Ainda não passará 12 horas sobre o término do FMM e recebíamos a triste notícia...
José
António Salgueiro partiu
O
adeus do Mestre
Há homens quem lutam um dia, e são
bons;
Há outros que lutam um ano, e são
melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e
são muito bons;
Porém, há os que lutam toda a vida
Estes são imprescindíveis
Bertold
Brecht
Ainda não passará 12 horas sobre o término do FMM e recebíamos a triste notícia...
José António Salgueiro, o Mestre das plantas, como era
conhecido, partiu fisicamente seis meses depois de ter completado 100 anos.
Deixou-nos dia 28 de Julho. Ficou mais pobre Montemor-o-Novo, ficou mais pobre
o Alentejo, ficou mais pobre Portugal. Salgueiro deixou um vazio difícil de
preencher nos muitos milhares de amantes da Natureza, nomeadamente os praticantes
de medicina natural e especialmente muitos(as) a quem José Salgueiro aliviou ou
curou das mais variadas maleitas. Deixou um vazio nos(as) homens e mulheres a
quem deu o privilégio da sua amizade.
Esse vazio é difícil de preencher para quem acompanhou
Mestre Salgueiro praticamente nas últimas duas décadas, fosse divulgando a sua
obra, fosse aqui nas páginas da Folha de
Montemor, na Revista Memória
Alentejana ou na Revista Tempo Livre,
do INATEL, só para citar três casos, ou ao termos viabilizado a sua
participação em inúmeros Passeios Campestres, mas também dizendo presente
sempre que o Mestre solicitou os meus singelos préstimos para escrever
prefácios para os seus livros. Por outro lado levando-o a participação em duas
sessões, em Almada na Festa do Solar (2015) e no 3º Aniversário do Cante
Património da Humanidade, “Almada homenageia o Cante” (2017) e as homenagens,
que por proposta nossa o Centro de Estudos Documentais do Alentejo-Memória
Colectiva e Cidadania (CEDA) - de que o Mestre era sócio honorário - e a
Revista Memória Alentejana
realizaram, tanto no passado dia 3 de Fevereiro a festa do seu centenário – aqui
referida nestas páginas - à semelhança do acontecido há dez anos, na Casa do
Alentejo – onde para celebrar tão importante e significativa data estiveram
presentes muitos admiradores e familiares do Mestre Salgueiro.
É de toda a justiça referir aqui dois nomes: o nosso
editor comum, o grande Alentejano – defensor acérrimo do nosso património
identitário, literário e não só – que é o Fernando Mão de Ferro - e a Manuela
Rosa, professora, poetisa e divulgadora de poesia e da literatura – Amiga que
connosco e outros amigos levamos a cabo o projecto “Nova Antologia de Poetas
Alentejanos” (2013), obra de referência com duas edições; a Manela Rosa teve um
papel ímpar, nomeadamente na preparação e redação, a partir de muitas centenas
de horas gravadas e de inúmeros dias de trabalho que possibilitou a edição do
último livro, biográfico, de José Salgueiro
A Minha Vida Dava um Romance.
Outros(as) há, e poderia referir nomes, inclusive os amigos desta Cooperativa
que edita a Folha e protagoniza o
jornalismo livre e regional, autarcas, cidadãos anónimos, mas quero aqui
registar este homem e esta mulher, alentejanos de corpo inteiro, que tal aconteceu
com o Mestre Salgueiro, me dão o privilégio da sua amizade. Sabemos que sempre
fizeram tudo o que estava ao seu alcance, tal como nós, com abnegação, para
divulgar e valorizar o Homem e a sua Obra. Nunca se escusaram, alegando falta
de tempo ou outro para não fazerem o que tinha de ser feito em vida de José
Salgueiro.
A obra de José Salgueiro reside não apenas nos seus
livros com o maior interesse quer literária quer a lucidez demonstrada e a
capacidade analítica de Homem culto - nomeadamente o livro mais vendido na
Colibri, Ervas, Usos e Saberes, em
cinco edições - mas sobretudo a sua postura ética e cívica pondo diariamente a
sua enorme sabedoria ao serviço dos outros, da comunidade. O seu desassombro
perante a vida e quem conheceu bem o Mestre sabe do que falamos: partilho aqui
uma sessão de autógrafos em que participamos os dois, na Feira do Livro de
Lisboa, como o Mestre abordava os potenciais leitores, dizendo que quem
comprasse [e praticasse os ensinamentos] o seu livro vivia até aos 100 anos… e
depois como abordou autores “consagrados” de editora em frente, com o mesmo
argumento…
José Salgueiro preparava-se para editor um tratado de
medicina natural. Visitei-o dia 10 de Maio, depois de um telefonema seu com
carácter urgente: queria que fosse eu a escrever o prefácio. Perante o meu
receio de não ser a pessoa indicada para aquela temática, Mestre Salgueiro
retorquiu: “Mas sabes falar de mim. Conheces-me.”
Quando no passado dia 28, vi no écran do telefone do
carro o nome da Isabel Meira, soube de imediato, o que segundos depois o filho,
Miguel, o neto mais velho de Salgueiro, confirmava: o Mestre havia partido.
Até sempre, Mestre Salgueiro!
Com a devida vénia reproduzimos esta sentida homenagem do Amigo Fernando (Mão de Ferro) à memória do nosso Querido Mestre Salgueiro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário