Todavia, porque foi um dia memorável, não quero deixar de o assinalar aqui nesta espaço de partilha mas onde não chega o mediatismo e uma certa exacerbada exposição que o face possibilita. Deixamos aqui um texto que corresponde, no essencial, ao publicado na recente edição de Junho do Jornal Folha de Montemor.
A
Poesia é a Voz da Minha Alma
de
José
Carrilho Raposo
Um
Poeta repentista na diáspora
O
poeta popular repentista José Carrilho Raposo acaba de lançar o seu primeiro
livro de poesia, “A Poesia é a Voz
da Minha Alma”, uma edição de autor que teve o apoio da Câmara Municipal de
Palmela, do Centro de Estudos Documentais do Alentejo-Memória Colectiva e
Cidadania (CEDA) e da Junta de Freguesia de Pinhal Novo. A sessão de lançamento
teve lugar dia 26 de Maio, no Auditório da Biblioteca Municipal de Pinhal Novo,
onde usaram da palavra o Presidente da Câmara Municipal, Álvaro Amaro, o
Presidente da Junta de Freguesia de Pinhal Novo, Manuel Lagarto, o coordenador
da edição, Presidente do CEDA e filho do autor, Eduardo M. Raposo, a
Bibliotecária, Isolina Jarro - que apresentou e moderou a sessão – e ainda a
poetisa Maria Vitória Afonso.
O
coordenador do projecto fez o historial do projecto, as dificuldades superadas,
agradecendo os apoios, nomeadamente aos irmãos Carlos e Ricardo – este
ocupou-se da logística gastronómica - e o Amigo João Santos que paginou o
livro, revelando-se um apoio decisivo para a edição nestes timings, bem como
outras presenças e frisando, tal como o Presidente Álvaro Amaro, a importância
de se ter reavido este feriado (do Corpo de Deus) roubado pelo anterior
governo.
Seguiram-se
os Jograis do Alentejo – Ana Neto, EMR, José Carita e Luisa Gonçalves que
apresentaram pequeno excerto do espectáculo “Jograis do Alentejo cantam o Amor
e o Vinho na nossa Poesia Lírica – séculos XI / XXI. Com interpretação cantada
de “Senhora partem tão tristes” (João Roiz de Castelo Branco) e dita de “Credo”
(Natália Correia) e “Conversão do primeiro canto d’Os Lusíadas (…) Vestidos do humano em o de-vinho por uns caprichosos
actores” – Manuel do Vale, Bartolomeu Varela, Luís Mendes de Vasconcelos e
Manuel Luís (séc. XVI), tendo iniciado com um poema do livro, uma bonita elegia
aos animais “Tenho uma cadela preta e um gato branco” por Ana Neto.
José
Carrilho Raposo – que participou na tertúlia de poesia popular nas III Jornadas
Literárias - emocionado disse umas breves palavras de agradecimento.
Francisco
Naia cantou de improviso poemas do livro lançado e temas ligados aos
caminhos-de-ferro, como um tema que não cantava há mais de 10 anos, desde que o
cantou ao seu pai poucos dias antes deste falecer, que emocionou a assistência.
Manuel
Lagarto falou com emoção da importância da poesia na vida das pessoas e da sua
relação com o autor, seu antigo colega de profissão, desde os tempos do namoro
com a sua mulher.
Mª
Vitória Afonso elucidou a assistência da definição da poesia popular conforme
Fernando Pessoa, intervenção que complementou muito bem as restantes.
Vítor
Paulo maravilhou com a sua bela voz e a sua exemplar postura de músico
profissional, interpretando temas do Zeca Afonso, do Cancioneiro Alentejano e
terminou com um bonito tema que musicou de uma autora contemporânea, Alda
Couto, “Desarrumaram-me a casa”.
Finalizou
com todos os intervenientes em palco a cantar a “Grândola” e depois da habitual
sessão de autógrafos seguiu-se um convívio enogastronómico com o autor,
familiares e alguns dos intervenientes e amigos.
