Em quase10 dias percorri alguns dos lugares mais perenes e secretos do Sul: Silves, a cisterna da Moura Encantada e a antiga mesquita de Santa Maria de Faro ou as ruas e ruelas de Tavira onde apreciei o peixe ao luar naquela terra suave que foi Comuna de Pescadores no período derradeiro das terceiras Taifas. Depois a estrada deslizante entre as serranias, deixando a ponte do Guadiana e Huelva para trás, à direita. E, já depois de ter passado a saída para Alcoutim, surge uma tabuleta à esquerda: Mesquita. Travo leve, ligeiro, subtil como os barcos que há mil anos subiam o rio e percorro uma estrada estreita que me leva a uma pequena aldeia perdida nas serras, já não muito longe do Guadiana. Contemple-a, percorro-a e começo a descer uma estrada de terra batida; perco-me nos campos sorvendo a plenos pulmões o odor e a luz das estevas – papoilas de estevas, chamou-lhe o Adelino, e ele sabe do que está a falar, ele que foi pastor e manteve ao longo dos anos essa ligação e serenidade que a Terra e as noites passadas debaixo da Lua nos dá – fico ali, embebedando-me de silêncio… a tal ponto que esqueço as horas, mas como há males que veem por bem, de repente vejo-me em Mértola a comer queijo com pão e a beber vinho na única mesa da esplanada de uma tasca onde não ia à muito.
Tenho o castelo defronte, a poucos metros o amigo arqueólogo Jorge Feio coordena uma escavação. São quatro da tarde, o Sol aquece-me o corpo depois de uma manhã em que as nuvens teimavam em tapar o céu, estou num dos lugares mais bonitos do mundo, e… de repente surge, quase cambaleante o velho pintor-filósofo Mário Elias que se senta comigo e… me fala de ópera, de canto lírico, dá exemplos e… eu recordo-lhe como cantou no 3º aniversário do CEDA e na Evocação de Pedro Ferro, na “Cavalariça”, em Entradas, foi a… 18 de Maio, momento que ficou registado na Memória Alentejana assim:
“E com as cordas vocais afinadas pelo poejo verde alguns sócios fizeram a evocação dos cantares do nosso Alentejo. Mas a arte foi de Mário Elias. Que tenor!”.
Um regresso a casa… sentado, fumando, à soleira da porta, esperando!...
Depois de um fim de tarde na Biblioteca de Beja em busca da memória de Al Mouhatamid Ibn Abbad janto com o amigo antropólogo e poeta José Orta, falamos de poesia e de novos projectos e faça-me de novo à estrada…
No dia seguinte visito apiários com o meu amigo Alex Pirata, tenho uma visão e na manhã do outro dia seguinte encontro a Nina, a sua simpática esposa - agora a atravessar um momento difícil – com quem tomo o pequeno-almoço. A Páscoa aproxima-se, e passo a tarde desse dia em companhia do Mestre das plantas, o jovem José Salgueiro, com apenas 89 anos, a identificar plantas nas margens do rio Almansor, ali para os lados da Barragem dos Minutos e … percorro os montes com o sr. Isidro Rebocho, apicultor e proprietário de uma melaria, preparando “o terreno” para um passeio em Maio.
O dia seguinte é o Dia Mundial da Poesia. Falo e ofereço poesia. Aos amigos. Ao Manel Casa Branca, à Ana, que ficou maravilhada e divulga a todos os comensais o exemplar de Flores da Planície que lhe ofereci, e ao anoitecer vou-me abastecer de mel e de afectos enquanto saboreio aquele licor de poejo único que só o Alex tem.
No sábado parto a caminho do Pomarão. Em Ferreira, encontro a Céu e a Marta, que com o seu vigor de oito anos passa a viagem a jogar à sardinha comigo. Aquele visão única do último porto do Mediterrânico surge de repente e elas ficam boquiabertas e percebem porque valeu a pena a viagem. E depois foi saborear os peixes do rio: a lampreia, as enguias, o bom vinho branco... e o reencontro com a Guika e outros amigos.
No regresso, ao parar frente ao Café Guadiana, e depois vislumbrando a Mesquita no caminho empedrado para a Torre do Relógio recordo o abraço que o Mestre Amigo Cláudio Torres me mandou pesaroso por não estar para almoçarmos e… navego até mais ao Sul, lugares secretos Tânger, Marraquexe –de que nos fala demoradamente o Amigo Cônsul José Alberto Alegria - para onde ele vai no dia seguinte onde tem a sua casa de férias -naquela agradável encontro no domingo anterior no seu atelier de arquitectura – Darquiterra - em Albufeira.
Navego para Sul, no tempo: Beja, Silves, Sevilha, Tânger, Rhmat… regresso de novo a Silves.. é um dia suave de fim de tarde, todavia frio e com vento. Dois homens esbeltos passeiam nas margens do rio, um mais jovem… o seu ar exterior elegante revela uma condição nobre. De repente o mais jovem, olha para o céu e depois para o rio, para as suas águas encrespadas pelo vento frio e diz ao outro, esperando a resposta:
O vento converte as águas
numa cota de malha…
mal decorre uma breve facção de segundo ouve-se uma voz doce, muito doce:
e que é cota de armas
quando o frio a congela!
uma jovem bela, muito bela, de cabelos negros-vermelhos, com leves fios vermelhos, surge de repente. A sua pele é macia, muito macia e clara, a sua boca é uma romã e o seu olhar é um clarão vindo do início dos tempos, os seus olhos são lâmpadas de Aladino que fixam o jovem senhor olhos nos olhos…
O jovem Príncipe treme e… o seu rosto abre-se num sorriso de plena felicidade. Olham-se demoradamente. Felizes, encantados os dois. O Encontro do seu olhar ilumina o fim de tarde, pára o vento, aquece o ar frio e ilumina toda a cidade, o rio, o Palácio dos Balcões, o castelo avermelhado, até ao horizonte.
Ibn ‘Ammâr surpreendido e inquieto pela intrumissão pergunta-lhe:
Que tendes senhor?
Mas ele não o ouve. Apenas vê a jovem, linda. E é a ela que se dirige:
És tão linda…como te chamas?
I’timad senhor…
Princesa I’timad… diz-lhe encantado
2 comentários:
ESTEVAS
Olha
Que flor bonita
Cheirosa
Cheira a qu�?
Diz-me tu
A que cheira
E como se chama
� um malmequer?
� uma rosa?
N�o!
Este perfume
� da flor das estevas
Cheira a terra
um beijinho e um poema para a tua primeira fotografia.
apete�o-te tempos felizes!...
obrigado girassol, pelo teu poema para a minha flor de esteva. Hoje, quase dois meses depois, estas papoilas de esteva - sabes que a papoila e a esteva são os símbolos que eu faria para descrever o Alentejo, são duas flores tão bonitas que juntas... - já estão em quase todo o Alentejo, até no Norte recentemente vi um campo de papoilas.
Tens razão! Apetecem-me tempos felizes!...
Beijinhos para ti
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