29 de mai. de 2009

Encontro com Lorca em Mértola "a las cinco de la tarde em puento"


De repente, quando procurava as águas calmas do Odiana num início de noite suave, sinto-me a esvair-me em sangue. Deixo a sua marca vermelha na pedra milenar ante a indiferença dos transeuntes que já perderam o olfacto do cheiro forte de sangue e o seu tom inebriante de vida suprema e de morte…

Releio “Dom Perlimplim com Belisa em seu jardim” a propósito de uma futura encenação de um amigo. E, reencontro, de repente esse universo de fogo e sangue, de jasmim e gazela, de água pura, de menino e anjo, de duende, de água pura dada a beber à boca da amada (como em "Yerma"), na tua boca, da fonte cristalina e milenar, que torna o momento pleno e o nosso Encontro perene, doce minha. Esta leitura renovou-me o sangue, deu-me sangue novo, agora quase agonizante, convalescendo de uma cirúrgia imprevista – a morte e os seus sinais não serão sempre imprevistos?! – para não me esvair de novo em sangue…
















Agora percebo como o sangue marcado na pedra foi um Encontro com Federico, desde que em 1985, ao conhecê-lo, estudá-lo, (até homenageá-lo no ano seguinte, em Setúbal, 50 anos depois)me levou a iniciar uma longa e difícil caminhada até Almutâmide. É como se Federico me tivesse vindo visitar às margens do Odiana, na pedra milenar de Mértola, assinalando com sangue, “vermelho vivo-sangue” o subir de mais um degrau… como acontecera com a visita ao mausoléu de Almutâmide… e as rosas vermelhas que levei na bagagem para o poeta de Beja e para a sua doce Itimade. Refiro-me à apresentação de “Papoila de Odiana – Dançar a Poesia de Almutâmide” no Cine -Teatro Marques Duque, no Festival Islâmico deMértola.






















E houve o Encontro com os amigos: o Eduardo Ramos e a sua singular e bela música, o João Mário Caldeira, o Paulo Barriga e a sua simpática família, o M. Passinhas, o Santiago Macias, a Nádia Torres... os amigos que foram propositadamente ver a "Papoila"e/ou jantar connosco -o José Orta, o João Cágado, a Teresa Cuco, o Carlos Alberto e a Maria de Albufeira e... uma noite diferente, na sexta-feira, a Noite da Dycra, com a Comunidade Islâmica do país vizinho, onde fui com o Tiago e conheci novos amigos, no característico jantar islâmico...






e, partimos por dentro do arco-íris...














ou como Federico escreve, no seu Gazel I, Do Amor Imprevisto (Diván del Tamarit)


Ninguém compreendia esse perfume

da escura magnólia de teu ventre.

Ninguém sabia que martirizavas

um colibri de amor entre teus dentes.


Mil eram os potros persas que dormiam

na praça com luar da tua fronte,

enquanto eu quatro noites enlaçava

tua cintura, inimiga da neve.


Entre gesso e jasmins, o teu olhar

era um pálido ramo de sementes.

Eu busquei, para dar-te, no meu peito

as letras de marfim que dizem sempre.

(...)






Convalesço, reencontro o sangue novo, renovado, sabendo que, em breve

“Voltarei
no meu cavalo de fogo
voando entre pessegueiros em flor
e campos de papoilas
pleno de vida
rejuvenescido
voltarei
ao teu encontro.”


13 de mai. de 2009

"Cantigas do Maio" - tributo maior ao Amor... e ao Alentejo


8 de Maio

Na RTP Memória, Programa "Pontos nos íis"
"A nossa canção de protesto"
por Mário de Figueiredo
Mesa-redonda com José Jorge Letria, Viriato Teles e Eduardo M. Raposo


Recebi uma simpática mensagem, de que publico um excerto.
Intitula-se:

O Poeta chorou

"Caro amigo
Quero dizer-lhe algumas palavras sobre o programa “Pontos nos is”de ontem. Vi, com o meu marido do princípio ao fim até porque éramos no passado telespectadores assíduos do Zip.
Mas como tenho um sentimento profundo de partilha, avisei o meu amigo Fernando Reis Costa da hora do programa e ao intervalo aí estávamos nós a trocar impressões via net.
Ele é um poeta sensível e inspirado (pena n/ ser alentejano) mas é de Coimbra .Eu trato-o por meu irmão pois tem-me ajudado muito a crescer na literatura e na vida.
É uma pessoa incrível.
Ele gostou muito do seu depoimento e disse que quando o sr. Falou da Funcheira e de seus pais ,captando a sua sensibilidade(ele era da área da psiquiatria) ele chorou..
Finalmente digo que o programa foi extraordinário(...)"

Maria Vitória Afonso


Um abraço de agradecimento, extensivo a todos os amigos que viram ou gostaríam de ter visto o programa


e este belo Poema/canção, um dos meus preferidos do Zeca,
para a Mulher que eu adoro!...

Eu fui ver a minha amada
Lá p'rós baixos dum jardim
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para se lembrar de mim

Eu fui ver o meu benzinho
Lá p'rós lados dum passal
Dei-lhe o meu lenço de linho
Que é do mais fino bragal

Eu fui ver uma donzela
Numa barquinha a dormir
Dei-lhe uma colcha de seda
Para nela se cobrir

Eu fui ver uma solteira
Numa salinha a fiar
Dei-lhe uma rosa vermelha
Para de mim se escantar

Eu fui ver a minha amada
Lá nos campos eu fui ver
Dei-lhe uma rosa encarnada
Para de mim se prender

Verdes prados, verdes campos
Onde está minha paixão
As andorinhas não param
Umas voltam outras não

Refrão:
Minha mãe quando eu morrer
Ai chore por quem muito amargou
Para então dizer ao mundo
Ai Deus mo deu. Ai Deus mo levou
José Afonso (Poema e música sobre a letra de refrão popular)