provocado à volta da edição de um livro que tem previsto o seu
lançamento para o final do dia de fecho desta edição sob inéditas medidas de
segurança. Afinal trata-se apenas de um road
movie, como o próprio autor se lhe refere. Toda a mediatização que lhe está
a ser dada não faz qualquer sentido, pois concorde-se ou discorde-se, afinal a
democracia é isso mesmo; é aceitar a opinião dos outros mesmo que diversa.
Curiosamente concordo
com Rui Cardoso Martins, ex-jornalista do Público
e escritor premiado - esteve em Montemor nas II Jornadas Literárias em 2012 –
que declarou no passado dia 5 ao DN “Acho
triste e estúpido que alguém queira proibir ou queimar um livro”, como já
aconteceu com este livro. Diria mais; acho uma atitude quase inquisitorial, um
perfeito disparate. Mas se Henrique Raposo tem o direito a expressar o seu
ponto de vista, também acho que quem não concorda tem o seu direito a
indignar-se; todavia, deverá fazê-lo usando os mesmos meios. Poderão
contrapor-me dizendo que nem todos têm acesso aos que o autor tem… bem, também
posso dizer que o livro último que lancei, há um ano em Montemor – Urbano, o Eterno Sedutor - e umas
semanas depois foi apresentando na Casa do Alentejo por um dos escritores e
intelectuais contemporâneos mais brilhantes como é o caso do Miguel Real –
aliás o (editor) Fernando Mão de Ferro considera-o não apenas um dos mas o
melhor, o mais brilhante – livro este que certamente não será um contributo
menor, ainda que diferente, para conhecer o Alentejo e a sua cultura e
identidade mas, por outro lado, não teve nem de perto nem de longe a
visibilidade e a mediatização deste e é muito provável que toda esta polémica,
este frenesim o transforme num best-seller.
É evidente que o autor
denota frontalidade, irreverência e até uma certa coragem ao assumir que não se
revê, não se sente alentejano nem pertença de um Alentejo que julgava
prometido, ainda que mantenha memórias do cheiro do café quente e das fatias de
ovos – as citadinas “douradas” – o cheiro dos candeeiros a petróleo, as
corridas de bicicleta com o irmão em liberdade total, a alegria de apanhar
tomate na horta – eu ainda me recordo de visitar as primas que iam trabalhar
para a fábrica do tomate, em Alvalade, a viverem temporariamente naquelas casas
de telha vã, ou de me deliciar na horta que o meu pai, ferroviário, tinha junto
à estação da CP da Funcheira. Todos esses aspectos não me são indiferentes, de
maneira nenhuma, pois estão presentes, fazem parte das minhas memórias da
infância, do meu imaginário, facto que acaba por criar uma certa empatia com
esta escrita. Mas isso não apaga, não atenua um conjunto de meias verdades a
partir de uma leitura grosseira de factos históricos, apenas de pressupostos, ilações
e meras suposições ao generalizar o que é a sua percepção pessoal, mas que o
autor tem a ambição de elevar a verdades sociológicas devidamente comprovadas, o
que acaba por redundar em verdadeiros disparates.
Afinal o autor desconhece
o mundo rural, todo o mundo rural de Norte a Sul, que certamente teria – ou
terá muitas semelhanças àquelas que aponta ao Alentejo, a saber: a
discriminação das mulheres que só o 25 de Abril alterou por força da lei e dos
costumes nas décadas seguintes e que até então estava generalizada
especialmente a todo o mundo rural e que mesmo nas grandes cidades só
encontramos alterações significativas em classes sociais elevadas a partir de
sessenta. É evidente que as gerações mais jovens, com outros horizontes,
encontram nas cidades uma certa libertação - “ só tive sexo em Lisboa… “(p.
