...na Galeria 9ocre
A realização, após as palavras de boas vindas de Manuel Casa Branca, o pintor e director ds Galeria 9ocre, iniciou-se cerca das 17:30 horas com a apresentação da Revista Memória Alentejana contou com intervenções do seu director Eduardo M. Raposo e de Francisco Naia, presidente do Centro de Estudos Documentais do Alentejo – entidade detentora da publicação, assim como de alguns colaboradores desta edição, como Etelvina Santos e Manuela Rosa.
Seguiu-se um momento musical protagonizado por Francisco Naia, e, na segunda parte, teve ligar uma apresentação do livro de poesia, em edição bilingue, Silêncio Ensurdecedor, do pintor e poeta elvense Luís Pedras, obra apresentada pelo director da galeria, um momento de poesia por Jesús Sanz Cabeza, terminando com uma intervenção emocionada do autor.
Memória Alentejana e Silêncio Ensurdecedor apresentados
A Revista Memória Alentejana acaba de publicar uma nova edição, o nº duplo 29/30 com o principal caderno temático dedicado a Almada, concelho onde se estima que vivam cerca de 60 mil Alentejanos e descendentes, mais do que a cidade mais populosa do Alentejo, Évora. O outro caderno foca o centenário do nascimento de Manuel da Fonseca, com textos de Vítor Proença, Artur Fonseca, Urbano Tavares Rodrigues, António Chainho, Hélder Costa, Eduardo Dâmaso e Eduardo M. Raposo – director da publicação.
Uma grande entrevista a João Cordovil, presidente da CCRDAlentejo, assim como a Manuel Macaísta Malheiros, ex-Governador Civil de Setúbal e José Gonçalves, Presidente dos SMAS de Almada e Vice-Presidente do Município, naturais respectivamente de Alcácer e do Torrão, são outros aspectos de interesse, assim como artigos de memória de um militar do 25 de Abril, Coronel Andrade da Silva e outro sobre o PREC, do director da semanário Folha de Montemor.
Crónicas sobre plantas medicinais, gastronomia, mercados, a cal, transportes regionais, as jornadas literárias de Montemor, vinhos e construção tradicional (estes dois últimos de João Pereira Santos, de Serpa), ou os Mestres José Salgueiro e António Tomé – de Castro Verde, que completou 100 anos, bem como textos sobre realizações do CEDA – entidade que publica a revista – nomeadamente as comemorações do Centenário da República, que co-realizou em Beja, Aljustrel, Mina de S. Domingos, Setúbal e Lisboa (Casa do Alentejo) e um texto, em separata, de evocação de um antigo companheiro fundador e da direcção do CEDA recentemente desaparecida, Manuel Sobral Bastos, casado com a eborense Maria Amélia Sobral Bastos, completam esta que é a maior edição da revista, com113 páginas, em 10 anos de existência, onde encontramos ainda nove páginas dedicadas à divulgação de livros, discos e outros eventos que interessam ao Alentejo.
A Revista, que foi lançada em Almada, no Auditório do Feijó, com a presença de algumas das figuras referidas, a 18 de Junho, foi posteriormente apresentada na Funcheira, a 23 de Julho – no âmbito das comemorações do Centenário desta estação ferroviária. Na região está à venda nas livrarias Nazareth, em Évora, e Fonte das Letras em Montemor-o-Novo e é distribuída para as bibliotecas municipais e associações culturais dos municípios alentejanos.
Francisco Naia, cantor do Sul
Francisco Naia é um intérprete, cantautor e compositor que tem vindo sobretudo na última década - com a realização de inúmeros espectáculos e edição de dois discos - a manter viva a chama da ligação às raízes para muitos dos Alentejanos e Alentejanas que se encontram radicados na Área Metropolitana de Lisboa – são cerca de 500 mil - e nomeadamente na Margem Sul. Mas sobretudo o que o caracteriza é uma excelente e inigualável voz de tenor e é conhecido de muitos montemorenses, pois em 2002 e 2010 actuou no Auditório da Biblioteca Almeida Faria, no âmbito das comemorações do 25 de Abril, respectivamente com os espectáculos “Canto de Intervenção” e “José Afonso – o Canto da Utopia”, que apresentamos e temos co-autoria.
Silêncio Ensurdecedor, de Luís Pedras
Nesta sessão interpretou alguns temas do Cancioneiro Popular e improvisou “sem rede” um poema do livro um destaque, para deleite do autor e de todos os presentes.
A intervenção principal sobre o livro ficou a cargo de Manuel Casa Branca que o comparou a um diário gráfico, instrumento importante para o trabalho diário do pintor, pois é usado para este registar as suas observações e os pensamentos: “Luís Pedras acaba por fazer o mesmo com o seu livro de Poesia, pois é ali que regista as suas emoções do quotidiano numa espiral criativa que deambula também pela pintura, mas acima de tudo, na cerâmica, que é o lado mas estrutural da sua criação.”
O autor encerrou a sessão com palavras emocionados, agradecendo a todos os presentes a forma calorosa como receberam o seu trabalho e muito especialmente ao Manuel Casa Branca, mas também ao director da Memória Alentejana e ao Francisco Naia, pela surpresa com que o presenteou ao musicar de improviso um seu poema.
Na ocasião estiveram patentes trabalhos de pintura e cerâmica de Luís Pedras.
Foi uma tarde bonita e esperamos que outras sessões desta índole voltem a acontecer na Galeria 9ocre.
Terminamos com o poema “Alentejo”, aquele onde encontramos uma mais profundo respiração nesta livro...
Alentejo
Paredes nuas, casas caiadas, montes, vales e planícies,
Luz intensa, calor sufocante, paisagem divina apaixonante…
Vestes negras, mãos calejadas, olhares escondidos intrigantes,
hó Alentejo. Hó Alentejo enfatuado, quimera do silêncio ensurdecedor…
que me asfixias, que me sufocas, no teu abraço lento,
que me atormentas com teus mitos fantásticos e misteriosos…
que me inspiras vaidade e eloquência,
hó Alentejo, hó Alentejo quimérico,
Alentejo de sonhos e paixões, de cansaço e sofrimento,
Vejo-te oculto como um deserto, vejo-te luxuriante como um oásis
Olhares escondidos, lágrimas, brotam dessas nascentes inexoráveis
O teu sabor insólito, a seca, o pousio forçado,
a emancipação eternamente contida e “olvidada”,
hó Alentejo, hó Alentejo dos trigais e poemas errantes
das tradições e vivencias deslumbrantes, das planícies douradas e verdejantes
hó Alentejo, hó Alentejo
Tanto que te quero, tanto que te adoro e venero
Que já não sei mesmo se te amo ou odeio
hó Alentejo, hó Alentejo quimera do silêncio ensurdecedor…
Nenhum comentário:
Postar um comentário