...
regressei hoje de uma praia deserta... poderia ser Tânger... mas seria lá mais para o Sul... el-Jadida, Agadir... ou na costa Mediterrânica, onde um dia às portas de Cartago recebi um ânfora com vinho do al -Andalus em troca do livro mais valioso que eu conservara depois do incêndio de Alexandria... cena que se repetiu mais de mil anos depois, numa noite de vinhos voadores num bar que depois se tornou - e quando lá torno sinto-me em casa - um espaço de fraterna partilha, a "Galeria do Desassossego" do meu Amigo Jorge Benvinda, na Baja actual, local onde, nessa noite conheci um Homem que me pediu um livro e em troca, me ofereceu um garrafa de vinho, especial, disse ele, da Andaluzia; aceitei aquela proposta "milenar" e ele, um bebedor activo e praticante - eu, ao lado dele sou um principiante em verde infância - talvez por isso se chame Dionísio... ficou radiante
perdi-me... coisa que nunca aconteceu no mar que eu fiz meu, guerreiro vindo talvez de outras latitudes, ou não, renascido na minha Fenícia natal - tenho tão presente o cheiro e a sombra dos frondosos cedros que ainda perduram no Líbano actual - navegando até Cartago e depois ao al-Andalus... onde estou agora... e desde esta longa ausência, desde Março, desde a homenagem ao Zeca, tinha mil novidades... tantas coisas para contar... mas seria demasiado exaustivo... falo-vos apenas do Roque, o meu menino guerreiro que este ano levei a ver os moinhos de vento no costa Alentejana, a ver o mar azul turquesa do Pessegueiro, a acampar...
ou da Nova Antologia de Poetas Alentejanos que inclue 50 Poetas contemporâneos oriundos/radicados em 25 concelhos Alentejanos e 15 na Região de Lisboa.
Lançada nas II Jornadas Literárias de Montemor-o-Novo - A Poesia da Terra em Monte Maior - em finais de Maio, já conheceu nove apresentações com música, canto, poesia, artes plásticas, etc - como a que é aqui referida, precisamente em Montemor - respectivamente em Almada (2), Beja (2), Sines, Évora, Alvito, Montemor e Sacavém (24ª Semana Cultural da Liga dos Amigos da Mina de S. Domingos)... e amanhã na SPESXVIII, em Alcântara, de que em breve vos daremos conta...
... desta Antologia e sua sessão em pano de fundo se construiu a última crónica, esta semana publicada na Folha de Montemor, onde também se fala do Convento dos Capuchos, da Noite Branca em Badajoz e de um Amigo, um grande Amigo que partiu... João Caeiro
A
Poesia na Feira da Luz
ou
O
Primado da Amizade
1º
Quadro
Partimos de Almada, mais precisamente do Convento
dos Capuchos, mais precisamente miradouro natural onde pode deixar o olhar
saborear esta parte da costa em meia-lua, entre a Costa do Vapor - com o Forte do Búzio defronte - e o Cabo Espichel . Aqui,
esteve até final de Agosto uma exposição de artistas naturais ou radicados no
Alentejo, e nomeadamente montemorenses e/ou ligados às Oficinas do Convento;
uma intervenção criativa intitulada “Ressonâncias”, com a participação de
Virgínia Fróis, José Manuel Rodrigues, Sara António Matos, Tiago Fróis e Sara
Navarro.
2º
Quadro
No dia seguinte, no Pavilhão da Feira do Livro, em
plena Feira da Luz 2012, a Poesia acontece. A Poesia especificamente feita por
Poetas que perseguem a beleza através da palavra escrita, não a poesia da Vida,
os momentos em que um par de apaixonados trocam olhares embevecidos, ou até
lábios, pele, cheiros, sabores, ou ainda momentos colectivos de fruição musical
ou de outras criações artísticas, ou a convivialidade da Amizade pura e
fraterna, o que também é Poesia. Não, a Poesia dos Poetas, que escreveram, para
serem lidos para serem cantados, ou as Imagens que que são o côncavo do
convexo, ou o convexo do côncavo das Palavras.