31) à claustrofobia das terras do
interior, mas certamente de todo o interior, desde o Minho ao Algarve. Admira-se
o autor, por outro lado, como os habitués dum café em Alvalade-Sado, em 2010, que
estavam embasbacados com a tatuagem que a empregada tinha “…entre o rabo e as
costas”(mesma p.). Não fazendo juízos de valor sobre o propósito eventualmente
sedutor da tatuagem, que a proprietária desta tinha o direito de ter, as
“bocas” e a desatenção ao futebol que provocava, situações dessas são similares
em todo o lado – dou num ápice meia dúzia de exemplos na “libertadora” cintura
industrial para onde os alentejanos migraram às centenas de milhar. Até nos
bairros populares de Lisboa, Porto. Excepções serão os locais frequentados
pelas elites de Lisboa e Porto… e pouco mais
Como não percebo por
que razão seria quase revolucionário a aproximação à religião católica –
convívio e amizade próxima dos seus primos de Santiago para com o pároco local
– e tenho que voltar a concordar com o Rui C. Martins, quando refere que a
pouca religiosidade dos alentejanos – para ele e para mim - é um motivo de
elogio, ao contrário do autor que a apelida de amoral… não sei se é
desconhecimento mas o autor devia ter presente que o Alentejo tem na sua génese
cultural um território marcado pelo encontro de todas as culturas urbanas -
e religiões - que, nos últimos cinco mil
anos alicerçaram o espaço indo-europeu – não foi só a romanização, nem só o Garbe
al-Andalus e o seu apogeu civilizacional, ou
a 1ª dinastia e sobretudo a segunda que estabeleceu a corte itinerante
quase sempre em cidades e vilas alentejanas: D. João II ou D. Manuel que casou
em primeiras e segundas núpcias em Alcácer do Sal… a guerra civil no século XIX
os resquícios nas décadas seguintes trouxeram muita violência a todo o país,
nomeadamente ao mundo rural e não só ao Alentejo… mas nada que obstaculiza-se a
que D. Carlos que tanto gostava de estar em Vila Viçosa não tivesse ido beber
ao montado alentejano a inspiração para as grandes obras que pintou e que fez
dele um dos grandes pintores portugueses da época… afinal, ainda hoje a grande
religiosidade do alentejano baseia-se na sua relação ancestral com a terra!...
No que concerne à questão
da violência versus honra, aconselhava o autor a documentar-se melhor sobre a
Comuna da Luz, o pensamento tolstoisiano de António Gonçalves Correia – que
protegia formigas do afogamento eminente e libertava pássaros no Jardim público
de Beja, dando vivas à Liberdade. A importância da palavra – que marca o nosso
mundo mediterrânico – e do seu valor como factor de exteriorização da Honra e
talvez perceba a razão porque José Júlio da Costa – natural de Garvão, como eu
- matou Sidónio Pais, facto que terá que merecer a respectiva contextualização
histórica tanto quanto a morte dos cunhados – que conjuravam para o matar – às
mãos do Príncipe Perfeito… e recordar-lhe que até pelo menos meados do século
XX os contratos era selados com um aperto de mãos…
O Alentejo foi a região
mais politizada do país fora dos grandes centros urbanos – Brito Camacho, foi o
1º deputado republicano eleito antes de 1910, pelo círculo de Beja - daí que enfrentar a PIDE durante o Estado Novo,
como o autor refere, não é uma questão propriamente de “masoquismo” mas sim de
consciencialização política.
Quanto à questão dos
filhos ilegítimos, que tanto incomoda o autor, gostaria de lhe recordar que a
segunda dinastia foi fundada na bastardia – o Mestre de Avis era filho da
criada de Inês de Castro e foi um seu filho bastardo, ao se unir à filha do
Condestável, que deu originem à poderosa Casa de Bragança que ainda hoje
perdura…
Quanto à acusação dos
Alentejanos serem individualistas, serem hostis ou terem orgulho de
analfabetismo ou querer que Santiago seja representativo do universo Alentejo…
meu caro leitor, estamos apenas perante um road
movie. Termino desejando ao autor tanto êxito quanto as revistas que tem
nome de mulher!
A terminar cito um excerto com que me identifico, com a devida vénia, do blogue
A Gata Christie ,
"Como disse, são opiniões. Ele tem as dele, eu tenho as minhas. E, acima de tudo, há algo que me separa de Henrique Raposo: é que eu gosto muito do Alentejo, amo-o profundamente com todos os seus defeitos (e nisso não serei muito diferente das outras pessoas amam as suas terras, imagino). O meu olhar sobre o Alentejo é toldado por esta paixão, o olhar de Henrique Raposo é toldado pelo ressentimento por todo o sofrimento que os seus antepassados viveram e até, parece-me, por um certo desprezo por tudo aquilo. O percurso do autor tem sido, até aqui, de afastamento consciente de todos os sinais de alentejanismo que ainda pudessem restar nos seus poros, algo que o próprio assume neste livro.
Dito isto, o livro Alentejo Prometido pode até, de uma certa forma, ser interessante como exemplo da opinião de um forasteiro - o que será que eles pensam de nós? - e o livro está bem escrito, há que dizê-lo. Mas aquele não é o meu Alentejo. E, embora não me ofenda (pelo amor de deus, é só um livrinho de 107 páginas de um rapaz que gosta de dizer coisas), entristece-me. Eu, como boa alentejana que sou, gostava que toda a gente gostasse da minha terra e sentisse a alegria que eu sinto quando vou no meu carro e vejo a planície a aproximar-se, aquela imensidão, aquele cheiro, aquele desolamento, aquela sensação única de estar em casa."
Eduardo M. Raposo
eduardoepablo@gmail.com
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