CD lançado recentemente
Cante na Diáspora
A edição deste disco surgiu há cerca de
um mês, em complemento à publicação da Revista Memória Alentejana, número duplo 35/36, saído a 28 de Novembro, no
âmbito das comemorações do 1º aniversário do reconhecimento pela UNESCO do Cante como Património Cultural e
Imaterial da Humanidade – conforme referido na crónica de Dezembro. Em Almada,
onde teve lugar o lançamento da Revista, realizou-se um conjunto de eventos com
a denominação de “Almada Homenageia o Cante
Alentejano” organizados pelo Grupo de Trabalho de Cante do Concelho de Almada – GTCCA - como sejam um colóquio – que
coordenamos - movimentando mais de 200 pessoas e um espectáculo por onde
passaram mil pessoas.
Revista
O Cante na Diáspora
Esta edição da Revista, denominada “O Cante na Diáspora”, apresenta o
levantamento dos 29 grupos corais alentejanos activos existentes no Diáspora,
num espaço tão vasto que abrange toda área Metropolitana de Lisboa - Norte e
Margem Sul, Península de Setúbal, onde existem a esmagadora maioria dos grupos,
mas também Cartaxo, Porto, Tunes, Albufeira ou Toronto, no Canadá.
Julgamos que é a primeira vez que se faz
um levantamento como este, pelo menos nestes moldes, de todos os grupos corais
alentejanos existentes na Diáspora. Nesse sentido, tem um significado que não
se pode olvidar enquanto factor de valorização da nossa cultura, por outro
lado, é também revelador da vitalidade que caracteriza o cante existente na Diáspora.
O grupo coral alentejano mais antigo em
actividade na Diáspora é o Grupo Coral Alentejano da Amadora, fundado em 1972.
Todavia, anteriormente surgiram grupos na Diáspora que cessaram a actividade
como o Grupo Coral da Casa do Alentejo de Luanda, que terá existido entre 1965
e 1971, ou os grupos corais que terão existido
na Casa do Alentejo, em Lisboa, respectivamente o Grupo Coral Engenheiro
Martins Galvão, entre 1955 e 1968, ou mais recentemente, o Grupo Coral da Casa
do Alentejo, activo entre 1968 e 1974. Também na emigração, em Paris, terá
existido um grupo que terá cessado recentemente, mas não dispomos dados
fidedignos. Por outro lado, se recuarmos aos anos 20, encontramos referência a
um denominado Grupo Coral da Casa do Alentejo, ainda nas anteriores instalações
desta associação regionalista, na Rua da Atalaia, que se reporta a 1926/27 e
que teria sido um dos mais antigos grupos corais existentes não só na diáspora
mas também no Alentejo, pioneiro na forma organizada de interpretar o cante.
Por
outro lado, a existência destes grupos de que fizemos o levantamento, tem uma
grande importância para a preservação e divulgação do cante, decisiva mesmo, pois
a sua existência significa que o cante geograficamente não está apenas
restringido ao Alentejo – Baixo, Litoral e parte do Central – mas antes
estende-se a quase todo o país – desde o Porto até Albufeira – bem como a
outros continentes – caso de Toronto, Canadá. Aqui reside também a
universalidade do cante.
Cante
na Diáspora em CD
Exemplificativa da pujança do Cante e da Cultura Alentejana na
Diáspora é a edição deste CD e a forma entusiástica como os dez grupos
presentes se disponibilizaram de imediato a integrar o projecto. Devido à
resolução de aspectos autorais e outros – que requereu uma negociação morosa
com a SPA – o CD, que apresenta 20 temas de dez grupos - de Almada, Palmela e
do Seixal, saiu posteriormente à edição da Revista.
