9 de jun. de 2010

Mértola perfumada ou o Caminho da Poesia

Mértola é um lugar perfumado.
Em Mértola encontro a flor de laranjeira, onde me renovo e
perfumo.

Mértola é um lugar de cal, perfumado de serenidade e de paixões, de desejo sôfrego, desenfreado!...


Quando o viajante chega à antiquíssima Myrtilis, rumando a jusante pelo Odiana junto ao seu afluente, a ribeira de Oeiras, o casco histórico da milenar vila sugere-nos a proa de um poderoso navio, talvez uma singular embarcação sulcando o Mediterrâneo.

Mértola é um lugar de encontros, tantos e diversos mas sempre surpreendentes e enriquecedores. Mértola é um lugar perfumado pela sabedoria. Sabedoria saboreada nas palavras e na afectividade de Cláudio Torres, o Mestre, seja na Casa Amarela do Campo Arqueológico – onde encontrei, depois de muito tempo um outro Amigo , Santiago Macias, na “Taberna Utópica” , do seu irmão Álvaro – num belo terraço solar desenhado sobre o Odiana – onde almoçamos, ou na sua Casa Mediterrânica, de cal acabada de perfumar. Cláudio, o Sábio, o Amigo fraterno que nos desvenda o seu percurso ímpar , certamente decisivo para fazer dele o Sábio; percurso desde a juventude em Aveiro onde conheceu João Honrado ou a viagem de barquinho até Tânger e depois Rabat onde nasceu a Amiga Nádia – que neste país irmão significa Gota de Orvalho.

Ou de como, percorrendo os caminhos iniciais da Poesia pelo Mar Mediterrâneo, trazendo na bagagem o último livro da Biblioteca de Alexandria, um dia supostamente me encontrei às portas de Cartago com um velho feiticeiro que me instruiu na metafísica arte do Xadrez. Ficou maravilhado com os belos adornos de safira e jasmim sobre as rubayats do Mestre Omar Khayyam, recordando-lhe a subtileza poética do seu al-Andalus, fiquei contente pela sua alegria e… recebi das suas mãos um belo vinho tinto vindo do seu país, partiu no seu tapete e esfumou-se no deserto.

Este acontecimento supostamente imaginário realizou-se quando muito recentemente num bar desassossegado de Beja me ofereceram, em troca de um exemplar de um livro meu um vinho tinto andaluzino. O destino, supostamente imaginário cumpria-se.


Esse destino que é feito de uma espera, milenar, em que me sento fumando à Soleira da Porta, esperando o Amor.

Esse destino, que foi decisivamente marcado quando um dia entrei no estuário do Tajo, pássaro cansado de ser humano, viajando na gávea de um barco fenício, ao sentir o cheiro e o sabor de uma mulher reflectido naquele mar da palha resplandescente, vindo de para além daqueles belos montes que tomaram o nome de Arrábida. Percebi então, com toda a claridade do mundo que tinha chegado o momento de tomar de novo a forma humana; de amante do Amor. Tinha encontrado o meu país anunciado pela voz doce, de lábios de mel, num sonho lindo, o que me levou a abandonar o meu, inicial, país dos cedros e a realizar o sonho.

Depois de deambular perdido por tempestades e desertos encontrei o caminho da Poesia na voz interior do Amor, (n)o meu novo país, além-Tejo.
Iniciava o percurso Poético...

Da Beleza. Da plenitude da Paixão. De Beja a Aghâmate. Com um sorriso perfumado no olhar...

3 comentários:

Em@ disse...

Obrigada pela visita e pelo rasto deixado em forma de comentário.
Passeei por aqui em gesto de retribuição e, muito sinceramente, gostei...tanto que me vou pendurar, ali, num dos quadradinhos dos seguidores para estar actualizada e não me esquecer de voltar.
É que eu também sou do Sul...e tudo no Sul me atrai.
:)

AvoGi disse...

não conheço Mértola , mas está na lista de lugares a conhecer kis :):)

Ava disse...

Sou alentejana e conheço Mértola. Como todo o distrito de Beja, o meu lugar ancestral, aonde estão parte das minhas origens e o Alentejo que amo de paixão. Tão quente, tão imenso, tão único...

beijinhos doces Ava.