Fotos de João Santos
Também outros amigos, que pelas mais diversas razões não lhe foi possível estarem presentes, não quiserem mesmo assim deixar de enviar mensagens como foi o caso do académico e antigo DR do Ensino no Alentejo - e companheiro vice-presidente da MAG do CEDA - Bravo Nico, ausente em São Tomé e Principe, do Constantino Cortes - também dos Órgãos Sociais do CEDA - de Portalegre, do Ferraz da Conceição - secretário da MAG do CEDA - tal como José Francisco Colaço - ambos do Castro Verde e este também associado do CEDA tal como José Ventura Cruz Pereira, antigo Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Odemira, em Milfontes, também antigo DR do Ensino no Alentejo e no Sul, ou do Augusto Lança, de Sines, da edil de Montemor-o-Novo, Hortênsia Menino, do Armando Correia ou da Ana Massas, de Almada ou do grande Amigo de infância, Mário João Ferreira, no Porto,
O
autor e o livro
Como refere na contracapa, o autor nascido em 1936 em Foros
de Vale Lobos, Alvaladade-Sado - no extremo dos Concelhos de Santiago do Cacém,
Aljustrel e Ourique - filho e neto de trabalhadores rurais iniciou a labuta nos
campos a part-time aos nove anos, enquanto tirava a 4ª classe e foi
sucessivamente guardador de gado, trabalhador rural e servente de pedreiro a
partir dos 12 anos.
Idas prolongadas a Sines, na infância, onde o tio era limpador de máquinas
da ferrovia, levou-o a sonhar ser maquinista.
Ingressou nos Caminhos-de-ferro - CP aos 20 anos, depois fez estágio para
factor, na Funcheira, então uma Estação modelo, onde conheceu a Esmeralda, o
grande amor da sua vida e onde nasceu o filho Eduardo. Com a promoção a 2ª
classe rumou à diáspora, estabelecendo-se no Pinhal Novo e posteriormente na
Venda do Alcaide, onde nasceram os filhos mais novos, Carlos e Ricardo.
Trabalhou nas estações de Setúbal, Pinhal Novo e Palmela. Perto dos 50 anos fez
um novo estágio para Regulador e terminou a carreira a chefiar o Posto de
Regulação do Barreiro, das linhas Sul-Sueste.
Foi activista e dirigente associativo – Comissão de Moradores da Venda do Alcaide,
director da Associação de Reformados do Pinhal Novo, representante do MURPI na
ARS de Setúbal, secretário da MAG do CEDA - militante do PCP desde 1974, o seu
partido de sempre. Ao longo da vida conjugou uma postura ética e poéticas
ímpares com uma inteligência superior desaproveitada, nomeadamente na
matemática, fruto do atraso proporcionado pelo ultramontano consulado
salazarista.
Desde cedo teve o gosto pela escrita. Este livro reúne uma parte das muitas
centenas de quadras, sonetos, quintetos, estilhas que, enquanto poeta popular
repentista escreveu ao longo da vida – em papéis soltos, guardanapos, grande
parte deles irremediavelmente perdidos - sobretudo a partir de 1992, quando se
aposentou.
Aqui encontramos ecos de uma tradição milenar mediterrânica de fazer da
palavra falada arte do improviso, onde o amor, o sonho, as questões sociais e
políticas, o trabalho e a natureza, mas também elegias ao 25 de Abril, aos
Encontros do CEDA, às conquistas académicas do filho Eduardo e a muitos
passeios, convívios de grupos de reformados e idosos - que sempre animava com a
sua poesia.
O autor participou na colectânea Os dias do Amor, Um poema por cada dia
do ano, dirigida Inês Ramos, que reúne 365 poetas de todas as épocas e
latitudes que escreveram sobre o Amor (2009) bem como nas 12 edições da
Colectânea Encontros de Poetas Populares editadas pela Junta de Freguesia de Pinhal Novo e viu ainda
diversas poesias suas publicadas na Revista Memória Alentejana, entre
2001 e 2015.
Em breve queremos deixar aqui a partilha do último aniversário do Roque, a 21 de Junho, do espectacular fim de semana passado no Porto, 10 dias antes, nós e a Anita com os Amigos Mário João e Fátima e ainda, breves pinceladas de duas viagens, ainda em Maio, uma delas no início do mês, nós - com o Roque a Almourol, Constância e Rio de Moinhos e outra, mesmo no fim do mês, só com a Anita ao mar de papoilas que então cobriam o chão dos castelos de Juromenha, Terena e as flores de esteva na Serra d' Ossa.