Estão presentes nesta colectânea os
grupos corais alentejanos existentes nos concelhos de Almada: Grupo Coral e
Etnográfico Amigos do Alentejo do Feijó, Grupo Coral Alentejano Recordar a
Mocidade do CIRL e Cantadeiras de Essência Alentejana
de Palmela: Grupo Coral Ausentes do
Alentejo, Grupo de Cantares Modalentejo e Grupo Coral 1º de Maio do Bairro
Alentejano
e do Seixal: Grupo Coral Feminino As
Papoilas da ARPI do Fogueteiro; Grupo Coral
Alentejano Lírio Roxo; Grupo Coral Operário Alentejano do CCD Paivas e
Grupo Coral Alentejano da ASSTA do Seixal. Quatro são femininos – dois de
Almada, um de Palmela e um do Seixal – e seis são masculinos.
O
mais antigo é o Grupo Coral Operário Alentejano das Paivas, (masculino),
surgido em 1975 - Seixal - e o mais recente é o Grupo de Cantares Modalentejo,
(feminino), Quinta da Marquesa II, Palmela, fundado em 2011.
Neste
CD encontramos uma diversidade de temas onde a saudade e a vontade de regresso
à Terra amada, a importância da natureza, o trabalho, o amor e a religiosidade estão
presentes, as modas, exclusivamente corais, são provenientes do Cancioneiro
Popular. Houve, por outro lado, na preparação do CD, a partir do repertório de
cada grupo em presença, o cuidado de apresentar essa pluralidade temática, que
afinal no seu todo simboliza a alma do Alentejo e dos(as) alentejanos(as).
Está em curso a sua distribuição não
apenas pelos grupos que surgem no CD como os que são apresentados na Revista,
bem como a entidade que patrocinou a edição do CD, a Junta de Freguesia de
Laranjeiro e Feijó, mas também pelas entidades apoiantes da edição da Revista –
Municípios de Almada e Palmela ou Entidade Reguladora de Turismo – ERT - do Alentejo e Ribatejo.
Também a AMBAAL/CIMBAL, a CIMAC, que apoiam na distribuição aos 33 municípios
associados – para as respectivas bibliotecas e associações culturais desses
concelhos – como ainda a alguns municípios do Norte Alentejano, à DRCA, à
Biblioteca Pública de Évora, grupos de Trabalhos do Cante, como o de Castro Verde, MODA – Associação do Cante Alentejano, Casa do Cante de Serpa, entre outros.
Este disco foi editado pelo CEDA –
Centro de Estudos Documentais do Alentejo-Memória Colectiva e Cidadania – e a
sua Revista Memória Alentejana, tem o
patrocinada da Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó e o disco virá a ter
distribuição em livrarias de referência e quiosques em Lisboa, Margem Sul e
nalgumas cidades Alentejanas, mas poderá ser solicitado para: cedalentejo@gmail.com,
sendo que o preço de capa da Revista com o CD é de 5,00 €.
A edição deste CD pode ter um papel
importante para a autoestima dos Alentejanos, nomeadamente os cerca de 500 mil
existentes na Diáspora, pois o Cante representa
a marca identitária mais poderosa do nosso património imaterial. Há outros
aspectos muitos importantes como a gastronomia, o território - o montado – mas
o Cante é o que certamente revela maior sentido de pertença.
Claro que pode não ter a mesma importância para todos os alentejanos, quer os
da Diáspora quer os que vivem no Alentejo, mas para muitos, assistir, viver uma
actuação de Cante – seja em palco,
seja à roda de um tinto e um petisco como acontece na Venda do Engrola, em
Serpa, e noutras locais, seja no Alentejo, seja na Diáspora, é como assistir a um ato litúrgico da terra transtagana, daí que
para muitos, nomeadamente para os cantadores, seja como o ar que se respira.
Após a apresentação pública deste disco
prevista para breve – que poderá vir a ter uma reedição visto a grande
aceitação que está a ter - poderá
seguir-se um espectáculo ao vivo reunindo todos os grupos que nele
participaram.
Eduardo
M. Raposo
eduardoepablo@gmail.com
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