25 de set. de 2019

José António Salgueiro partiu O adeus do Mestre


Ainda não passará 12 horas sobre o término do FMM e recebíamos a triste notícia...

José António Salgueiro partiu

O adeus do Mestre

Há homens quem lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém, há os que lutam toda a vida
Estes são imprescindíveis 
                                Bertold Brecht


Ainda não passará 12 horas sobre o término do FMM e recebíamos a triste notícia...
José António Salgueiro, o Mestre das plantas, como era conhecido, partiu fisicamente seis meses depois de ter completado 100 anos. Deixou-nos dia 28 de Julho. Ficou mais pobre Montemor-o-Novo, ficou mais pobre o Alentejo, ficou mais pobre Portugal. Salgueiro deixou um vazio difícil de preencher nos muitos milhares de amantes da Natureza, nomeadamente os praticantes de medicina natural e especialmente muitos(as) a quem José Salgueiro aliviou ou curou das mais variadas maleitas. Deixou um vazio nos(as) homens e mulheres a quem deu o privilégio da sua amizade.
Esse vazio é difícil de preencher para quem acompanhou Mestre Salgueiro praticamente nas últimas duas décadas, fosse divulgando a sua obra, fosse aqui nas páginas da Folha de Montemor, na Revista Memória Alentejana ou na Revista Tempo Livre, do INATEL, só para citar três casos, ou ao termos viabilizado a sua participação em inúmeros Passeios Campestres, mas também dizendo presente sempre que o Mestre solicitou os meus singelos préstimos para escrever prefácios para os seus livros. Por outro lado levando-o a participação em duas sessões, em Almada na Festa do Solar (2015) e no 3º Aniversário do Cante Património da Humanidade, “Almada homenageia o Cante” (2017) e as homenagens, que por proposta nossa o Centro de Estudos Documentais do Alentejo-Memória Colectiva e Cidadania (CEDA) - de que o Mestre era sócio honorário - e a Revista Memória Alentejana realizaram, tanto no passado dia 3 de Fevereiro a festa do seu centenário – aqui referida nestas páginas - à semelhança do acontecido há dez anos, na Casa do Alentejo – onde para celebrar tão importante e significativa data estiveram presentes muitos admiradores e familiares do Mestre Salgueiro.
É de toda a justiça referir aqui dois nomes: o nosso editor comum, o grande Alentejano – defensor acérrimo do nosso património identitário, literário e não só – que é o Fernando Mão de Ferro - e a Manuela Rosa, professora, poetisa e divulgadora de poesia e da literatura – Amiga que connosco e outros amigos levamos a cabo o projecto “Nova Antologia de Poetas Alentejanos” (2013), obra de referência com duas edições; a Manela Rosa teve um papel ímpar, nomeadamente na preparação e redação, a partir de muitas centenas de horas gravadas e de inúmeros dias de trabalho que possibilitou a edição do último livro, biográfico, de José Salgueiro  A Minha Vida Dava um Romance. Outros(as) há, e poderia referir nomes, inclusive os amigos desta Cooperativa que edita a Folha e protagoniza o jornalismo livre e regional, autarcas, cidadãos anónimos, mas quero aqui registar este homem e esta mulher, alentejanos de corpo inteiro, que tal aconteceu com o Mestre Salgueiro, me dão o privilégio da sua amizade. Sabemos que sempre fizeram tudo o que estava ao seu alcance, tal como nós, com abnegação, para divulgar e valorizar o Homem e a sua Obra. Nunca se escusaram, alegando falta de tempo ou outro para não fazerem o que tinha de ser feito em vida de José Salgueiro.
A obra de José Salgueiro reside não apenas nos seus livros com o maior interesse quer literária quer a lucidez demonstrada e a capacidade analítica de Homem culto - nomeadamente o livro mais vendido na Colibri, Ervas, Usos e Saberes, em cinco edições - mas sobretudo a sua postura ética e cívica pondo diariamente a sua enorme sabedoria ao serviço dos outros, da comunidade. O seu desassombro perante a vida e quem conheceu bem o Mestre sabe do que falamos: partilho aqui uma sessão de autógrafos em que participamos os dois, na Feira do Livro de Lisboa, como o Mestre abordava os potenciais leitores, dizendo que quem comprasse [e praticasse os ensinamentos] o seu livro vivia até aos 100 anos… e depois como abordou autores “consagrados” de editora em frente, com o mesmo argumento…
José Salgueiro preparava-se para editor um tratado de medicina natural. Visitei-o dia 10 de Maio, depois de um telefonema seu com carácter urgente: queria que fosse eu a escrever o prefácio. Perante o meu receio de não ser a pessoa indicada para aquela temática, Mestre Salgueiro retorquiu: “Mas sabes falar de mim. Conheces-me.”
Quando no passado dia 28, vi no écran do telefone do carro o nome da Isabel Meira, soube de imediato, o que segundos depois o filho, Miguel, o neto mais velho de Salgueiro, confirmava: o Mestre havia partido.

Até sempre, Mestre Salgueiro!

Com a devida vénia reproduzimos esta sentida homenagem do Amigo Fernando (Mão de Ferro) à memória do nosso Querido Mestre Salgueiro!

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