10 de nov. de 2007

a Rosa de Badajoz...

Há quem comemore o S. Martinho… eu também já o fiz. O ano passado resolvi passar algumas horas com as pessoas que me amam, que me continuam a amar mesmo sabendo que eu não sou perfeito… mas estava inquieto, sabia que algo de terrível ia acontecer … mas não tinha ainda encontrado a minha luz … estava para breve, muito breve e … fui protagonista dum acidente horrível … que me marcou muito … ainda faltava uma etapa para saber ler… as linhas da vida!...






Hoje, noite que a muitos inebria, acabado de chegar de uma viagem longa, olhei com a serenidade, com a paz, que a Vida nos ensina e sorri… cansado mas feliz…
Feliz por ter visto nascer o dia naquela cidade adormecida…

Feliz de ter vivido aquela noite única, onde no Restaurante do belo Hotel Zurbarán, com nome de pintor, chegaram cinco comensais famintos depois de primeiro recital em solo castelhano, ou melhor, extremeño, e como o Francisco Naia ao cantar a bela “Canção com Lágrimas” que eu tão bem conheço, de repente mudou o tom de voz, senti-o frágil, olhei-o e vi-lhe lágrimas nos olhos “ó meu irmão tão breve/nunca mais acenderás no meu o teu cigarro” e compreendi que ele não devia ter cantado aquele poema, e dei-lhe o meu braço, o meu ombro amigo… e ficamos os dois sós naquele Auditório cheio de público, da Diputación de Badajoz… não, naquele dia em que ele me tinha acordado com um telefonema triste: “ o meu irmão morreu” e mesmo assim percorremos 200 Km e fomos fazer o recital – e lembrei-me daquela actriz que perdeu um ente muito querido mas foi nessa noite para o palco fazer o espectáculo, porque a Vida não pode parar!
Feliz pela grandiosidade, pela coragem, pela grande estatura do Amigo, do Irmão Chico, menino, Irmão mais velho
!









E naquela noite saboreávamos iguarias subtis, quase soberbas, saboreadas com o requinte e parcimónia de quem aprendeu a preferir a qualidade… à quantidade, porque o espírito também se alimenta do bem estar físico… e foi muito espiritual aquela noite, de uma grande força espiritual… com o Amigo e Mestre Cláudio Torres sentado a meu lado contando, recordando 1961 e a sua viagem com mais 4 amigos num barquinho de 5 metros para Marrocos, e durante horas recordando cada pormenor de como foram recolhidos no mar alto, quase náufragos, por um navio de bandeira liberiana e como viveram depois em Rabbat, a Nádia nascida em 62, já a caminho, nessa viagem única e quase impossível, e as lutas e a vida da resistência, depois Paris, Praga - Primavera, Bucareste, ele o Mestre com a modéstia e a simpatia e o entusiasmo e amizade que ele tem, que ele é, ele… a quem horas antes eu tinha dedicado o recital quando eu falava dos jovens que, coerentemente fugiam à guerra, os exilados e … sugeria que teria começado aí o início de procurar entender o Outro, afinal o irmão do outro lado do Mediterrâneo, que se teria iniciado aí o caminho do Sábio que nos devolveu, mais tarde em Mértola, a nossa Identidade, a nossa História, escrita “nos cacos” – como ele gosta de dizer – esperando pacientemente para ser redescoberta. Foi uma noite mágica!



E logo ali senti-me tocado pela luz e disse-lhe: Cláudio, isso não pode ficar esquecido… e ao alvorecer, no quarto do suave hotel a ideia tomou forma e… nasceu um projecto bonito!
Feliz por ter reencontrado amigos, muitos amigos: o Licínio de Vila Viçosa, o director da Biblioteca de Olivença, o Joaquim Saial, director da Revista Callipole, o anfitrião director da Revista Estudios Extremeños Moisés Caytano Rosado e o seu secretário Faustino Hermoso – que no seu castelhano cerrado tinha dificuldade em nos compreender e em ser compreendido, e tantos outros amigos…
Feliz pelo debate e a reflexão com colegas directores de publicações tão diversas, estremeños e andaluces e… o Cláudio, director da Arqueologia Medieval, publicação única na Península por todas as razões…
Feliz me ter perdido com o Chico em pleno Badajoz, esfomeados, e os outros à nossa espera no restaurante…
Feliz pelas novidades sabidas do “Centro de Estudos Mediterrânicos e Islâmicos de Mértola” e os ensinamentos sobre as línguas dialectais usadas no Garb e o debate vivo sobre a terminologia “poesia luso-árabe” que eu proponho...






Feliz pelo passeio nocturno , com o Chico, o Zé Carita, o Ricardo Fonseca – os companheiros músicos – no casco viejo e… de repente parei maravilhado! O Chico olhou para mim e disse do fundo da alma: que bonito, que lindo, como é possível?!... Eu estava rodeado de pétalas de rosa… iluminado os meus passos… surgidas da noite…



Feliz, muito Feliz!


Um comentário:

mariabesuga disse...

Um beijo em ti, Eduardo, Feliz... outro no Naia.