Nuno (do Ó), com a sua excelente voz cantou
Pessoa e, tal como a Arlinda (Mártires),
encantou; ela com a subtileza vocal da palavra dedilhada na guitarra clássica
do Carlos (Bull), a Margarida (Morgado)
disse e voltou a dizer a Poesia que adora e saboreia como poucos. A Manuela
(Rosa) de como participou no projecto fazendo a pesquisa em Bibliotecas e
Juntas de Freguesia na região (Alentejo central), o Manel (Casa Branca) falou
da forma como construiu a esteva – símbolo do Alentejo, respeitando o branco natural
da flor e como nos introduziu e possibilitou a partilha ao seu mundo muito
pessoal e íntimo do seu Diário Gráfico - assim da sua experiência recente por
Terras do noroeste da Península, pois tinha regressado nessa mesma tarde da
Galiza, vindo directamente para a sessão - e de como nos abriu o seu atelier,
realçando a importância da amizade.
A Amizade,
fraterna Amizade que ali estava a acontecer com aquele grupo de Amigos, algo
que não foi pensado, organizado, premeditado, mas que “aconteceu” ao longo
destas oito sessões em que Amigos diversos, mas a maior parte, que se
conheceram e desenvolveram essa fraterna comunhão por causa e através desta
Antologia. Assim, informalmente surgiu esta Tertúlia de Amantes da Poesia - de
dizer, de cantar, de desenhar Poesia e, esse é certamente um dos aspectos mais
importantes que ao longo das sessões de divulgação começou a surgir - a par da
sua importância literária, do papel fomentador da auto-estima e agregador da
criação poética que esta obra tem em 2012 ao juntar 50 Poetas Alentejanos
contemporâneos.
A construção da fraterna Amizade por estes Amantes
da Beleza, que em Montemor-o-Novo, na Feira da Luz deste ano partilharam com
todos os Amigos presentes, por exemplo: a Hortência Menino, vice-presidente e representante
do Município, os responsáveis máximos das Freguesias da Cidade, António Danado
e Vitalina Roque Sofio, os responsáveis da Cultura do Município, Luís Ferreira
e da Biblioteca, Elvira Barrelas e as suas colegas ou o velho companheiro de
várias jornadas e muitos “Passeios Campestres”, Alexandre Pirata. O primado da
Amizade aconteceu nesta sessão na Feira da Luz.
3º
Quadro
E Setembro começava, no dia seguinte, com uma ida a
Badajoz. Motivo: uma visita à Noite Branca”,
que aconteceu naquela cidade transfronteiriça, organizada pelo Ayuntamiento
local que pôs num grande bulício o casco histórico, com muitas dezenas de
espaços abertos até às 04.00 horas, performances a acontecerem nas principais
praças e ruas de Badajoz, denotando aquele característica frenética, muito
peculiar de “nuestros hermanos” e tão pouco usual em terras lusas…
Rumámos então, a convite e na companhia do Amigo
Manel (Casa Branca) e da Manuela para o atelier da pintora Clara Báez Merino,
sito na calle Donoso Cortés, 12, bajo, onde se procedia aos preparativos finais
da exposição “Trans”, transposição de fronteiras transparentes, com a
participação de 10 autores plásticos portugueses e espanhóis, onde M. Casa
Branca representava o Alentejo com o título elucidativo“Transtagana”, ou a Sul
do Tejo.
João
Caeiro…
A escrever sobre o Primado da Amizade, tão essencial
e insubstituível tal como os Primados da Liberdade e da Beleza e, de repente
sou surpreendido com uma notícia brutal, um Amigo que parte, um Amigo das
Brotas, João Caeiro, um daqueles Amigos que despe a camisa se alguém tem frio…
estivemos juntos - na direcção da Casa
do Alentejo - no pelouro da Cultura , na fundação do CEDA, no Encontro do CEDA
em Mora e nas Brotas, em momentos únicos na sua Terra natal, em Monforte, em
Reguengos, em Montemor, em tantos locais e situações; ele que foi também a alma do Núcleo dos
Amigos do Concelho de Mora. Incansável, sempre presente na defesa dos mais
nobres valores, fossem no colectivo ou individualmente. Há gestos que não
esquecem e o João teve-os quando a Amizade nos reconforta. Ao João Caeiro,
presto aqui a minha singela Homenagem, Homem como exemplo maior do Primado da
Vida. Tentaremos sempre estar conforme a tua elevada postura de humanismo,
rigor e verticalidade!
Até sempre, Amigo!...
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