23 de jun. de 2011

O aniversário do Roque!...

No dia 21 de Junho, ao nascer do Sol e do dia que marca a chegada do novo Solstício de Verão no hemisfério Norte, o Roque, o meu querido Roque completava três anos, isto é, 1095 dias. Ao final da tarde desse dia com sabor mediterrânico - a temperatura terá ultrapassado os 30º graus centígrados - este dia muito especial era assinalado no Parque da Paz com o piquenique- de que partilho alguns imagens - com alguns familiares mais próximos e... o meu Roquinho estreava a sua primeira e colorida bicicleta - ainda mal chega com os pézinhos aos pedais - que nesse dia lhe ofereci. Mas, mais do que as coisas materiais - necessárias, claro - é o meu carinho, a minha ternura, o meu amor pleno por este serzinho doce, que tenho acompanhado o crescimento atentamente. Gosto como ele me "retribui", não pedindo nada em troca, gritando de alegria quando me vê e, às vezes brindando-me com estas ternas palavras: És tão querido, avô Eduado!


21 de jun. de 2011

"A Poesia da Terra em Monte Maior" ou a sensual beleza da partilha



Como referimos no poste anterior, vamos continuar a dar notícias das últimas realizações ocorridas, na tentativa de em breve estarmos actualizados.


Aconteceu em Montemor-o-Novo nos dias 27 e 28 de Maio de 2011. Foram as 1ªs Jornadas Literárias de Montemor-o-Novo e tiveram lugar na Biblioteca Municipal Almeida Faria. Foram as 1ºs Jornadas Literárias que aconteceram no Alentejo desde que há memória, pelo menos nas últimas décadas. Este acontecimento, não só por ser inovador foi um êxito a todos os níveis.


Por Montemor passaram um conjunto de escritores, poetas, diseurs, investigadores, músicos, bailarinos, editores e moderadores que ultrapassaram uma vintena.

 
Na sessão de abertura Carlos Pinto de Sá, Presidente do Município - entidade organizadora, destacou a importância da realização destas Jornadas, pois “apesar da grave crise económica, o Município continua a apostar fortemente na Cultura” e nós, enquanto co-responsáveis pela realização do evento, realçamos a presença de autores representativos de todo o Alentejo “com posturas estéticas, percursos e vivências geracionais diversas” e lemos uma mensagem de José Luís Peixoto, que lamentado estar ausente, terminava: “O Alentejo precisa disto!”

No primeiro dia iniciou com o painel intitulado:


O Alentejo na criação literária, que abriu com uma intervenção de fundo de João Mário Caldeira, autor de diversas obras de ficção mas também um conhecedor profundas das terras, das gentes e dos costumes do Alentejo, mais especificamente da Margem Esquerda do Guadiana, onde foi director da antiga Escola de Artes e Ofícios Tradicionais de Serpa e que publicou em 2000 um trabalho decisivo para a compreensão da identidade alentejana: Margem Esquerda do Guadiana. As gentes, a terra, os bichos. João Mário lançou algumas questões para o debate de onde se destaca:


1 – Se o Alentejo estimula a criação literária


2 - Se essa realidade favorece a qualidade literária


3 – Até que ponto é determinante a origem alentejana para estes escritores.


