20 de fev. de 2010

20 de Fevereiro - o início








A Pergunta







Amor, uma pergunta minha


dilacerou-te.






Regressei a ti


da incerteza com espinhos.






Quero-te direita como


a espada ou o caminho.






Mas tu insistes


em manter uma curva


de sombra de que não gosto.






Meu amor,


compreende-me,


quero tudo o que é teu,


dos olhos aos pés, às unhas,


por dentro,


toda a claridade, que escondias





Sou eu, meu amor,


quem bate à tua porta.


não é um fantasma, não é


o que um dia parou


à tua janela.


Eu deito a porta abaixo:


eu entro na tua vida:


venho viver na tua alma:


tu não podes comigo.






Tens que abrir todas as portas,


tens que obedecer-me,


tens que abrir os olhos


para eu os observar,


tens que ver como ando


com passos pesados


por todos os caminhos


que, cegos, me esperavam.






Não tenhas medo,


sou teu,


mas


não sou viajante nem mendigo,


sou o teu senhor,


aquele que esperavas,


e agora entro


na tua vida


para não mais sair,


amor, amor, amor,


para ficar.


                     Pablo Neruda
                Os Versos do Capitão



 


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