Estava dado o mote, para este painel, mas que transpareceu ao longo das jornadas. Depois seguiram-se intervenções de Joseia Matos-Mira, Henrique Matos e João Luís Nabo, tendo este último feito uma intervenção bem fundamentada sobre o tema em dabate, que foi moderado pelo amigo e editor Fernando Mão de Ferro.Após o recital, de Jorge Lino seguramente um dos melhores diseurs portugueses que nos trouxe poemas de Hugo Santos e Evocação aos peixes de Padre António Vieira, seguiu-se uma evocação a José Saramago, tendo como ponto de reflexão Levantado do Chão. Aqui tivemos excelentes intervenções como a de João Céu e Silva, que biografou José Saramago e nos trouxe a poética do jornalista que persegue a “história”, neste caso, por terras de Monte Maior. Ainda neste painel, moderado por Filipe Chinita, Jorge Vaz de Carvalho, Coordenador Científico de Estudos Artísticos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica fez uma intervenção que primou pela excelência, terminando os trabalhos do primeiro dia, que findou com a passagem do filme José Pilar no Teatro Curvo Semedo.A Mulher na Poética Mediterrânica, abriu com Vítor Encarnação, de Ourique, um nome a ter um conta para o futuro das letras portuguesas, que nos trouxe a “encontro” da poética do escritor no universo feminino. Elisa Valério, que se lhe seguiu, poeta e investigadora, deu o contraponto da incursão da mulher no universo masculino: o côncavo e o convexo. António Murteira e Francisco do Ó Pacheco, antigo edil de Sines e antigo director do Diário do Alentejo, trouxeram experiências estéticas e de latitudes diversas, de Abril à experiência africana. Terminou o painel com Elisa Valério sugerindo a realização das segundas jornadas, tal o nível de envolvimento e qualidade atingido.
Jorge Lino


Jorge Vaz de Carvalho, Filipe Chinita e João Céu e Silva









Vitor Guita introduz a leitura de textos na Evocação de João Alface











Ao final da manhã Vitor Guita evocou o escritor montemorense João Alface, numa sala apinhada onde se ouviram textos do homenageado por vozes femininas.

                         Margarida Morgado, André Gago, Eduardo M. Raposo, Manuel Parreira da Silva e Teresa Cuco

O painel da tarde abriu com uma intervenção de actor e escritor André Gago, que partindo do seu romance Rio Homem, falou-nos d ' O Amor, como elemento catalisador da Poesia Lírica desde Camões até à actualidade. A sua intervenção, neste painel que moderamos teve ainda intervenções entusiastas, emotivas de Margarida Morgado, Teresa Cuco e o olhar académico da professora e investigadora Manuela Parreira da Silva.
                                                            Manuel Neto dos Santos, Adel Sidarus e José OrtaO derradeiro painel , sobre A poética do Vinho e a sensualidade no Mundo Mediterrânico contou Adel Sidarus, egipcío copta e académico jubilado da Univeridade de Évora,  que nos falou do vinho no mundo mediterrânico e Manuel Neto dos Santos, poeta e investigador autodidacta de Alcantarilha (Silves) que se tem vindo a especializar na obra dos poetas luso-árabes como Almutâmide e Ibne Amar. Foi moderador José Orta, docente do Instituto Politécnico de Beja.


                                                             Paulo Ribeiro e E. Pablo durante o recital "O Amor e o Vinho"
As 1ªs Jornadas Literárias de Montemor-o-Novo terminaram com um emotivo recital de Música, Poesia e Dança, sobre O Amor e o Vinho, por Paulo Ribeiro, E. Pablo e Elsa Shams, ontem estiveram em destaque Manuel da Fonseca – que foi simbolicamente evocado, Martinho Marques, Paulo Ribeiro, Maria Lascas, Almutâmide, Manuel Alegre, Natália Correia, Florbela Espanca, José Luís Peixoto e Pablo Neruda.
                                                    Elsa Shams e E. Pablo ao som de Almutâmide
Quando o Sol se preparava para encontrar a Lua nos campos de Monte Maior, participantes, oradores e organizadores confraternizavam no pátio da Biblioteca, saboreando petiscos mediterrânicos com vinho tinto.
                                           José Orta no convívio
Estas Jornadas, organizadas pelo Município de Montemor-o-Novo e que tiveram uma muito entusiástica adesão do público – de referir também a excelência dos debates – constituiram um marco e provavelmente um inicio para a divulgação e valorização das Letras Portuguesas feitas por Alentejanos e não só, a tal ponto que houve quem comparasse a importância inovadora deste evento com a instalação em Montemor do “Espaço do Tempo”, que nesse dia comemorava o seu 10º aniversário.


A Poesia da Terra em Monte Maior contou ainda com mostras de livros dos autores presentes e sessões de autógrafos de André Gago, Vítor Encarnação e Manuel Neto dos Santos.

(O texto transcrito corresponde, no essencial, à crónica mensal "À soleira da porta", publicada na edição de Junho do Jornal Folha de Montemor).


e o poema com que terminamos o recital

Credo


creio nos anjos que andam pelo mundo
creio na deusa com olhos de diamante
creio em amores lunares com piano ao fundo
creio nas lendas nas fadas nos atlantes


creio num engenho que falta mais fecundo
de harmonizar as partes mais dissonantes
creio que tudo é eterno num segundo
creio num céu futuro que houve dantes


creio nos deuses de um astral mais puro
na flor humilde que se encosta ao muro
creio na carne que enfeitiça o além


creio no incrível nas coisas assombrosas
na ocupação do mundo pelas rosas
creio que o amor tem asas de oiro amén
                                                         Natália Correia

16 de jun. de 2011

Passeio campestre ... no mês das rosas!...

Nesta longa caminhada solar, neste caminhar para a manhã clara, neste percurso para o dia, luminoso e pleno, de repente percebemos que a ausência já vai longa, Maio, o mês das rosas ficou para trás e já estamos em meados de Junho. Maio passou num ápice; no dia 14, de que hoje vos damos conta aconteceu o VI Passeio Campestre, a 20 e 21 estivemos no Festival Islâmico de Mértola, respectivamente com o Colóquio "Almutâmide e o contexto literário do Garbe al-Andalus (2ª metade do séc. XI) em parceria com o Prof. Adel Sidarus na Feira do Livro e com o espectáculo "Festa Almutâmide da Poesia - Almutâmide, o Príncipe dos Poetas. De beja a Agmat" com o Eduardo Ramos, Rui Afonso, Elsa Shams e António Dias da Silva, no Teatro Marques Duque. A 27 e 28 de Maio estivemos novamente em Montemor, na organização das 1ªs Jornadas Literárias da bela cidade Alentejana: "A Poesia da terra em Monte Maior". No próximo dia 18 de Junho estamos no Auditório da Junta de Freguesia do Feijó, Almada, a partir das 10:15m a apresentar a próxima edição - nº duplo 29/30 da Revista Memória Alentejana, no âmbito de um Colóquio onde vão estar em destaque: "A Água enquanto Direito Humano" e a "Etnomusicologia e o Cante". É nossa intenção ao longo dos próximos dias deixarmos aqui informação sobre estas actividades.
Mas, apesar desta ausência longa de postagens, congratulamo-nos com as mensagens de antigos amigos (as) e a chegada de novos. A todos, Bem Hajam!

                                            VI Passeio Campestre

                                        Pela Ribeira de S. Cristóvão
Entre as Ervas Medicinais, o Moinho, a Moagem e o Cromeleque do Tojal
Com a participação de cerca de meia centena de pessoas, realizou-se no dia 14 de Maio a sexta edição do já tradicional Passeio Campestre, uma feliz conjugação de esforços do CEDA e da MontemorMel, que desde 2006 já possibilitou a algumas centenas de pessoas, montemorenses e forasteiros, mas todos e todas, amantes da Mãe-natureza e da fraterna comunhão com a Terra e a ancestral paisagem humanizada nos suaves e doces campos, dos cursos de água, apiários, melarias, moinhos de água e de vento, fabricas de cortiça, fornos de cal, menires, cromeleques, as ervas medicinais e a beleza dos suaves campos do concelho de Montemor Maior, onde seres humanos, animais e plantas coexistem em harmonia há milhares de anos

Desta vez rumamos até S. Cristóvão e depois de uma visita ao menir e ao cromoleque do Tojal, guiada pelo arqueológo Mário Carvalho (da Ebora M egalithica) iniciámos um percurso junto à ribeira de S. Cristóvão que nos levou ao Moinho de Água de Henrique Gascon, recentemente recuperado, respeitando a traça original, actualmente a servir de habitação de férias e que este pretende pôr a funcionar em breve. Este referiu-nos como é auto-suficiente usando a água da nascente e a energia solar e como se delicia com o silêncio com cântico dos pássaros e o correr da água da ribeira. Foi precisamente junto à minúscula praia fluvial que nos deleitámos à sombra de uma enorme árvore e partilhando fruta, pão, vinho ou os famosos licores de mirtilo e poejo, o bolo com frutos secos, os peixinhos da horta da Ti’ Estina – uma presença já assídua nestes passeios – ou o bolo de mel da Nina Pirata, fizemos deste momento um especial momento de amizade e partilha.
Quem estava “com a corda toda” era o Mestre José Salgueiro, que não obstante as temperaturas superiores a 30º que convidavam a uma retemperadora sesta a que alguns não resistiram, Zé Salgueiro, com os seus 92 anos intensamente vividos, não se cansava de referir os benefícios das diversas plantas que conhece melhor que as palmas das suas mãos e que combatem a doença, preservando até a longevidade, como ele é exemplo paradigmático, que para além de alguma surdez, está activo em todo o seu potencial.
Como falou a tarde inteira, focou os mais diferentes assuntos, nomeadamente a capacidade de algumas pessoas “eleitas” para assimilarem e fazerem uso dos sábios poderes da natureza, referindo-se mais especificamente ao famoso curandeiro Chico Vurtuoso, que ele conheceu desde miúdo, avô da amiga Manuela Rosa, outra grande amante da natureza – que precisamente nesta edição inicia uma crónica sobre ervas medicinais e de um texto exactamente sobre o Mestre Salgueiro, e que é autora de algumas das fotos desta “peça”. A Manuela Rosa estava nas “sete quintas” a fotografar borboletas e outros insectos e flores que vão certamente embelezar o suave blogue “fluir da terra”, de onde retiramos a frase e o poema que surge no programa para este passeio:
Incansável estava também o nosso companheiro da organização destes passeios, o Amigo e apicultor Alex Pirata que resolveu fazer umas acrobacias nas represas da ribeira a montante do Moinho do Conde e… que demonstrou excepcionais dotes para equilibrista. Também quem deu nas vistas e lhe foi solicitado discurso, no lanche realizado no Restaurante “O Chouriço” foi o Amigo Jesus, natural de Saragoça e companheira da AmigaVina (Etelvina Santos), que mantém viva a tradição da pintura no mobiliário tradicional alentejano e que iniciou na edição anterior uma crónica nestes páginas sobre a temática referida.



Depois de uma visita à Moagem, agora inactiva, que foi guiada pela proprietária Sisbela Carvalho, o passeio terminou no referido restaurante com um lanche tradicional patrocinado pela Junta de Freguesia local, onde esteve presente o respectivo presidente António Fitas, que mostrou o seu apreço por iniciativas como estas que praticam a valorização do património natural e humanizado do Alentejo, neste caso concreto do concelho de Monte Maior. Uma palavra também ao Município local que ajudou a divulgação e inscrição através do Posto de Turismo, assim como na feitura do flyer de divulgação, que mais uma vez apresentou uma excelente qualidade gráfica, nomeadamente com a escolha de belas fotografias. Ao responsával gráfico do trabalho, António Pedro, os nossos reiterados parabéns. Por parte da organização, de que assumimos conjuntamente com o Alex Pirata, para o ano haverá um novo passeio… pelo menos tão bom como este… e se for melhor… melhor será.

Ainda parece que estou a ouvir a voz do Mestre Salgueiro…
                                                                                                               Fotos de Manuela Rosa e Eduardo M. Raposo